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segunda-feira, 27 de maio de 2013

UNE, OS 53 CONGRESSOS E AS CENTENAS DE DESAFIOS (2)

Movimento Estudantil
Confira a segunda parte dos principais momentos dos Congressos históricos da entidade
Na sexta-feira passada, o site da UNE publicou a primeira parte dos momentos inesquecíveis que os Congressos da entidade já vivenciaram. Às vésperas de mais um CONUNE, o 53º, confira e relembre essa segunda etapa, que percorre pelo movimento dos caras pintadas em 1992, a participação de Fidel Castro em 1999 e a presença de Lula já nos 2000.

1992, Os jovens pintam as caras e o movimento estudantil renasce

“A história das entidades é linda. É uma historia que se confunde com  a luta pela democracia. Eu sempre digo que já fui deputado, prefeito,  senador, mas nada me deu tanto orgulho como ter feito parte do movimento estudantil. Por acaso, depois de ser do DCE da Paraíba, eu acabei entrando na UNE na gestão de 91, que era presidida por uma mulher, Patrícia de Angelis. Virei secretário geral e fui eleito presidente no ano seguinte, em maio de 1992. Hoje, vinte e um anos exatamente da primeira grande passeata do Fora Collor, no MASP, em São Paulo, penso como fomos importante naquele momento para a história do Brasil”, conta o senador e ex-presidente da UNE, Lindbergh Farias.
Após um longo período de 21 anos, finalmente chegou ao fim no Brasil a ditadura militar. Em 1985 foi eleito o primeiro presidente civil no país. Entretanto, como o processo ainda era de transição entre o regime autoritário que durou tanto tempo e o retorno de um sistema democrático, o presidente foi eleito pelo Colégio Eleitoral, ainda sem a verdadeira participação do povo na decisão.
Em 1989, começavam as campanhas para a primeira eleição direta no país. Apresentando-se, em sua campanha, como o “caçador de marajás”, o homem que iria combater a corrupção e traçar a linha da renovação, Collor de Mello foi eleito em 1990, com 35 milhões de votos, contra os 31 milhões alcançados pelo segundo colocado, o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Para enfrentar os problemas econômicos da época, Collor adotou uma série de medidas. Uma delas foi o bloqueio do dinheiro da população em conta corrente e poupança. Também fez privatizações e uma reforma administrativa com a extinção de órgãos e empresas estatais, além de congelar preços e pré-fixar salários.
Não parou por aí. Após um ano de governo, Collor foi acusado por seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, de montar um esquema de corrupção. Foi em um CONEG (Conselho Nacional das Entidades Gerais) da UNE, em dezembro de 1991, que os estudantes decidiram sair às ruas contra o então presidente. Com as caras pintadas de verde e amarelo, engrossavam uma campanha que recebia o nome de “Fora Collor”. No 42º Congresso da entidade, em junho de 1992, quando Lindbergh Farias assumiu o cargo de presidente, o movimento ganhou gás e finalmente se alastrou pelas avenidas do Brasil.
Conforme a indignação popular ia crescendo, as ações ganhavam mais forças. A UNE e a rede do movimento estudantil se uniram e encabeçaram uma gigantesca passeata exigindo o impeachment do presidente, no dia 11 de agosto de 1992.
Caras Pintadas, Fora Collor
O caráter combativo e alegre dos estudantes contagiou a sociedade que acabou aderindo ao pleito dos caras-pintadas. Estudantes pularam muros de escolas para se reunir em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), e dali seguir para o Vale do Anhangabaú. Com o grito e a força dessa juventude, Collor teve seu governo desgastado, o que o levou, após 180 dias de processo, a ser afastado do cargo e substituído por seu vice, Itamar Franco.

