Há 30 anos uma doença, até então desconhecida, surgia nos Estados Unidos. Em junho de 1981, o Centro de Controle de Doenças do país registra os primeiros casos de uma enfermidade considerada à época um mistério. Um ano depois, ela recebe o nome provisório de Doença dos 5 H, em razão de casos registrados em homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e prostitutas (hookers em inglês).
A possibilidade de transmissão pelo ato sexual, pelo uso de drogas injetáveis e pela exposição a sangue e derivados foi constada naquele mesmo ano. Ao longo das três décadas seguintes, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids, em inglês), hoje disseminada por todo o mundo, se transformou em uma das maiores preocupações da humanidade.
Paralelo ao crescimento da doença, avançou também o tratamento. De acordo com o infectologista Alfredo Passalacqua, há 30 anos nada poderia ser feito ao paciente que tivesse sido diagnosticado portador do vírus HIV. "A sobrevida dessas pessoas era de aproximadamente dois anos, pois não existia medicamento adequado na época", diz o médico.
Em 1986 surge o primeiro medicamento aprovado para uso em pacientes soropositivos, o antirretroviral AZT. Mas é em 1995 que o tratamento contra a Aids ganha um aliado imprescindível, o coquetel. "A associação de medicamentos foi o grande divisor de águas no tratamento. O coquetel é uma medicação altamente potente, que aumentou significativamente a expectativa de vida dos pacientes", destaca o infectologista.
Quando lançado, o coquetel era composto por aproximadamente 12 tipos de medicamentos diferentes. Com o passar dos anos, o coquetel foi evoluindo e atualmente apenas três drogas fazem parte de sua composição. "Os tratamentos contra a Aids estão cada vez mais avançados. Em 2010, por exemplo, novas drogas, menos tóxicas, foram lançadas, permitindo uma qualidade melhor de vida para os soropositivos", ressalta Alfredo Passalacqua.
O infectologista disse que os efeitos colaterais provenientes da medicação são passageiros. "O tratamento pode alterar os níveis de colesterol e glicose do paciente, mas essa alteração pode ser controlada, o que não prejudica sua qualidade de vida", afirma.
Meta buscada desde que a doença surgiu, a cura da Aids é uma possibilidade discutida constantemente, mas inviável, na visão do especialista Alfredo Passalacqua. "Existe uma vacina em andamento, mas que só será comercializada daqui a 20 anos. Particularmente, não acredito que a cura da Aids seja possível, pois o HIV é um vírus que se recombina entre si, que sofre inúmeras mutações, dificultando o combate específico a um determinado ponto do vírus".
Segundo o infectologista, aproximadamente 550 pacientes com Aids são atendidos atualmente em Mossoró. O especialista diz que o preconceito ainda é uma das principais dificuldades enfrentadas por essas pessoas. "Nas grandes cidades, o preconceito se dilui bastante, mas no interior ele ainda é muito forte, partindo muitas vezes da própria família, que talvez por desconhecer a doença passa a agir dessa forma", conclui.
Grupo orienta e presta assistência a portadores da doença em Mossoró
Criado em 2005, o Grupo Aprendendo a Viver Positivamente (GAV+) surgiu com o objetivo de prestar assistência aos portadores do vírus HIV em Mossoró. Atualmente, o GAV+ possui em seu cadastro 472 pessoas, que recebem orientação e acompanhamento. "Além dos pacientes, também orientarmos os familiares dessas pessoas, que procuram o Grupo para obter mais informações sobre a doença", explica Conceição Paz, presidente do GAV+.
De acordo com Conceição Paz, a maior parte dos soropositivos que vivem em Mossoró leva uma vida normal, apesar das restrições. "Apesar de levarem uma vida normal do ponto de vista da saúde, essas pessoas ainda sofrem muito preconceito. Muitas delas se escondem e são evitadas no trabalho, na sociedade. Até mesmo os profissionais de saúde tratam os portadores do vírus HIV de maneira diferenciada, e isso precisa ser mudado. Os soropositivos não são pessoas de outro mundo, são seres humanos normais, como qualquer outro", diz, acrescentando que qualquer pessoa portadora do vírus, como também os familiares, pode procurar o GAV+, que fica à rua Jerônimo Rosado, nº 352, centro da cidade.
Maricélio Almeida - Jornal O Mossororoense.
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