Geração atual encontrou colegas de Edson Luís em ato emocionante |
Exatamente no mesmo local de 50 anos atrás, os colegas de Edson Luís chegaram à Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, neste 28 de março de 2018. Diferente daquela vez, eles não carregavam o caixão do amigo entre milhares de pessoas comovidas. Sorriam por se reencontrar, mas protestaram contra o que acontece hoje na cidade e no Brasil. A escadaria se encheu de estudantes de várias gerações dispostos a manter acesa sua luta.
Os adolescentes acenderam velas lembrando o velório de Edson. Naquele dia, durante a ditadura militar, estranhamente a luz acabou na cidade, mas as pessoas das casas doaram lanternas e velas para a marcha passar.
“É graças a vocês, que resistiram durante a ditadura, que temos democracia para estar aqui agora”, disse pouco antes o presidente da UBES, Pedro Gorki, a um deles. João Neto respondeu animado por saber que a resistência estava viva: “Eu era companheiro de Edson Luís porque vim do Norte como ele, e sei o que é o sofrimento do jovem em busca de dias melhores. E o jovem tem direito de sonhar alto. A gente precisava e vocês precisam de condições”. (assista à conversa)
Os sonhos de 1968 e os de 2018
Os ex-colegas do Calabouço ainda estão afiados. Conquistaram a democracia, mas continuam esperando mais.“Hoje enfim temos direito de estar aqui falando e nos organizando, porque lutamos por isso. Mas não era esse Estado que queríamos, esse Estado opressor, assassino, que pratica um genocídio contra a população favelada e negra”, discursou um deles.
Além da morte de Marielle Franco e de cinco jovens assassinados em Maricá (RJ), eles denunciaram a intervenção militar do Rio de Janeiro, que colocou o estado novamente sob poder de um general, depois de 33 anos. Falaram também do golpe parlamentar vivido no Brasil.
Durante toda a manifestação, que saiu da Igreja da Candelária e marchou até a Cinelândia, Marielle e os cinco jovens foram lembrados em falas, bandeiras e gritos também contra a violência policial. Ouviu-se muito:
Marielle perguntouEu também vou perguntarQuantos mais têm que morrerPra essa guerra acabar
Cinco em Maricá
Entidades, movimentos e coletivos de juventude aproveitaram para cobrar investigação para o caso dos garotos assassinados em chacina ainda não esclarecida no último domingo (25).
Sávio de Oliveira, Matheus Bittencourt, Marco Jhonata, Matheus Baraúna e Patrick da Silva Diniz tinham entre 16 e 20 anos e eram ativos no movimento cultural da periferia. Além de participarem de grupos de hip hop, tocavam um projeto cultural para crianças e costumavam participar de protestos de esquerda. (Leia nota das entidades)
Educação como projeto
No dia em que Edson Luís levou um tiro da polícia militar, aos 18 anos, ele protestava contra o preço da comida do restaurante estudantil Calabouço. O jovem vinha do Pará e fazia bicos de faxina para se manter no Rio, como tantos.
Por isso, há 50 anos o episódio é mote para que todo dia 28 de março os estudantes relembrem a luta por educação de qualidade, assistência estudantil e oportunidades. “Como dizia Darcy Ribeiro, a crise da educação não é uma crise, é um projeto”, denunciou o presidente da UBES na concentração do ato.
Mas ele também foi enfático de que a resistência continua de geração em geração: “As balas podem perfurar nossos peitos, mas não podem matar nossos sonhos”.
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