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sábado, 31 de março de 2018

31 de março. Há 54 anos, o golpe militar de 1964


Hoje, 31 de março, completam-se 54 anos do golpe militar de 1964 que tirou João Goulart da Presidência da República. A Revolução, como ficou conhecido o movimento, permaneceu no poder até 1985. Com a deposição de Jango, vários marechais e generais sucederam-se no comando do Palácio do Planalto. O primeiro foi o marechal Humberto Castello Branco, seguido pelo também marechal Arthur da Costa e Silva. Depois foi a vez de uma junta militar composta por um general, um brigadeiro e um almirante. Em seguida, os generais Garrastazú Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo presidiram o Brasil.
Durante os 21 anos do regime militar, o Congresso foi fechado duas vezes, houve cassação de mandatos de vários políticos, repressão às pessoas contrárias ao golpe, prisão de líderes, tortura em quartéis, mortes, banimentos, restrição às liberdades de reunião e livre expressão, com censura aos meios de comunicação. No período do general Geisel teve início o processo de distensão e abertura política, concluída nos tempos do general Figueiredo. Assim, muitos exilados do Exterior puderam retornar ao Brasil e reintegrar-se à vida política.
Em 1985, por fim, pudemos viver o período de redemocratização, com os civis voltando ao poder, a ocupar novamente o Palácio do Planalto.
Essa imagem aí, de autoria do meu amigo Evandro Teixeira, entrou para história como uma das primeiras a dar face ao golpe militar de 1964. Evandro, à época fotógrafo do Jornal do Brasil, nos conta como conseguiu fazê-la:
O Capitão Leno, que servia no Forte de Copacabana, era meu amigo dos jogos vôlei de praia no Posto 6, onde morávamos. Sabia que estava em curso o movimento para derrubar o governo de Jango. Era ainda a madrugada do dia primeiro de abril quando ele passou em minha casa e disse-me:
– Evandro, tal como eu lhe disse ontem, 31 de março, golpe está acontecendo. E nesse momento está consolidado. Já estou fardado e indo para o quartel. Se você quiser, ajudo a entrar comigo. Fique do meu lado, quando eu bater continência para o guarda sentinela, você se adianta e entra no quartel.  Fique sério porque a situação é grave. Esconda sua câmara sob o colete e seja discreto.
E assim fizemos. Antes, porém, de entrar no Forte, ainda no portão, observei essa cena aí, do soldado com fuzil das costas sob a chuva e, em primeiro plano, uma canhão de reboque. Fiz um ou dois clics e tirei o filme. Coloquei outro e entramos.
Logo depois, já com os primeiros raios de sol, chegava o general Castello Branco, líder do movimento. No comando do quartel, todos queriam fazer uma foto com ele. E o mais interessante é que alguns coronéis, majores e capitães, achando que eu fosse fotógrafo do Exército, pediram que eu registrasse uma pose com o novo presidente do Brasil.
Assim, consegui fazer algumas fotos. Porém, por precaução, o meu amigo capitão Leno, deu-me um sinal com uma piscada de olhos, com receio de que eu – fotojornalista e civil – fosse descoberto e com certeza acabasse preso. Entendi o risco que eu corria e, sobretudo, a importância daquele momento. Dei-me por satisfeito e saí discretamente. Eu não podia imaginar que havia feito uma das primeiras imagens do golpe militar que militar que acabou governando o País por 21 anos.
Só lamento que as fotos do segundo rolo de filme, as do marechal Castello com seu estado-maior, tenham desaparecido nas mudanças de endereço que o JB teve ao longo de sua história. Uma grande perda.
Orlando Brito

