MUNDO:
Rodrigo Craveiro-Correio Braziliense (WEB).
Publicação: 22/01/2011 09:33 Atualização:
Bin Laden
"Nós repetimos a mesma mensagem a vocês: a libertação de seus prisioneiros nas mãos de nossos irmãos está ligada à retirada de seus soldados de nosso país" Gravação atribuída a Bin Laden, líder da rede terrorista Al-Qaeda
Três meses depois, a França volta a ser assombrada pelo terrorista mais caçado do planeta. Uma gravação de áudio atribuída a Osama bin Laden — e considerada verossímil por especialistas — alerta que o governo francês “pagará caro”, caso não retire suas tropas do Afeganistão. Na mensagem, recebida e divulgada pela TV Al-Jazeera, o suposto líder da rede Al-Qaeda autoriza a milícia fundamentalista islâmica Talibã a executar o cinegrafista Stéphane Taponier e o repórter Hervé Ghesquière. Os dois jornalistas franceses foram sequestrados em 30 de dezembro de 2009, a 60km de Cabul, quando produziam uma reportagem para o programa Piéces a convictions, da emissora de TV France 3.
“A recusa de seu presidente em retirar (as tropas) do Afeganistão é o resultado de sua subserviência à América. E essa recusa é um sinal verde para matar seus prisioneiros”, afirma a voz. “Mas não faremos em um momento que seja conveniente a ele, essa posição lhe custará caro em todas as frentes, na França e no exterior”, completou, referindo-se a Nicolas Sarkozy. “Nós repetimos a mesma mensagem a vocês: a libertação de seus prisioneiros nas mãos de nossos irmãos está ligada à retirada de seus soldados de nosso país”, alerta. A França mantém 3.750 soldados no Afeganistão. Em 27 de outubro, Bin Laden usou uma gravação de vídeo para avisar a França de que sua segurança dependia da retirada do Afeganistão e do fim de “injustiças” cometidas contra muçulmanos.
Enquanto peritos se esforçavam para atestar a autenticidade da gravação, autoridades francesas se apressavam em desafiar o interlocutor. “Estamos determinados a continuar nossa ação em favor do povo afegão, ao lado de nossos aliados”, declarou Bernard Valero, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França. Em visita ao Oriente Médio, a chanceler Michèle Alliot-Marie afirmou que a “França está ao lado de seus aliados a pedido da ONU”. “Penso em nossos reféns no Afeganistão e trabalhamos por sua libertação”, garantiu.
Especialista em Al-Qaeda e advogado de familiares das vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001, o francês Jean-Charles Brisard admite ao Correio que a mensagem parece “crível”. “Bin Laden repete as ameaças feitas algumas semanas atrás contra a França. A novidade é que ele dá luz verde para o Talibã matar os reféns franceses, caso Paris se recuse a abandonar o Afeganistão”, explica. O analista acredita que a gravação certamente afetará as negociações para libertar os jornalistas, mas descarta mudanças na política da França.
Para Brisard, Bin Laden aproveita o fato de o Talibã e a organização Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM) manterem em cativeiro sete franceses. “Bin Laden ainda é ouvido por militantes e simpatizantes, mas isso não aumenta o nível de ameaça na Europa desde 2001”, comenta. Ele reconhece que a Al-Qaeda e seus grupos têm sido incapazes de realizar atentados em solo francês. O advogado percebe uma mudança de foco da Al-Qaeda. “A rede tem se concentrado em alvos ‘suaves’, como cidadãos franceses na região do Sahel (uma pequena faixa no centro-norte da África que inclui Mali, Níger e Mauritânia) e militares no Afeganistão”, acrescenta.
RECEPÇÃO COM OVOS E SAPATOS
A chanceler francesa, Michèle Alliot-Marie, passou um susto ontem quando visitava um hospital na Cidade de Gaza. Cerca de 30 palestinos cercaram o carro da ministra, aos gritos de “Fora de Gaza”. Os manifestantes lançaram ovos e sapatos contra a comitiva. Michèle só pôde seguir viagem após a intervenção das forças de segurança do Hamas, movimento islâmico que controla a região. O motivo da revolta foi uma declaração da chanceler na véspera. Durante reunião com os pais do soldado israelense Gilad Shalit, refém do Hamas desde 25 de junho de 2006, Michèle classificou a captura do militar de “crime de guerra”.
Eu acho...
“Não creio que a Al-Qaeda ataque meu país, ainda que isso seja uma possibilidade. Nós temos descoberto dezenas de células da rede na Europa desde 2001. Bin Laden tem simpatizantes e apoio para atacar. Mas lhe faltam agentes operacionais para tanto. Isso se deve à intensificação de medidas de proteção para preveni-los de entrar na Europa e ao eficiente mapeamento de suspeitos, como elementos que treinaram no Afeganistão e no Paquistão.”
Jean-Charles Brisard, francês especialista em terrorismo e advogado das famílias de vítimas do 11 de setembro de 2001
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