Novo governador reafirma compromisso com as pautas estudantis em seu discurso de posse
O ano começa com retorno positivo às pautas dos estudantes maranhenses. Uma das bandeiras centrais defendida pelos secundaristas durante o processo eleitoral foi destaque no dia 1º de janeiro de 2015, quando o recém-eleito governador do Maranhão, Flávio Dino, em seu discurso de posse, anunciou o decreto que instituirá a gestão democrática nas escolas com eleição direta para diretores.
O compromisso do governo do estado vai de encontro às demandas defendidas na Plataforma Eleitoral da UBES, especialmente no 1º Encontro de Grêmios de São Luís, onde o candidato à eleição foi o único a se comprometer com a juventude.
“Escola é uma coisa tão séria, tão importante, que o diretor não pode ser escolhido só pelo governador, segundo critérios individuais. Vamos ainda neste ano realizar eleições diretas para diretor em todas as escolas estaduais, desde logo convido os prefeitos a fazerem o mesmo nas escolas municipais, de modo que tenhamos escolas plenamente democráticas em nosso estado e a serviço da comunidade”, afirmou Dino em seu discurso de posse.
A diretora da UBES no estado, Jaine Santos, realizou um breve levantamento sobre a real situação das escolas públicas que atualmente estão à mercê do autoritarismo. No trecho final a líder estudantil comenta que “o movimento estudantil do Maranhão escreve uma nova história, vitórias que irão repercutir e mudar a vida de cada estudante maranhense”, diz. Leia na íntegra a nota:
GESTÃO DEMOCRÁTICA – VITÓRIA DE TODOS
Por Jaine Santos*
Muitas pessoas dizem que sonhos se realizam, basta acreditar, porém, poucos realmente acreditam nessas palavras. E os que acreditam enfrentam a descrença da maioria todos os dias. Nesse caso me refiro aos estudantes.
Não é novidade a situação em que atualmente se encontra a educação no estado do Maranhão. Os noticiários estampam a precariedade das estruturas das escolas que chegam a ser de barro no interior do estado. Muito menos tecnologia. 8 em cada 10 escolas no estado não tem nenhum computador. É o último no ranking de infraestrutura escolar do Brasil. Existem 20,7 habitantes analfabetos no estado. A escola maranhense mais tradicional não chega nem a lista das 10 melhores classificadas no ENEM do Maranhão. Temos disputado sequencialmente os últimos lugares em todos os rankings relacionados à educação. Entretanto não há novidade nesses dados. O que não é divulgado nas mídias são as perseguições ao movimento estudantil e seus militantes por gestores autoritários.
Cintra, maior escola do Maranhão, com seus 6.000 estudantes ocupa um local histórico, funciona em uma antiga fábrica que foi adaptada e hoje é a Fundação Nice Lobão. Ela é protagonista dos maiores casos desse enfrentamento. A eleição do seu grêmio estudantil teve a presença da promotora de educação, pois simplesmente o seu diretor discordava. Diretor esse que está à frente da escola há 20 anos interruptos e carrega na bagagem vários processos sobre desvio de verba e assédio. Após eleito e empossado o grêmio aderiu uma campanha contra o autoritarismo desse diretor. Alguns de seus integrantes têm sua entrada proibida fora do horário de sua aula. E por conta disso, o presidente Nélio Lobato aos seus 19 anos, foi 3 vezes processado. Justificativa? Ser militante do movimento estudantil.
Liceu Maranhense, escola mais tradicional do estado, encontra-se no Centro da Cidade e também funciona em um lugar histórico. A lei do grêmio livre não significa nada nesse território. O diretor está à frente da escola há 12 anos e controla todas as decisões do grêmio. Quando a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas juntamente a um grupo de estudantes da escola em um ato em sua porta, ocasionado pelo aprisionamento dos estudantes em um dia de falta d’água, aderiram à pauta de GESTÃO DEMOCRÁTICA – ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETOR houve conversas paralelas com os apoiadores e a entrada de estudantes de outras escolas foi proibida. Esse mesmo grupo se transformou em uma chapa para concorrer às eleições do grêmio e o diretor, em meio a uma ameaça, boicotou as eleições.
Benedito Leite, a escola modelo que não modela nada (está caindo aos pedaços literalmente), encontra-se no Centro da Cidade e também funciona em um lugar histórico. Em seus 114 anos nunca houve um grêmio estudantil formado. E não foi por falta de interesse dos estudantes. A última assembleia geral foi boicotada pelo diretor que liberou os estudantes uma hora antes do horário marcado. Em meio ao trânsito intenso dos estudantes uma assembleia foi improvisada na porta da escola. Porém duas viaturas da polícia que estava tranquilamente rondando aquela área como raramente fazem estacionaram no local, dispersando assim os estudantes. Desde então a entrada de qualquer militante do movimento estudantil é proibida.
Joana Batista, uma escola nova e bem pequena, situada em um bairro periférico. Não há grêmio estudantil e sua gestora também não quer sua formação. Atualmente a entrada de estudantes sem tênis preto ou branco e fora do horário é proibida e tem um pequeno sermão de 15 minutos para poder liberar o estudante. Se ele estiver sem o fardamento nem uma palavra é proferida para ele e sim para seu responsável. Não, a escola não tem ar condicionado. E sim, no Maranhão é muito quente. Na última tentativa de formação do grêmio a líder que descordava da forma como os estudantes vinham sendo tratados foi chamada na sala da direção.
Esses são apenas alguns exemplos de gestores que não representam e não dialogam com os estudantes. Em vista disso, no dia 21 de agosto 2.500 pessoas se reuniram para discutir a escola que queremos. Com o tema “Me Organizando Posso Desorganizar” durante o 1º Encontro de Grêmios de São Luís que parou as escolas da capital do estado para discutir como a organização estudantil já conseguiu grandes vitórias e conseguirá muito mais. Tratamos do nosso principal problema nessa organização, o desrespeito constante ao estudante e sua organização. Foi então apresentado as nossas reivindicações aos candidatos das eleições 2014. Entre elas estavam gestão democrática, estruturação das escolas, contratação de professores, dentre outras.
Muitos não acreditavam, alguns riam de pensar que em territórios maranhenses isso iria acontecer. Acontece que dia 1 de Janeiro foi assinado pelo Governador do Maranhão o projeto de lei Gestão Democrática, que garante a todas as escolas estaduais eleições diretas para diretor pela comunidade escolar. Outro que prevê a extinção de escolas de taipa e do analfabetismo no estado. E garantiu bolsa para material escolar a todos os estudantes.
O movimento estudantil do Maranhão escreve uma nova história, em suas linhas há muitas lutas, passeatas e coragem. Vitórias essas vão repercutir na vida de todos que estavam passando em salas, nas ruas gritando “escola livre sem ditador, quero eleger meu diretor”. Vai mudar a vida de cada estudante maranhense.
“Com as bandeiras nas ruas ninguém pode nos calar.”
* Jaine é diretora regional da UBES no Maranhão e presidenta do grêmio estudantil do Instituto Federal (IFMA), campus Centro Histórico.
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