50 anos depois de velório histórico, estudantes voltam à Cinelândia

Geração atual encontrou colegas de Edson Luís em ato emocionante


Exatamente no mesmo local de 50 anos atrás, os colegas de Edson Luís chegaram à Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, neste 28 de março de 2018. Diferente daquela vez, eles não carregavam o caixão do amigo entre milhares de pessoas comovidas. Sorriam por se reencontrar, mas protestaram contra o que acontece hoje na cidade e no Brasil. A escadaria se encheu de estudantes de várias gerações dispostos a manter acesa sua luta.
Os adolescentes acenderam velas lembrando o velório de Edson. Naquele dia, durante a ditadura militar, estranhamente a luz acabou na cidade, mas as pessoas das casas doaram lanternas e velas para a marcha passar.
“É graças a vocês, que resistiram durante a ditadura, que temos democracia para estar aqui agora”, disse pouco antes o presidente da UBES, Pedro Gorki, a um deles. João Neto respondeu animado por saber que a resistência estava viva: “Eu era companheiro de Edson Luís porque vim do Norte como ele, e sei o que é o sofrimento do jovem em busca de dias melhores. E o jovem tem direito de sonhar alto. A gente precisava e vocês precisam de condições”. (assista à conversa)
João Neto, colega de Edson Luís em 1968, e Pedro Gorki, presidente da UBES: “o jovem tem o direito de sonhar alto”
Encontro de gerações: colegas de Edson Luís estendem a antiga bandeira da FUEC (Frente Unida dos Estudantes do Calabouço)

Os sonhos de 1968 e os de 2018

Os ex-colegas do Calabouço ainda estão afiados. Conquistaram a democracia, mas continuam esperando mais.“Hoje enfim temos direito de estar aqui falando e nos organizando, porque lutamos por isso. Mas não era esse Estado que queríamos, esse Estado opressor, assassino, que pratica um genocídio contra a população favelada e negra”, discursou um deles.
Geração de 1968: “Lutamos por um Estado democrático, mas não este Estado opressor de hoje”
Além da morte de Marielle Franco e de cinco jovens assassinados em Maricá (RJ), eles denunciaram a intervenção militar do Rio de Janeiro, que colocou o estado novamente sob poder de um general, depois de 33 anos. Falaram também do golpe parlamentar vivido no Brasil.
Durante toda a manifestação, que saiu da Igreja da Candelária e marchou até a Cinelândia, Marielle e os cinco jovens foram lembrados em falas, bandeiras e gritos também contra a violência policial. Ouviu-se muito:
Marielle perguntou
Eu também vou perguntar
Quantos mais têm que morrer
Pra essa guerra acabar


“Pessoas estão morrendo por se posicionar. A morte de Marielle significa que a gente não sabe mais se é seguro estar fazendo isso aqui.” Bruna Helena, diretora da UBES

Cinco em Maricá

Entidades, movimentos e coletivos de juventude aproveitaram para cobrar investigação para o caso dos garotos assassinados em chacina ainda não esclarecida no último domingo (25).
Sávio de Oliveira, Matheus Bittencourt, Marco Jhonata, Matheus Baraúna e Patrick da Silva Diniz tinham entre 16 e 20 anos e eram ativos no movimento cultural da periferia. Além de participarem de grupos de hip hop, tocavam um projeto cultural para crianças e costumavam participar de protestos de esquerda. (Leia nota das entidades)

Educação como projeto

Pedro Gorki: a crise da educação não é uma crise, é um projeto
No dia em que Edson Luís levou um tiro da polícia militar, aos 18 anos, ele protestava contra o preço da comida do restaurante estudantil Calabouço. O jovem vinha do Pará e fazia bicos de faxina para se manter no Rio, como tantos.
Por isso, há 50 anos o episódio é mote para que todo dia 28 de março os estudantes relembrem a luta por educação de qualidade, assistência estudantil e oportunidades. “Como dizia Darcy Ribeiro, a crise da educação não é uma crise, é um projeto”, denunciou o presidente da UBES na concentração do ato.
Mas ele também foi enfático de que a resistência continua de geração em geração: “As balas podem perfurar nossos peitos, mas não podem matar nossos sonhos”.
Por Natália Pesciotta, do Rio de Janeiro
Fotos: Vangli Figueiredo
Fonte: UBES

Por justiça, resistência e liberdade 8º EME da UNE começa em Juiz de Fora

Fotos: Karla Boughoff, Isadora Mendes, Juliana Mastrascusa/Cuca da UNE
Mulheres estudantes de todo o Brasil prestaram homenagens à Marielle Franco e vão debater feminismo até domingo na UFJF
A resistência feminista universitária se encontrou nesta noite (30) no Cine Theatro Central em Juiz de Fora (MG) com centenas de estudantes de todos os Estados do Brasil.

