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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ESTUDANTES NO MANGUE, UM RELATO DA BIENAL


Lado C é Iniciativa do festival da UNE para integrar os participantes de todo o Brasil com a realidade local
Pelas ruas estreitas e batidas de terra, começamos a perceber que estamos onde quase ninguém entra. A ponte que passa pelo Rio Capibaribe divide a cidade e como se fosse um portal, obrigando seus moradores a serem, antes de cidadãos, guerreiros.
O calor e o cheio forte de esgoto é companhia constante. A imagem refletida na água do maior e mais luxuoso shopping da cidade também. São mais de 400 famílias que vivem ali por respeito as suas raízes.
Cerca de 50 estudantes de diversos cantos deste imenso Brasil tiveram a oportunidade de visitar na manhã da última sexta-feira  (25), a comunidade Ilha de Deus, localizada próxima à área central de Recife. Foi uma das dezenas de visitas promovidas pelo Lado C, circuito tradicional da Bienal da UNE para integrar os jovens participantes do envento com a realidade local.
Firmes em suas convicções, os ribeirinhos da ilha mantêm sem radicalismo, mas com resistência, a sua identidade cultural. O grupo Caranguejó Uçá surgiu com este propósito, unir e fortalecer a essência humana existente na lama. 
Nestes dez anos de forte atuação,  o grupo escolheu como armas para transformação social o teatro, em ações como o Teatro de Rua da Ilha (Trilha), a Rádio Boca da Ilha, os brechós culturais e o Teça no Mangue (projeto de consciência ambiental). 
O pão de cada dia vem principalmente da coleta do sururu, caranguejo cultivado em alguns dos diversos tanques que cercam a comunidade. À frente das coloridas casas de alvenaria, há o lugar sempre escolhido pelas senhoras, jovens e crianças na hora de limpar os pequenos mariscos.  Casa de pau-a-pique? O multirão fez com que isso torna-se fotos do passado.
O manguezal que fica na parte dos fundos da Ilha é tido como sagrado por seus moradores. O destino do caranguejo que vive na lama não é mais a farta mesa dos ricos. Agora ele é apenas caçado para a própria alimentação da comunidade. 
É este pulsar de vida coletiva existente que faz com que Edson Fly, um dos coordenadores da ação social tenha (da sua maneira) como inspiração a mais famosa das ilhas, a cubana. “Este espaço poderia ter geladeiras e tanques para armazenar os pescados. Porém, filho de pescador  precisa entender que pode ser um engenheiro que pesca. Um médico, um jornalista, ou seja, a nossa viagem não é quebrar conceito de classe, é intelectualizar a comunidade”, afirma.
No maior mangue urbano do país, os estudantes tiveram a oportunidade de vivenciar, por poucas horas, a vida do povo ribeirinho, compreendendo as lutas e dialogando também sobre suas próprias experiências. 

POESIAS NO PORTÃO
Coelhinhas, borboletas e ratinhas nos esperavam na porta da Biblioteca Popular do Coque, bairro periférico de Recife. As cores vibrantes de suas máscaras refletiam o sentimento que  guardavam atrás delas.
Lá dentro, quem aguardava a chegada dos estudantes da UNE era dona Maria Bethânia do Nascimento, moradora do Coque há 48 anos e fundadorad o espaço há seis. Por meio de um projeto pessoal de vida, ela conseguiu mudar a realidade local por meio do incentivo à leitura. 
Na biblioteca, mais de três mil livros, catalogados por cores, fazem parte do acervo, que conta apenas com obras de literatura, cultura popular e poesia, todos doados pela comunidade. 
Ansiosas com a visita estavam cinco adolescentes que recitaram seus poemas dentro da pequena sala do projeto.  As palmas dos estudantes serviram como  alívio e comemoração pelo encontro, comprovando a fala de dona Maria Bethânia. ” O que essas jovens mais gostam é poesia. Temos o projeto Poesia na Porta, onde as crianças escrevem seus textos e entregam na caixinha dos Correios de todas as casas aqui da comunidade. Desta forma chamamos a atenção para a biblioteca, conseguindo doações e algumas parcerias”.
Ao final do dia, para os estudantes, fica a certeza de que a união da sigla “U”, do nome da UNE, é o que deve guiar os sonhos dos estudantes e do Brasil.  Com os exemplos da Ilha de Deus e da Biblioteca do  Coque, fica evidente que a união, quando firme em um propósito, transforma o mundo.
“É excelente a UNE oferecer este tipo de programação na Bienal, porque você fica conhecendo a cidade como um todo. A população não vive só de carnaval, não é só essa maravilha que a gente vê. É necessário mostrar a cara do Brasil, as comunidades, as favelas”, aponta a estudante do curso de história da Universidade Fluminense, Marizete de Souza. 
Thatiane Ferrari - UNE

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