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segunda-feira, 26 de março de 2018

A falsa imparcialidade das instituições internacionais – Por Eduarda França

Autoria desconhecida. Google imagens

O Banco Mundial divulgou na última quarta-feira (7) o relatório� Emprego e Crescimento: A Agenda da Produtividade, no qual traz uma série de sugestões econômicas para o crescimento do Brasil. Como prioridade, o banco sugere maior abertura de mercado para o capital estrangeiro, acompanhada de uma reforma nas regulamentações empresariais, visando aumentar a concorrência. Outra proposta apresentada pelo estudo é a de que o Mercosul reduza em 50% a tarifa para países fora do bloco. Tais conclusões foram apresentadas pouco tempo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dar início às práticas de políticas protecionistas no país, tendo anunciado recentemente uma nova tarifa global de 25% para a importação de aço e de 10% para o alumínio comprado de vários países, causando ameaças de represálias por parte dos produtores.
Uma rápida pesquisa a respeito do Banco Mundial é suficiente para tirar o espanto de qualquer pessoa acerca do fato de que uma instituição a qual os grandes veículos de comunicação costumam categorizar como “imparciais e isentas” ignore completamente os fatores sociais e a soberania do país, dispondo-se, em vez disso, a centralizar o problema na suposta falta de capital estrangeiro no país, visando o total desmonte do Estado brasileiro como solução. Cabe ressaltar aqui que não seria inédito descobrir qualquer interferência do Banco Mundial que possa ser prejudicial à América Latina: Em janeiro deste ano, dirigentes do órgão tiveram que enviar um pedido de desculpas ao Chile, após seu economista-chefe, Paul Romer, admitir em entrevista ao Wall Street Journal que a instituição havia operado uma série de manipulações de dados por vários anos com motivações políticas em um de seus estudos mais importantes, “Doing Business”.
Segundo Romer, o método de elaboração do ranking do relatório havia sido alterado diversas vezes de forma a apresentar resultados negativos para vários países, entre eles o Chile, durante o governo socialista da presidente Michelle Bachelet (2014-2018). Cabe aqui observarmos que a gestão de Bachelet é marcada por medidas populares, como a conquista do ensino superior público universal. À beira de deixar o cargo, a presidente apresentou ao Congresso chileno um pacote legislativo que se propõe a substituir a Constituição atual por um novo documento que garante, por exemplo, o direito dos trabalhadores à greve e o pagamento igualitário entre homens e mulheres: medidas que podem ser incômodas aos grandes empresários. Observemos também que no mandato de seu antecessor, o liberal Sebatián Piñera, o país recebeu resultados favoráveis no mesmo ranking.
Esse tipo de acontecimento tem a utilidade, talvez, de concretizar a desconfiança que muitos de nós temos em relação às instituições internacionais. Como diz Eduardo Galeano na introdução do livro As Veias Abertas da América Latina: “Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder”. E assim continua sendo. O ocorrido no Chile pode muito bem parecer análogo ao que ocorreu no país no segundo mandato de Dilma Rousseff, quando a grande mídia bombardeava o cidadão brasileiro cotidianamente com diferentes notícias discutindo a atual crise econômica a partir da homogênea visão exclusivamente mercadológica da grande mídia, época na qual estas mesmas agências de classificação de risco passaram a rebaixar a nota do Brasil sucessivamente.
É a partir desta análise crítica que se justifica a suspeita de que estas agências operem, realmente, em função dos interesses especulativos do capital, em detrimento da população desses países e de seu desenvolvimento. Observa-se, portanto, a necessidade de denunciar o caráter imperialista destas instituições e de desmistificar a suposta neutralidade científica que costuma ser atribuída a elas, e para além disso, popularizar uma outra visão da economia para além dos aspectos de mercado, ao qual costuma se ater a grande mídia.
Fonte: UJS - Por 

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