A presidenta da UNE, Marianna Dias, quebrou o protocolo e saudou sua gestão de mulheres feministas. “Para que nós tenhamos tenhamos força, unidade e cada vez mais irmandade para que a gente possa conseguir continuar conduzindo a UNE”.
A abertura do 8º Encontro de Mulheres Estudantes da UNE Marielle Franco trouxe uma mesa de autoridades feministas e Marcos David, reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição que sedia até domingo (01/4) o fórum que vai fdebater o tema Mulheres em Movimento, a resistência feminista na universidade e nas ruas.
Uma mesa de autoridades feministas declarou aberto o 8º EME da UNE 

Ela defendeu a unidade na luta entre os diversos coletivos e organizações feministas que encontram no EME um espaço de fraternidade e sororidade. “Para que a gente saia daqui desse encontro identificando quem são os nossos reais inimigos, que é o sistema e forma de organização social que ainda nos oprime, porque aqui estamos entre amigas, camaradas e jovens mulheres que tem o mesmo sonho, que querem ser livres, que querem lutar por um país melhor e querem dar as gerações futuras um país e uma sociedade muito melhor”, afirmou.
A diretora de Mulheres da UNE, Ana Clara Franco, saudou as caravanas de todas as regiões que vão construir três dias de luta e fazer nesse período da UFJF um território livre de machismo. Ana lembrou da conjuntura difícil de retrocessos para as mulheres nacionalmente.
“Nesse cenário conjuntural colocando o nome da Marielle neste encontro estamos afirmando que essa morte não será silenciada, que quando matarem uma de nós brotaremos como semente, lutando, se movimentando e resistindo. Acreditamos que é no feminismo e pelo feminismo que estamos aqui, que vamos de fato mudar a universidade, o Brasil, o mundo inteiro”, destacou.
Cine Theatro Central em Juiz de Fora lotado de estudantes  de caravanas de todo o Brasil 

A Vice-reitora da UFJF Girlene Silva deu boas vindas a todas as estudantes e também destacou a realidade política de ameaça às universidades.
“ Neste momento que educação pública está sob ataque, a universidade tem sido o principal espaço de resistência. E nós não nos calaremos diante de golpe, de nenhuma tentativa de opressão, de preconceito e discriminação. Falo isso porque a trajetória da mulheres que fazem a UFJF sempre foi de enfrentamento”, disse.

MARIELLE FRANCO? PRESENTE!

Daniela Monteiro, representante do mandato da Vereadora Marielle Franco (PSOL) emocionou o teatro lotado ao relembrar a aguerrida vereança da negra “cria da Maré”. “ Nesse pouco tempo de mandato, a gente foi mais do que a pele da Marielle, mas que o gênero, mais do que sexualidade dela, quando a gente lembra que ela era uma mulher negra, socialista, feminista, bissexual a gente precisa lembrar que a Marielle tinha política e muita. Entramos lá fazendo história de várias formas, era o gabinete que tinha a composição de 80% de mulheres e 70% de pretas”.
Daniela Monteiro

Ela lembrou as lutas por mais mulheres da política e pelo direito à favela da 5ª parlamentar mais votada do Rio de Janeiro.
“Se hoje na esquerda a gente entende cada vez mais a luta pelo direito a cidade como central na nossa luta, vamos olhar para a favela que está lutando pelo direito a vida, pelo saneamento básico, pelo direito de estudar, de fazer uma prova de vestibular e não ter uma operação policial na sua favela e não conseguir descer. Era essa a luta da Marielle”.
A companheira de Marielle Franco, Mônica Benício, enviou um vídeo de saudação as estudantes do EME

