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sábado, 16 de abril de 2016

BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!

Por: Mariana Lorenzi

A chegada ao ensino superior é motivo de muita alegria e comemoração, mas infelizmente, frequentemente acompanhada de diversas formas de opressões nas universidades que se iniciam logo no ingresso, durante o trote, e se perpetua durante a graduação nos cursos universitários, em especial para as mulheres.

O trote machista, o machismo do ambiente acadêmico e a presença quase absoluta masculina dos professores de muitos cursos universitários são alguns elementos de uma cultura que está enraizada na nossa sociedade. Essa carga de violência simbólica, física e psicológica, muitas vezes velada no ambiente universitário, foi recentemente escancarada pela luta das auto-organizações e do movimento estudantil, que entendem o espaço universitário como formador de uma sociabilidade emancipatória, e não o deformador de sujeitos.
            No entanto, a grande mídia vem tratando esses casos com interesse sazonal, mantendo os trotes como objeto das suas pautas em fevereiro e março, até cair em completo esquecimento quando os trotes acabam. Com a luta dos estudantes do estado de São Paulo contra a violência, a questão foi levada à CPI instaurada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa para apurar violações de direitos humanos das mais diversas nas universidades paulistas.

            É evidente que, em todos os casos e escândalos em trotes, crimes sexuais, casos de assédio, racismo e homofobia as mulheres figuram enquanto vítimas na maioria gritante dos casos. Nós observamos que, na maioria desses casos as posturas adotadas pelas Universidades é quase protocolar:  a negativa de dar suporte às vítimas, dando meios institucionais para que as denúncias sejam feitas, além de faltar iniciativa e vontade política para desenvolver a prevenção e a punição nos casos de violência. Estamos denunciando há anos casos de estupros, violências, humilhações e opressões que não são eventuais, mas que refletem a cultura de opressão às mulheres que se faz presente no ambiente universitário, no trote, na sala de aula e nos espaços de convivência estudantil. Percebemos que os casos de violência só crescem, e que ainda assim nenhuma medida séria, preventiva e educativa tem sido apresentada com o projeto pedagógico para o com bate da violência na Instituições do Ensino Superior.

            Viemos notando, sobretudo, que frequentemente quando as estudantes reivindicam a apuração e o enfrentamento desses casos nas Universidades com a devida punição aos agressores, ocorre sistemática criminalização do movimento de mulheres, e, em muitos casos, os agressores são protegidos pelas administrações e burocracias universitárias, mesmo depois de recomendações da CPI e do Ministério Público para que as universidades realizassem o encaminhamento das denúncias das vítimas aos órgãos competentes.

            O machismo permeia nossa sociedade porque o patriarcado é um sistema, e, por ser estrutural, é o “amigo secreto” das mulheres, como a tag do ano passado, e também o nosso inimigo em comum. Lutamos por uma sociedade em que o conhecimento seja transformador para a vida do povo, e emancipatório para que as relações humanas sejam libertadoras. E logicamente o sistema de educação que não comporte um espaço digno para nós mulheres na universidade, é um sistema fadado ao fracasso!

            Nós estamos comprometidas com a vida das mulheres e queremos imediatamente ações enérgicas  para acabar com esses crimes, e não a criminalização do movimento feminista e de quem luta para estudar sem ser violentada diariamente! Somos muitas, vamos fazer quantos escândalos forem necessários para derrubar de vez a cultura machista das Universidades!

Mariana Lorenzi é estudante de Direito da USP e diretora de Mulheres da UEE-SP

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