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sexta-feira, 13 de maio de 2016

A firmeza de quem lutou contra o golpe de Estado de 2016

Guilhermina Marrati não queria chorar. Disse pra si mesma, antes de sair de Vitória, no Espírito Santo, na quarta-feira (11) à tarde, que o governo de Dilma Rousseff não havia acabado, mas apenas sofrido um ataque mais duro dos conspiradores nacionais.
Justamente por isso decidiu pegar o ônibus com destino a Brasília e encarar as 17 horas de viagem entre as duas cidades: queria ser mais uma entre a multidão de pessoas que presenciariam, talvez, o começo da luta da presidenta contra o golpe de Estado que sofrera durante a madrugada – do qual foi notificada na manhã desta quinta (12).
A promessa, no entanto, durou cerca de uma hora. Após o discurso da presidenta na rampa do palácio perante as milhares de pessoas que a ouviam, Guilhermina resolveu segui-la durante o breve período em que abraçou e beijou alguns manifestantes.
Quando Dilma entrou em uma SUV preta e, rodeada de carros oficiais, sumiu no horizonte de Brasília rumo ao Palácio da Alvorada, caiu em um pranto sepulcral sobre o meio-fio da Praça dos Três Poderes.
“O choro não é por causa da Dilma. Eu nem conheço ela, não sei como ela é, se ela é realmente brava, como muitos falam. O choro é por causa do que essa saída dela do Palácio do Planalto representa ao Brasil. Um completo retrocesso da nossa democracia que eu nem sei como explicar aos meus alunos”, conta. Ela é professora de história do ensino médio na rede pública de Vitória há dez anos.
Eduardo Ribeiro, ao contrário de Guilhermina, não precisou se conter. Veio a Brasília durante a madrugada imaginando que o golpe pudesse ser revertido no Senado – onde estava sendo votado enquanto atravessa a Bahia.
O auxiliar administrativo de 32 anos, porém, compartilhava a mesma motivação da professora capixaba: “Ontem (quarta) eu liguei a TV e comecei a ver a votação em casa. Pensei: ‘Ué, se eu não acho esse golpe legítimo o que eu vou fazer ficando aqui? Vou pra Brasília’”.
Chegou à capital pela manhã, quando a conspiração contra Dilma havia terminado, e só conseguiu acompanhar o discurso dela na rampa do edifício presidencial e a posterior saída.
Ficou olhando os carros oficiais partirem com a presidenta encostado na grade colocada pela Polícia Militar do Distrito Federal com um sorriso sem graça característico dos derrotados, mas foi o primeiro a puxar o grito de “Dilma guerreira da pátria brasileira” quando todos ainda choravam.

DILMA

Dilma Rousseff falou por aproximadamente quinze minutos ao público postado em frente ao Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes, com um pedestal improvisado e uma caixa de som relativamente baixa. Ao contrário do usual, não leu nenhum documento pronto e ousou até mesmo quebrar o protocolo e se colocar à frente do móvel que servia para amparar o microfone.
Atrás dela estavam líderes variados, como o ex-presidente Lula, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente do PT, Rui Falcão, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-SP) e a presidenta da UNE, Carina Vitral. .
Milhares de pessoas se aglomeraram no local para escutarem as palavras da presidenta, interrompida sete vezes durante o discurso pelos gritos dos manifestantes, ora contra Michel Temer, ora contra Eduardo Cunha, ora enaltecendo o nome dela.
Em todas as interrupções, Dilma esperou pacientemente que o próprio povo fizesse silêncio para voltar a falar.
“Eu estou sendo vítima de um golpe. Chamo isso de golpe porque não cometi nenhum crime de responsabilidade. Os atos cometidos por mim foram cometidos por todos os presidentes que me antecederam. Se não foi crime com eles, não pode ser comigo agora”, disse, de cara.
“Quem conspirou para esse golpe o fez por vingança. O que fez porque nós nos recusamos a dar a ele, ao senhor Eduardo Cunha [interrompida pelas vaias], os votos na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados”, continuou.
A presidenta ainda lembrou de sua luta pela democracia durante a ditadura militar, das conquistas sociais dos governos do PT e do fato de ser uma mulher, o que colaborou para que ela caísse. “O golpe é machista”, gritaram os manifestantes. O momento em que foi mais ovacionada foi quando disse que era uma “fiadora da democracia brasileira”.
Ao lado de Lula e Jandira Feghali, Dilma distribuiu abraços e beijos aos ocupantes da praça. Lula havia feito o mesmo horas antes, quando chegou ao palácio e se encontrou com a presidenta em seu gabinete. Em um dos momentos, ela foi beijada por uma outra mulher que a instigou a lutar. Dilma, então, respondeu: “Eu vou lutar!”. Depois sorriu e foi engolida pelo restante da multidão.
Fonte: UNE

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