A vice-presidenta da UNE Jessy Dayane, defendeu foco nas bandeiras para mudar a realidade das mulheres.
“Que a gente comece esse encontro pensando que nós podemos, nós seremos uma faísca que pode incendiar esse país conquistando muitas mulheres para que não haja mais Marielles assassinadas, para que não haja mais tantas Dandaras morrendo como na nossa história. Para que a gente seja essa faísca que tem a capacidade de mudar os rumos da nação, precisamos apontar quais são as principais bandeiras de luta que essas mulheres aqui vão levar de volta para as suas universidades”, ressaltou.
A rapper Preta Rara fez um apelo emocionado em nome da vida das mulheres negras e sobre os seus espaços de fala.
“Todas as mulheres pretas tem que levar sempre incômodo. Demoramos muito para entrar na universidade, então tá mais do que na hora da gente ter o nosso espaço de falar, porque ó a gente aprendeu a ler hein, ó a gente aprendeu a escrever hein e seremos protagonistas da nossa própria história e é a gente que vai contar a nossa história na universidade e aí a coisa vai ficar preta e quanto mais preta melhor”.

Fonte: UNE

quinta-feira, 29 de março de 2018

Margarida Salomão: O grito surdo nas urnas

Foto: Mídia NINJA
análise de Mauro Paulino e Alessandro Janoni, sobre o Datafolha divulgado no último dia 31 de janeiro, é de uma profundidade raras vezes vista na mídia convencional. Os pesquisadores acertam ao pontuar que o principal dado do levantamento está no inconformismo daqueles e daquelas ante a uma eventual ausência de Lula nas eleições presidenciais de 2018.
Pudera, os números da pesquisa são bastante eloquentes. Mesmo enfrentando sucessivos ataques, Lula lidera, e com folga, em qualquer cenário. Ratifica-se a força do ex-presidente enquanto desmistifica-se a cruzada legal/moral que enfrenta, movida pela Lava-Jato. Mesmo a encenação do julgamento de Porto Alegre não foi capaz de alterar a convicção da população sobre sua inocência.
Retirado seu nome, contudo, nenhum dos outros candidatos cresce. O que há é um aumento significativo – e simbólico – das intenções de voto branco ou nulo. Argumentam Paulino e Janoni, a “possível inelegibilidade do ex-presidente aprofunda a crise de representação no cenário político e lança ainda mais incertezas sobre o pleito deste ano”.
Estão corretos os pesquisadores. Falta, contudo, pontuar historicamente esse fato, bem como ampliar o escopo de seu significado.
Na prática, o que a eventual ausência de Lula fará é que se repita fenômeno já notado nas eleições de 2016, quando o esgarçamento do debate público – provocado seja pelo comando de caça firmado entre o juizado de Curitiba e setores do Ministério Público, seja pela incapacidade de candidatos e partidos apresentarem alternativas políticas efetivamente viáveis – fez com que o número de votos brancos, nulos e abstenções alcançasse índices inéditos.
Novamente, temos aqui números eloquentes. Na eleição da cidade do Rio de Janeiro, mais de dois milhões de pessoas deixaram de dirigir seu voto a um candidato – Crivella acabou eleito com 1,7 milhão de votos. Em São Paulo, o total de brancos, nulos e abstenções foi também superior à votação de Dória. O mesmo repetiu-se em cidades como Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
Em tempos recentes, a comunidade de intérpretes da sociedade busca motivos que justifiquem a ausência de protestos de ruas mais potentes contra os atuais governantes – Temer à frente de todos os demais.
Não há silêncio, mas um grito surdo.
A seu modo, a sociedade demonstra seu inconformismo com a trajetória recente da democracia brasileira. Democracia em conceito amplo, devendo aplicar-se às demais instituições nacionais.
Às intenções de voto nulo, branco ou de abstenção, devem ser somados os irrisórios índices de confiança da população nas instituições brasileiras. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de outubro de 2017 já apontava para a baixa credibilidade do governo federal, Congresso Nacional, mídia, partidos e igrejas.
Nesse rol, insira-se com destaque as instâncias do Poder Judiciário. Segundo a pesquisa da FGV, são as que registraram maior queda de confiança entre todas as instituições elencadas.
Índices que tendem a aumentar, tanto pelo escárnio do julgamento de Porto Alegre, como por um eventual descarte de elementos do Poder Judiciário enquanto instrumento para a instauração das bases da pós-democracia no país.
Não surpreende que os “escândalos” mais recentes, sobre o recebimento de auxílio-moradia, envolvam membros dessa instituição e alcancem mesmo Sérgio Moro. Cumprido o papel, o de condenar Lula, tornou-se dispensável. Marcelo Bretas haveria de ser apenas boi de piranha.
Não que o Judiciário deixe de ser o esteio da pós-democracia. Seu papel ainda é fundamental, seja para que regras e garantias operem segundo as necessidades do neoliberalismo, seja para que tais infrações passem desapercebidas, dando a impressão de que “as instituições continuam funcionando”.
(Eis, em poucas linhas, o roteiro do golpe de 2016.)
Ao cabo, contudo, institui-se um jogo de perde-perde, que retroalimenta o pessimismo quanto a democracia e suas instituições.
Tome-se o próprio Poder Judiciário. Sua versão de verniz legitimador do neoliberalismo faz com que a Justiça do Trabalho brasileira venha sendo dia após dia esvaziada, em poder e em importância – algo reforçado pela recente reforma trabalhista de Temer.
Não é sem sentido, portanto, que alguns políticos vociferem pela sua extinção – o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sendo um exemplo emblemático.
Movimentos tectônicos, subterrâneos e por vezes quase imperceptíveis, justificam tsunamis. São as ondas gigantes que provocam a devastação, mas é o discreto acomodar de solos quem precipita a destruição.
No Brasil dos dias atuais, esses pequenos sismos compreendem todos os breves ataques à ordem democrática no país. O tsunami que vivemos advém da própria pós-democracia e de seus fenômenos associados. Terra arrasada é terreno fértil para o neoliberalismo.
Só há superação deste cenário legitimando-se a democracia brasileira mais uma vez. Um novo pacto há de ser formado, pacto esse calcado no suporte popular em torno de um programa de efetiva reforma do Estado – algo que vai além de uma simples reforma política, portanto.
O esteio para tanto nos remete mais uma vez ao Datafolha. É em Lula que repousa a confiança popular. É ele o vértice de uma aliança a ser construída, que terá a responsabilidade histórica de reconquistar e aprofundar a democracia no país.
Por isso gritamos que eleição sem Lula é fraude. Por isso insistimos em sua candidatura à presidência. Por isso ainda haveremos de muitas vezes ocupar as ruas. Por isso ainda haveremos de alcançar vitória.

