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sexta-feira, 18 de março de 2016

“Cuspiram em mim”, por Rodger Richer, diretor de Combate ao Racismo da UNE

As camisas que geraram desconforto nos manifestantes do dia 13 de maço. Na foto: Rodger Richer, Bruna Rocha, Cristian Ribas e Tamara Terso
No dia 13 de março lá estou eu caminhando pela Esplanada dos Ministérios (Brasília – DF) no final da manhã e vejo manifestantes do ato anti-Dilma hostilizarem a mim e a colegas meus no meio do ato apenas pelo fato de aparentarmos “ser petistas”: das seis pessoas que estavam comigo, quatro eram negras, das quais duas estavam com camisas estampadas “A CASA GRANDE SURTA QUANDO A FAVELA APRENDE A LER”, uma com a estampa de Exu e eu estava com uma camisa estampada com a imagem dos panteras negras. Todos nós somos militantes do Coletivo Enegrecer e do Movimento Negro Unificado, sendo que eu e Bruna Rocha Diretores da UNE.
Eles não sabiam se éramos petistas, mas o simples fato de sermos negros e estarmos com essas camisas, nossa presença incomodou e os conservadores reagiram agressivamente contra nós. Eu passei a filmar a ação de um manifestante que agia violentamente e ele reagiu literalmente cuspindo em mim! Nunca me senti tão humilhado!
Após ter sido cuspido e tentarem agredir a mim e a meus amigos, fomos perseguidos por cerca de 500 pessoas que estavam no ato golpista até a rodoviária, onde fomos escoltados pela polícia. Nos agrediram fisicamente – jogando garrafas de água, cuspindo, etc. – e verbalmente – nos chamando de ladrões, “petralhas”, maconheiros, vagabundas, viados, macumbeiros, etc.
O que está nessas marchas golpistas é um verdadeiro ódio de classe e raça, anti-petismo, ódio aos partidos e à própria política. Essa elite não aguenta mais ver negros e negras nos aeroportos, nas Universidades e ascendendo socialmente. Nós não queremos um Brasil de antigamente, que era pra poucos. Queremos um Brasil para todas as pessoas, negros e negras, mulheres, LGBTS, trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, reafirmamos que a nossa luta é por mais amor, mais igualdade e mais democracia!
O perfil dos manifestantes do dia 13 é bem marcado: maioria de pessoas brancas e das classes médias e altas. Tal composição social dos atos me faz perguntar: esse é um golpe contra quem? Não se trata de um golpe contra o PT, a Dilma e ao Governo Federal, mas sobretudo um golpe contra as políticas sociais implementadas no último período que contribuíram decisivamente para inaugurar novos ciclos de transformações democráticas. A elite brasileira sente seus privilégios ameaçados e vai para às ruas com todo seu ódio golpista tentar barrar esse ciclo de mudanças.
Esse é um golpe contra nós – negros e negras, indígenas, quilombolas, classe trabalhadora – e temos que reagir à altura para não apenas barrar retrocessos, mas lutar por mais avanços e democracia. Nós que somos filhos e filhas das políticas sociais implementadas no último período – REUNI, cotas, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, PROUNI, entre outros – temos que ir às ruas defender o projeto que transformou nossas vidas e nosso país e reafirmar o nosso compromisso com a ampliação da democracia.
O cuspe que me deram no dia 13 de março é a vontade que a elite brasileira sente de humilhar as maiorias pobres desse país todos os dias. Querem cuspir em nossos rostos, em nossa auto estima e dignidade.  Nos olham como se fôssemos inferiores. Querem manter seus privilégios em detrimento da nossa exploração. Querem um país sem cotas, sem políticas sociais e sem distribuição de renda – ”querem seu país de volta” . Querem que a classe trabalhadora ande de cabeça baixa e não acessem os espaços tidos como exclusivos para eles. Resistimos e dizemos NÃO!
Vamos às ruas #SemMedoDeSerFeliz contra o ódio, com amor, lutando pela defesa e ampliação da democracia. Vamos todos e todas nos somar nos próximos atos que visam não apenas barra o golpe, mas lutar por mais avanços e transformações democráticas.
UMA CUSPE NÃO NOS INTIMIDARÁ!
RACISTAS, FASCISTAS, NÃO PASSARÃO!
* Rodger Richer, 23 anos, estudante do curso de Ciências Sociais (UFBA), Diretor de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes e membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR),.
Fonte: UNE

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