Aos 19 anos, a estudante
de São José dos Pinhais (PR) se torna presidenta de uma das mais tradicionais
entidades do movimento social brasileiro.
O 41° Congresso da UBES, que
aconteceu entre os dias 12 e 15 de novembro em Brasília, elegeu para a
presidência da entidade a paranaense Camila Lanes, 19 anos, presidenta da União
Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES). Camila substitui a carioca Bárbara
Melo, que esteve à frente do movimento secundarista entre 2013 e 2015.
Leia abaixo perfil completo da
nova presidenta da UBES, Camila Lanes.
“MÃE, VOU SAIR DE CASA”: QUEM É CAMILA
LANES
“Mãe, vou sair de casa”, disse uma
menina de 16 anos a sua mãe na cidade de São José dos Pinhais (PR), região
metropolitana de Curitiba. O ano era 2012, um antes daquele que mudaria
definitivamente a recente a história do país. A menina era uma adolescente de
personalidade forte, que já ansiava transformar as coisas à sua volta. Estava
decidida a se mudar para um acampamento do movimento estudantil na capital
paranaense. A mãe era outra jovem, com apenas 36 anos, professora, solteira. A
resposta dela ao pedido da menina impactaria não só a vida daquela família, mas
de muitas outras.
Hoje, apenas quatro
anos depois, Camila Lanes, 19, filha de Roseli Lanes, vinda do Colégio Estadual
Silveira da Motta, transforma-se na principal liderança dos 40 milhões de
estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de todo o Brasil. A ascensão
vertiginosa em direção à presidência da UBES começou com o apoio da mãe que,
além de permitir a mudança radical da jovem, também passou a visitar o
acampamento, a levar lanche para os jovens que estavam ali como ela, a ajudar
da forma que pudesse: “Na verdade ela se tornou a mãe de toda a galera”, brinca
Camila.
A causa era importante: recuperar a
sede da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES), no bairro do
Juvevê em Curitiba, que tinha sido destruída por uma empreiteira e cujo terreno
estava ameaçado pela especulação imobiliária. A jovem, que já tinha sido
presidenta do grêmio da sua escola, imergiu-se até o pescoço no movimento. Após
136 dias, o acampamento saiu vitorioso e, em seguida, Camila foi eleita
presidenta da UPES. O mundo tornava-se maior para a menina que, há pouco tempo
atrás, lutava somente pela reforma da quadra e dos banheiros estragados do
colégio.
O horizonte dos sonhos se deslocava
então para a aprovação do Plano Nacional de Educação no Brasil, para a
conquista dos 10% do PIB para o setor, o passe livre, as políticas públicas de
juventude. Começou a viajar para outros estados e a participar mais ativamente
do movimento estudantil nacional, ocupando espaços, liderando, mobilizando.
Em junho de 2015 viveu seu primeiro
grande choque: foi ferida na trágica passeata dos professores e estudantes do
Paraná que protestavam contra o pacote de medidas do governador Beto Richa e
que foram violentamente massacrados pela Polícia Militar: “Fui ajudar um colega
que estava desmaiado e acabei atingida por um estilhaço de bomba na perna”,
relata mostrando a cicatriz.
A geração de Camila no entanto, não
parece ser do tipo que se intimida com qualquer estrondo. A filha de Roseli
representa o movimento de estudantes brasileiros que estão demostrando ousadias
inimagináveis para sua pouca idade. Alguns deles estão agora bravamente
ocupados nas escolas de São Paulo, resistindo de forma radical à decisão do
governo do estado de fecha-las, deixando suas casas como ela também fez.
Um dia antes de ser eleita presidenta
da UBES no congresso da entidade em Brasília, chegou a notícia de que houve
violência policial em algumas dessas ocupações, com estudantes feridos: “Eles
se iludem ao achar que isso diminuirá a nossa determinação. Não terão sossego. Ninguém
vai fechar nossas escolas em São Paulo ou em qualquer lugar do Brasil”,
promete.
Além da mobilização máxima das
ocupações em SP, ela destaca três objetivos imediatos da sua gestão na
entidade: lutar pela implantação do Plano Nacional de Educação e dos planos
estaduais e municipais, garantir o direito dos secundaristas à meia-entrada nos
eventos culturais, a partir da nova lei nacional sobre o tema, e conseguir a
reformulação do ensino médio no país: “A escola brasileira hoje não é dinâmica,
não é democrática, não dialoga com a atual realidade dos jovens, precisamos de
um outro modelo”, defende.
Camila se declara uma jovem
sintonizada com um país em mudanças. Acredita no fortalecimento da democracia e
torce o nariz para os movimentos golpistas que se apresentaram neste ano de
2015 pedindo a interrupção do governo legitimamente eleito da presidenta Dilma
Rousseff: “A juventude não cai nessa” diz.
Feminista, defende a legalização do
aborto e a participação cada vez maior das mulheres na política. É contra a
redução da maioridade penal porque, em sua opinião, é uma medida que só
prejudica ainda mais a juventude negra e pobre excluída nas periferias do país.
Também se coloca contra o Estatuto da Família, em votação no Congresso
Nacional, e todas as formas de LGBTfobia. “Temos que levar esse debate pra
dentro de escola”, opina.
No tempo livre, se diverte com os
amigos na roda de conversa ou violão da rua São Francisco, o maior ponto de
encontro da juventude de Curitiba. Gosta de rock nacional e MPB, é fã de Legião
Urbana, Elis Regina e diz que se está se “aprimorando” no gosto pelo samba
desde que entrou mais fortemente para o movimento estudantil.
No dia de sua eleição na UBES, a mãe
não estava presente: “Ela é voluntária em uma escola da cidade e teve uma atividade
no mesmo dia”, conta com o coração apertado. No entanto, agora a distância
entre as duas já assusta menos. Camila saiu de casa mas, deixou ali o orgulho
de estar fazendo a diferença para todo um país.
Fonte: UNE
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