Mídia Ninja

[Pra não deixar de ir pra cima, com a consciência de que talvez seja isso que se queira…]

Foto: Daniela Moura / Mídia NINJA
Não foi um atentado contra uma parlamentar, simplesmente –mas contra uma parlamentar de esquerda, que defendia direitos elementares de uma parcela dos cidadãos que tem sido mais humilhada que de hábito.
Não foi num lugar qualquer –mas numa terra sem lei, um faroeste caboclo, antro do que há de pior na pior política praticada neste país.
Não foi numa situação normal –mas em uma cidade ocupada ostensivamente pelas “forças de segurança”, a mando de gente deplorável relacionada a crimes de provas cabais, que se travestiu de autoridade rasgando a Constituição.
Tudo parece claro demais pra ser coincidência. E o jogo de sombras desta tragicomédia de erros tem um roteiro previsível: o desejo de recrudescer, sob o argumento de que é preciso botar ordem nesse barraco.
Não lembro se já falei sobre isso. Mas tudo está claro demais pra ser coincidência. E há um cheiro de Riocentro no ar. Só que, desta vez, vão tentar deixar a bomba no colo do “inimigo” –aquele que pensa em mais que si mesmo, que defende o direito de se ter direitos, que persegue uma utopia chamada democracia.
Fizeram desse país uma República de Bananas, definitivamente. À base de um festival de falcatruas estrelado por quem deveria zelar pra que não fosse assim. E de uma sucessão de cortinas de fumaça que tentam encobrir o que há por trás, sempre –e, aqui, cabe o estado de alerta, mais uma vez.
Uma República de Bananas ungida sob as bênçãos das grandes corporações da mídia e dos patos-patetas-patéticos de camisas-amarelas, que dá mais um (o definitivo?) passo firme adiante, num triste momento histórico, em direção ao abismo.
Esta pocilga, senhoras e senhores, virou um circo. E os palhaços seguimos aqui. Ladies and gentlemen, sejam bem-vindos ao Gran Circo dos Horrores Infinitos. Estrelando a elite mais tacanha (como atiradora de facas?), os políticos mais grotescos (equilibristas na corda bamba?) e (na sala dos espelhos?) a justiça mais inepta do universo!
Na apoteose, a #PERGUNTAqueNÃOquerCALAR: não seria uma boa hora para o circo pegar fogo? Mas cabe perguntar mais, enquanto se pode: uma boa hora pra quem, cara pálida?!
Tem um cheiro estranho no ar. E uma nova bomba pode ter sido armada. Usando-se Marielle como pavio…