Filho da tradicional política mineira e bastante querido pelo seu povo, Itamar teve papel fundamental em um dos mais delicados períodos da vida política nacional, pós ditadura militar. Com muita determinação, assumiu a Presidência e a conduziu com grande capacidade.
Itamar nunca deixou de dar conselhos e apoiar as bandeiras de lutas da juventude. Devolveu aos estudantes a escritura do terreno da Praia do Flamengo, 132, no Rio de Janeiro, sede histórica da entidade demolida pela ditadura militar. Esta sempre foi uma luta incansável dos estudantes que, após o ato, tornou-se uma realidade concreta, mesmo com a disputa judicial entre os donos do terreno e a entidade, que, na época, travou qualquer tentativa de retomada. O feito foi comemorado com o famoso chopinho no bar Lamas, junto aos estudantes.

1999, fidel castro em belo horizonte

Após as turbulências da redemocratização do Brasil, o movimento estudantil passou a conviver, a partir de 1994, com novos desafios em um período de maior estabilidade política. Durante os oito anos do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, as principais pautas dos estudantes foram a luta contra o neoliberalismo e a privatização do patrimônio nacional.
A UNE posicionou-se firmemente contra a mercantilização da educação promovida pela gestão FHC. Durante seu governo, foram privilegiadas as instituições particulares de ensino, com o sucateamento das universidades públicas e atrito constante com professores, funcionários e estudantes.
O ano de 1999 foi especialmente importante para a entidade por dois motivos: ele marcou a retomada do trabalho cultural da entidade, com a realização da 1ª Bienal da UNE; no mesmo ano, em contraposição a uma política voltada para o capital, o presidente cubano Fidel Castro foi convidado para participar do 46º Congresso da entidade, em Belo Horizonte.
“Além de termos discutido temas candentes relacionados à educação, cultura, drogas, segurança pública, direitos humanos e discriminaçãoracial, o ponto alto do Congresso foi o excelente discurso de Fidel, que nos motivou  para realizarmos na época um grande ato contra o governo Fernando Henrique Cardoso. Foi um momento inesquecível e tenho certeza que marcou para todos os milhares de estudantes presentes. Sempre me lembro desse dia”, relembra Ricardo Capelli, presidente da UNE na época.
O líder cubano discursou por mais de duas horas no ginásio do Mineirinho. Na ocasião, Wadson Ribeiro foi eleito presidente da UNE.Confira o discurso de Fidel durante o encontro:

2009, lula comparece ao congresso da une

É inquestionável que o ex-presidente Lula foi quem mais dialogou e manteve relação com o movimento estudantil, sendo o único a visitar por duas vezes a sede da UNE, recuperada em 2007 pelos estudantes na Praia do Flamengo 132.
A relação entre os estudantes e Lula, ainda sindicalista, começou em um momento crucial para a redemocratização do país, a transição entre as décadas de 70 e 80, unificando as forças estudantil e sindical. Antes mesmo da consolidação do Partido dos Trabalhadores e da candidatura para cargos políticos, Lula já havia participado, em 1980, do congresso que elegeu Aldo Rebelo como presidente da UNE.
No 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes, em 2009, já como presidente da República, Lula fez questão de comparecer ao encontro. Novos ares acendiam a chama de um país mais preocupado com o povo e com a educação. Nesse dia, discutiu e analisou com os jovens as propostas e reivindicações para aprimorar do ProUni, se mostrando aberto às críticas. Ressaltou ainda a importância do diálogo entre o movimento estudantil e o governo, agradecendo o papel que a UNE desempenha para a educação.
Lula
Na ocasião, Lula recebeu dos estudantes uma carta com reivindicações discutidas em oito encontros estaduais. Entre as propostas,  estava o pedido de apoio ao projeto de lei nº 5.175/09, já em tramitação no congresso, em que a UNE propõe uma reforma universitária para o país.

“A participação do presidente demonstrou o momento democrático em que o país vivia e marcou a ocasião de apresentar reivindicações em defesa de políticas públicas educacionais e de melhorias para a juventude. Sem dúvida, foi um passo a frente para os avanços do Brasil”, afirmou a presidente da UNE na época, Lúcia Stumpf.
Patricia Blumberg

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