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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Expulsões e suspensões nas universidades por conta de manifestações


Por: Sara Puerta


Dois casos envolvendo punições a estudantes tem chamado a atenção nas universidades estaduais paulistas e campanhas ferrenhas nas redes sociais e nos campi tem mobilizado a sociedade. Um dos casos acontece na unidade de São Carlos da USP, contra a expulsão de nove estudantes. 

O reitor Marco Antônio Zago entrou com processo administrativo disciplinar contra eles por conta da a ocupação no prédio da Prefeitura do campus, em defesa do alojamento estudantil ligado à Universidade, ocorrida entre os dias 31 de março e 12 de abril . 
A mobilização reivindicava  reparos e manutenção das condições e instalações do alojamento, fim da perseguição aos estudantes, reconhecimento da Autogestão e adequação no trabalho das funcionárias da limpeza

A desocupação aconteceu de forma pacífica  - com total preservação do patrimônio  - e com acordo entre os manifestantes e os diretores da universidade. Na ocasião e com a presença de dois oficiais de justiça, foi decidido não punir nenhum estudante.

Conforme citado em vídeo gravado pelos estudantes, o reitor os acusa de violar artigos do Código de Ética e do Regimento da USP, que - conforme contam - foi escrito durante a ditadura militar e que fere a Constituição brasileira aprovada em 1988.

No último dia 03, Caio Cesar Nascimento Moreira, Camille Stella, Jeanne Vilella, Luccas Nepomuceno, Mateus Fumes e Wesley Wolak reforam notificado dos processos E na segunda feira passada, 08.05, mais três estudantes : Caio Marinho, Maiara Serra e Gabriel Vedovello. Caso seja decidido pela comissão julgadora, eles podem ser expulsos.

Em contato com Vedovello,que cursa licenciatura em Ciências Exatas, ele diz que sequer participou da ocupação do prédio. Ele confirmou apoio à ocupação, que considerou ter reivindicações legítimas, porém questiona a forma que o acusaram. 

" Nas fotos do processo,eu estava na frente do prédio apenas perguntando o que acontecia e em outra passava pela manifestação. Porém, acredito que me incluiram por conta de uma forte mobilização que travamos recentemente contra o fechamento da creche do campus. Me tornei uma figura visada para eles", contou o estudante  à UEE-SP. 

A defesa dos estudantes também alega que sequer houve qualquer dano ao prédio e conforme acordado na desocupação, não haveria retaliações aos alunos que participaram da ocupação. Para os estudantes a mobilização foi bastante vitoriosa para os alojamentos: reivindicações foram acatadas como a autogestão, manutenção de vagas e mais funcionários da limpeza.

Um dos estudantes  ouvidos também alega que a grande maioria do Campus é contra a expulsão deles (abaixo assinado contra)  e denuncia a forma como é feito o julgamento deles: O reitor Zago faz a denúncia, escolhe quem faz parte de comissão que avalia o processo e pode revogar a decisão senão estiver de acordo.
Conforme informações os estudantes tem até a próxima quarta feira para apresentar a defesa.

Já na Unicamp, o estudante de Geografia, Guilherme Montenegro, que participou da grande  greve na universidade no ano passado (por implementação de cotas, contra os cortes na educação e por mais políticas de permanência) foi punido com dois semestres de suspensão na universidade.

Entre as diversas ações dentro da greve que chegou a alcançar 18 unidades das 24 totais da Unicamp, estavam intervenções na sala de aula. Montenegro conta que foi fotografado e filmado apagando a lousa durante uma aula não oficial de um professor.

"Minha imagem foi exposta! Fui alvo de racismo nas redes sociais e até ameaças de morte por grupos de extermínio. A Unicamp usou essas imagens para abrir um processo disciplinar contra mim, que desencadeou na decisão de suspensão". 

Montenegro contou que a comissão que avaliou foi um "juri de inquisição" já preparada para punir antes mesmo da análise do processo. 

"A Unicamp  age com perseguição aos estudantes que se mobilizam e a maioria dos estudantes processados são negros.Vejo que a perseguição está casada com a luta pela implementação das cotas. Conforme lutamos por mais alunos negros, a reitoria parece querer tirá-los. Isso é mais uma expressão do racismo institucional", afirmou.
A advogada do DCE da universidade está recorrendo à punição. 

Nota da UEE-SP

A UEE-SP repudia a expulsão dos estudantes da USP São Carlos, a suspensão do estudante de geografia da Unicamp e a criminalização do movimento estudantil, que incessantemente se mobiliza contra o sucateamento da educação. É Inaceitável que os discentes da universidade tenham sua graduação comprometida por estarem em defesa dos seus direitos.

O movimento estudantil deve ser amplificado e que fomente o diálogo com a  dirigência da universidade. A repressão à sua livre organização e expressão demonstra que vivemos tempos que remetem à ditadura.

O movimento estudantil constrói uma universidade mais democrática e justa, uma educação com mais qualidade e completa. Reiteramos nossa luta contra o silêncio que tentam impor às nossa vozes.

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