MÍDIA NIJA

Jean Wyllys: Há extremismos e extremismos, não é?


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Fiquei sabendo hoje, por um artigo da Folha, sobre uma dona cujo nome não me lembro, que criticou meu “extremismo de esquerda”. A pessoa se apresenta como “socialite”, eufemismo gourmetizado para “rica que não precisa trabalhar”, é sogra de um jogador de futebol e, segundo a matéria, coordena grupos de WhatsApp com “influencers” que simpatizam com políticos não tão “extremistas”, dentre os quais se destaca o deputado fascista que defende a tortura, reivindica a ditadura, odeia as minorias e é réu por apologia ao estupro.
Há extremismos e extremismos, não é?
Eu nem sabia da existência dela, já que, confesso a vocês, nunca tive interesse na vida de “socialites” e mães de noivas de jogadores de futebol. Contudo, fiquei admirado pela relevância que alguns atribuem ao entretenimento dessa pessoa e seu grupo de “influencers”. Na verdade, o que é macabro é o que se esconde por trás dessa superficialidade chique, ou cafona: uma elite egoísta que, no tempo livre, flerta com o fascismo.
Por conta de seu nível rasteiro de politização e de sua identificação com os valores que pretendem perpetuar a desigualdade social, o sequestro do sistema político pelas elites para que garanta de seus privilégios, barateando a mão-de-obra dos trabalhadores pobres e erradicando direitos sociais; eu tomei o fato de ela me chamar de “extremista de esquerda” como um elogio! Obrigado!
Eu sinto, de fato, uma extrema rejeição por esse empresariado paulistano que está em seus grupos de WhatsApp e celebra a brutalidade de um pré-candidato a presidente que é um energúmeno que nada sabe nem propõe em termos de política econômica, saúde, educação, transporte, ciência e tecnologia, segurança pública e desenvolvimento sustentável, e que, além disso, é misógino, autoritário e homofóbico. A identificação dessa elite com tal candidato e o fato de a administradora desses grupos me considerar “extremista de esquerda” diz muito acerca deles, que tiveram todos os privilégios, que poderiam ter aproveitado para estudar e alcançar a “vida com pensamento”, mas são capazes de apoiar um candidato fascista e bruto porque acham que um governo dele poderia ser bom para seus interesses particulares. Foda-se o país, pensam; o que importa é minha conta bancária!
Não deixa de ser significativo — e deve certamente incomodar os que pertencem às capitanias hereditárias e gostam de falar em “meritocracia”, embora seus privilégios nada tenham a ver com seus “méritos” — o fato de eu, que nasci na extrema pobreza, filho de um pai negro que abusava de álcool devido à miséria e de uma lavadeira, que comecei trabalhar aos dez anos, gay desde sempre, que estudei em escolas públicas, conciliando estudos e trabalho e enfrentando o bullying, e que me formei jornalista e mestre em Letras e Linguística, tendo sido sempre o melhor aluno da classe; não deixa de ser significativo que eu, com essa história, hoje exista para a socialite e seus grupos e os incomode em minha existência e mobilidade social.
Eu sou um exemplo do país que eles detestam e gostariam de ver subalterno. Eu sou o resultado das transformações de um país, graças a políticas públicas e leis elaboradas por pessoas, partidos e movimentos sociais de esquerda. Eu sou resultado de uma democratização à qual essa gente não parece muito simpática. E eu sou um homossexual, que veio da pobreza e fez a mobilidade social, graças a suas habilidades e competências, mas que nem por isso defende a “meritocracia” de exceção que eles reivindicam, embora esteja moralmente mais habilitado para falar de meritocracia do que essa elite com fortunas herdadas ou construídas na base da exploração do trabalho alheio e a subserviência de governos corruptos; essa elite que virou dona do país, inclusive alguns que não fizeram nada importante na vida.
O fato de a socialite saber quem eu sou e me citar na entrevista — quando, para mim, até então, ela não existia como indivíduo — é muito significativo do quanto nossas conquistas sociais incomodam essas pessoas. Fico feliz por ela me considerar um “extremista de esquerda” (enquanto os reais extremistas de esquerda me chamam de “reformista” ahahaha). Vindo dela, é elogio, volto a dizer. Para mim, ela não passa de uma ignorante motivada cuja dinheiro não lhe refinou o espírito nem ampliou seu repertório cultural: apenas aprofundou sua cafonice e lhe deu mercadorias.

