Parlamentar atuava em defesa de negros e pobres e denunciava a violência contra essa população. Ela era uma das relatoras da comissão instalada na Câmara Municipal para acompanhar a atuação das Forças Armadas durante intervenção militar federal no Rio
A vereadora do Psol no Rio de Janeiro, Marielle Franco, 38 anos, foi brutalmente assassinada a tiros, na noite de quarta-feira (14), na região central do Rio de Janeiro. O motorista que conduzia o carro em que estava, Anderson Pedro Gomes, também foi alvejado e morto. Uma terceira pessoa, assessora da vereadora, que estava no veículo e sobreviveu ao atentando. O caso ganhou ampla repercussão na imprensa nacional e internacional.
Mulher, negra, mãe, vereadora, nascida e criada na favela da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle tinha atuação pautada em defesa de negros e pobres e denunciava a violência contra essa população. O crime foi cometido quatro dias após a vereadora e moradores da favela de Acari denunciarem a morte de dois jovens e os abusos cometidos por policias do 41º Batalhão da Polícia Militar (BPM) na favela, localizada na Zona Norte do Rio, cerca de 25km do centro da cidade. Segundo a vereadora, em rede social, o batalhão estaria "aterrorizando e violentando moradores de Acari". Foi em Acari, também, que ocorreu a morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, em março do ano passado, enquanto tomava água no bebedouro do pátio da escola.
Marielle também era uma das relatoras da comissão instalada na Câmara Municipal para acompanhar a atuação das Forças Armadas durante intervenção militar federal no Rio de Janeiro.
Crime
Segundo as primeiras informações divulgadas pela polícia, homens armados em um carro emparelharam ao lado do veículo onde estava a vereadora e dispararam. Marielle foi atingida com pelo menos quatro tiros na cabeça. A perícia encontrou nove cápsulas de tiros no local. Os criminosos fugiram sem levar nada.
No início da noite, horas antes do crime, Marielle Franco havia participado de um evento de apoio a mulheres negras chamado "Jovens Negras Movendo as Estruturas" na rua dos Inválidos, na Lapa, centro da cidade. Na ocasião, ela lembrou da oportunidade que teve em um cursinho de pré-vestibular no complexo da Maré, considerada uma das maiores favelas do mundo, para ter alguma chance nos vestibulares mais concorridos do Rio de Janeiro.
Repúdio
Diversos partidos, entidades, associações e sindicatos, como o ANDES-SN, se manifestaram diante da execução da vereadora e de seu motorista. O Partido Socialismo e Liberdade (Psol), ao qual a vereadora era filiada, manifestou o seu pesar pelo assassinato de Marielle e Anderson e exigiu apuração imediata e rigorosa do crime. “A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Não podemos descartar a hipótese de crime político, ou seja, uma execução”, denunciou o partido.
A diretoria do ANDES-SN, em nota, lamentou profundamente a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes. “A luta pelos direitos humanos, incluindo a denúncia da violência policial no estado do Rio de Janeiro, era uma das bandeiras empunhadas por Marielle Franco, e o ANDES-SN manifesta grande preocupação a respeito desta tragédia, que ocorre no momento em que há um aumento da militarização do estado do Rio de Janeiro, o qual se encontra sob autoritária intervenção das forças armadas”, diz um trecho da nota. Veja a nota do ANDES-SN na íntegra.
Protestos e homenagens
O assassinato da vereadora gerou uma onda de revolta, solidariedade e protestos por todo o país. Em mais de 10 cidades serão palco de manifestações durante contra o crime e o genocídio da população negra. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Salvador, Belém, Curitiba e Florianópolis são alguns dos lugares onde ocorrem os atos. Na capital fluminense, milhares de pessoas se reuniram em vígilia durante o diam na Cinelândia, em frente à Câmara Municipal, onde os corpos estão sendo velados desde o início desta tarde. No final do dia, os manifestantes devem se concentrar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O enterro deve acontecer no final da tarde no Cemitério do Caju.
Em Brasília (DF), deputados fizeram nesta quinta um ato na Câmara dos Deputados em homenagem à vereadora Marielle Franco. Os parlamentares caminharam em direção ao Plenário da Câmara, onde houve uma sessão solene, que foi acompanhada por centenas de manifestantes. O deputado Jean Willys protocolou pedido do Psol para formação de uma comissão parlamentar para acompanhar a apuração do crime.
No Fórum Social Mundial, que acontece em Salvador (BA), de 13 a 17, os participantes também realizaram ato pela manhã para protestar contra o assassinato da vereadora e em defesa da vida da população negra e pobre.
Repercussão internacional
O assassinato de Marielle foi notícia em diversos veículos de comunicação como o The Guardian, BBC, El País, The New York Times, Washington Post, Telesur e Clarín. O Sistema Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nota sobre o assassinato da vereadora e cobrou das autoridades brasileiras rigor nas investigações. A Anistia Internacional e a Human Rights Watch também lamentou o crime e pediu investigação imediata e rigorosa do crime. Eurodeputados também realizaram manifestação, no Parlamento Europeu, em homenagem à Marielle.
Marielle Franco, presente!
Socióloga e mestre em administração pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Marielle Franco foi a 5º vereadora mais votada do Rio de Janeiro, com 46,5 mil votos, e a mulher mais votada na última eleição municipal. Marielle tinha uma atuação marcante na defesa de direitos sociais e humanos, contra discriminações raciais e de denúncia de abusos policiais nas incursões em favelas. Militante das causas feministas e LGBTs, participou da construção do ato do Dia Internacional das Mulheres no Rio, que condenou o decreto do governo federal de intervenção militarizada na segurança fluminense. Na Câmara de Vereadores, presidia a Comissão de Defesa da Mulher.
Com informações de agências de notícias e Aduff SSind.
Fotos: 01 Divulgação PSol; 02 e 03 ANDES-SN, 04 Aduff SSind / Luiz Fernando Nabuco
Fonte: ANDES-SN
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