Fonte: Mídia Ninja

terça-feira, 27 de março de 2018

"É HOJE!" - Professores discutem em assembleia alterações no plano de saúde


Professores e professoras da UERN discutem em assembleia as alterações no regime de plano de saúde da categoria.  O debate será realizado amanhã (27), a partir das 15h na sede da ADUERN, em Mossoró.
O plano de saúde dos servidores, hoje administrado pela gestão da universidade, deverá passar por alterações contratuais. As mudanças, propostas e possibilidades acerca do serviço serão amplamente apresentadas e debatidas junto à categoria.
Confira abaixo a convocação para assembleia:
ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA
C O N V O C A Ç Ã O
A Diretoria da Associação dos Docentes da UERN – ADUERN/Seção Sindical do ANDES/SN, no uso de suas atribuições legais e regimentais, CONVOCA todos os professores da UERN para participarem da Assembleia Geral Extraordinária, que se realizará na Área de Lazer Prof. FRANCISCO MORAIS FILHO, no dia 27 de março de 2018, terça-feira, em primeira convocação, com 20% do número de sindicalizados, às 14:30min; em segunda convocação com 10% do número de sindicalizados, às 14:45min; ou, em terceira e última convocação, com qualquer quórum, às 15:h, oportunidade em que serão apreciados os seguintes pontos de pauta
  1. INFORMES;
  2. PLANO DE SAÚDE
Mossoró (RN), 23 de março de 2018
Profª. Rivânia Lúcia Moura de Assis
Presidenta

Nota de repúdio à chacina de cinco jovens em Maricá-RJ


A Federação exige apuração do crime contra os cinco jovens e se indigna com a violência no Rio de Janeiro e em todo o país que extermina a juventude.

A FASUBRA Sindical repudia veementemente a chacina de cinco jovens na cidade de Maricá-RJ, ocorrida no último domingo, 25. Sávio de Oliveira de 20 anos, Matheus Bittencourt, de 18, Marco Jhonata, de 17, Matheus Baraúna, de 16 e Patrick da Silva Diniz foram assassinadas a tiros dentro do conjunto residencial Carlos Marighella, onde moravam.

As características do crime e diversas denúncias indicam que a morte dos jovens tenha sido  por ação policial. As armas utilizadas eram pistolas calibre 380, todos os tiros foram desferidos na cabeça das vítimas e seus corpos perfilados.

O local da barbárie é uma unidade do programa “Minha casa, minha vida”, no distrito de Itaipuaçu, destinado à população de baixa renda. Os jovens foram sepultados na tarde de segunda-feira, 26, no cemitério municipal de Maricá-RJ, em clima de dor e indignação.

A Federação exige apuração do crime contra os cinco jovens e se indigna com a violência no Rio de Janeiro e em todo o país que extermina a juventude. Neste momento é importante tomar as ruas em defesa do direito à vida, em defesa dos direitos sociais, assolados pela violência e Estado de exceção estabelecidos no país.

Maricá presente!

Direção Nacional FASUBRA Sindical

"RESGATANDO A HISTÓRIA E A LUTA!" - EDUARDO VASCONCELOS - Para geração de Edson Luís, é momento da sociedade se posicionar de novo


Juca Ferreira, Marcos Mello e Bernardo Joffily, lideranças secundaristas quando estudante foi assassinado, falam sobre execução de Marielle e condenação de Lula.

O que a execução da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, tem em comum com a morte do estudante Edson Luís, em março de 1968? Nada melhor do que perguntar para quem viveu os dois momentos.
“São contextos muito diferentes, mas semelhante é a repercussão e a comoção”, arrisca Juca Ferreira, que hoje é secretário de Cultura em Belo Horizonte, mas que 50 anos atrás era liderança secundarista.
“Eu estava na Bahia, tinha 19 anos, e quando Edson Luís foi morto por um policial durante um protesto, a repercussão foi imensa no Brasil todo. Foi um momento de tomada de consciência. Momentos trágicos, em geral, sacodem a sociedade”, analisa o sociólogo.
Naquela época, o povo brasileiro se organizou pela primeira vez contra a Ditadura Militar, depois de quatro anos, na Passeata dos Cem Mil. Juca é otimista de que hoje também a população esteja se conscientizando:
“Percebo a perplexidade que as pessoas têm manifestado. A sociedade está mobilizada, tem luta quase que diariamente”.
Para quarta (28/03), 50 anos depois da morte do estudante, um grande protesto está marcado no Rio de Janeiro: “Por Marielle, por Edson! Pela Educação e Contra a Intervenção”.
Leia também:



Passeata dos Cem Mil, junho de 1968: pós morte de Edson Luís, sociedade se uniu contra Ditadura

Violência e solidariedade

Marcos Mello também era secunda quando Edson Luís morreu e também chegou a presidir a UBES naquele período, como Juca. E também vê o episódio trágico como “catalisador da luta contra a ditadura”.
“É um acontecimento simbólico, como essas fotos que retratam uma época inteira: combina a violência brutal, tão entranhada na sociedade e no aparato estatal do nosso país, com a coragem, a solidariedade e o espírito guerreiro da nossa gente”, comenta Bernardo Joffily, que era vice-presidente da UBES na época.

Morte de Edson Luís: “Acontecimento simbólico, como essas fotos que retratam uma época inteira.” Bernardo Joffily, vice-presidente da UBES 1968

Execução de Marielle Franco: “A realidade tem como semelhança com aquele período de 1968 a volta do controle da aristocracia.” Marcos Mello, ex-presidente da UBES em 1968

Depois da ditadura, outro golpe

Os três veem ainda de forma parecida o momento do País hoje.
“A realidade tem como semelhança com aquele período de 1968 a volta do controle da aristocracia, se manifestando nas várias formas de repressão contra as forças progressistas”, coloca Marcos.
Eles se referem tanto à execução da Marielle Franco quanto à condenação sem provas do ex-presidente Lula.
Juca completa: “Com o impeachment de Dilma Rousseff, se inicia um processo de golpe que não está concluído ainda. Eles já tinham perdido quatro eleições e iam perder mais duas. Agora querem artificialmente tirar Lula das eleições e cercear a liberdade de escolha. Temo que não tenham pudor de apelar para violência ainda mais explícita”.
Bernardo Joffily: “Hoje, como em 1964, vivemos um surto direitista. A execução de Marielle e a condenação de Lula são bem ilustrativos”.

Momento decisivo

É “dolorido” viver este cenário depois de ter superado uma ditadura, para Marcos. “Confesso que surpreendeu esta degradação política e interrupção da vida democrática”, diz Juca. Mas eles são otimistas com o que vem a seguir.
“Estamos em um momento muito decisivo para o futuro do país. É um momento difícil, mas que o povo brasileiro tem condições de vencer”

Juca Ferreira, ex-presidente da UBES
Artistas durante Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968
Fonte: UBES