Na entrevista a seguir você vai conhecer um pouco mais sobre a estudante Virgínia Barros, atual presidente da UEP e sobra a sua gestão. Aqui ela conta o que gosta de fazer nas horas vagas, indica livros para os estudantes e fala sobre sua paixão pelo carnaval
Nos próximos dias 17 a 19 de junho, a União dos Estudantes de Pernambuco realizará seu 38º congresso em Caruaru, PE, para decidir a nova diretoria da entidade. A atual presidente da UEP, Virgínia Barros, garante que após as eleições vai continuar na luta política. “Meus pais eram envolvidos com a vida política da minha cidade, Garanhuns, e desde cedo aprendi a reivindicar os meus direitos”, conta ela.
A gestão dos últimos dois anos, foi a terceira após a reconstrução da UEP, desativada no período da ditadura militar. Por conta disso, um grande desafio do período foi consolidar ainda mais a entidade. “Fizemos muitas passeatas em várias cidades do estado, mobilizando milhares e milhares de estudantes”, explica Virgínia.
A gestão conquistou a gratuidade das taxas de matrícula e de mensalidade nos cursos de graduação, presenciais ou à distância, da Universidade de Pernambuco, garantida por um decreto assinado em dezembro de 2009 pelo então governador, Eduardo Campos. “Durante vinte anos a gratuidade da UPE foi a principal pauta local a mobilizar os estudantes, então desde o primeiro dia da gestão corremos atrás desta bandeira, com ato, abaixo-assinado, blitz na Assembléia Legislativa e aprovamos a pauta por unanimidade na Conferência Estadual de Educação”, relembra.
Na entrevista a seguir, a pernambucana falou sobre o carnaval de Olinda, sobre seus livros preferidos, sua paixão pelo Sport Clube, sobre a discriminação que as mulheres sofrem na política, cinema e música.
Acabando a gestão, quais seus planos?
Tirar um dia inteiro para dormir! Quem sabe também um final de semana em Porto de Galinhas... Muitas pessoas não fazem idéia de como a luta nos movimentos sociais é desgastante. Mas também é muito gratificante. Pretendo continuar militando, pois sou apaixonada pela luta política. Pretendo também terminar meu curso de Economia para tentar mestrado na área. No mais, nada de muito diferente do que a maioria dos jovens de minha idade planeja para o futuro.
O que gosta de fazer nas horas vagas?
Encontrar os amigos e conversar amenidades até o dia amanhecer é uma das melhores coisas da vida. Se for na Rua da Moeda, tomando cerveja e ouvindo samba, melhor ainda! Praia e cinema também são fundamentais. Ah, e ir aos jogos do glorioso Sport Club do Recife! Este ano não consegui ainda ir a muitos por conta da correria da construção do Congresso da UEP, mas quando tenho tempo até viajo para outras cidades para ver o Sport jogar.
Já que falou de cinema... Em uma entrevista você disse que seus filmes preferidos são “Esqueceram de mim” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças’. E do cinema nacional, qual é seu preferido?
Sem dúvidas é “Lavoura Arcaica”, de Luiz Fernando Carvalho. É de uma riqueza artística belíssima. O filme é uma adaptação de um dos meus livros preferidos, escrito por Raduan Nassar. Certamente um dos meus filmes preferidos também. O movimento de retomada do cinema nacional rendeu filmes de alta qualidade nos últimos anos, sou fã do nosso cinema.
Nós temos visto muitas bandas jovens saindo de Pernambuco e conquistando o Brasil, qual você acha que é o “tempero” dessa galera?
Rapaz, esse nosso sotaquezinho é um charme mesmo, né? O bom da galera jovem que faz música aqui é que sempre conseguem unir nossos ritmos com a música pop. Foi assim que nasceu o mangue beat, Nação Zumbi e toda essa turma. Mais recentemente vivemos a ascensão de bandas como Mombojó e Eddie, que tem a cara de Olinda. Aliás, virou até um estilo: original Olinda style!
Que tipo de música você gosta?
Um bom samba e um bom frevo. Também adoro rock and roll, mas curto mais a galera das antigas, como The Doors e Rolling Stones. Vai soar muito clichê se eu disser que sou apaixonada por Chico Buarque? E adoro The Strokes! Enfim, gosto de um monte de coisa.
O Frevo é um dos marcos do carnaval de Olinda, um dos mais famosos do mundo. Você gosta de pular carnaval? Já foi ao carnaval no Rio ou em Salvador?
Tem um frevo que fala que “quem é de fato um bom pernambucano espera o ano pra cair na brincadeira”. Isso é verdade! Amo Carnaval, as ladeiras de Olinda e os frevos do Bairro do Recife. Tenho vontade de conhecer o carnaval em outros estados, mas infelizmente eles caem na mesma data do de Pernambuco. Então essa é a época do ano em que eu faço questão de não viajar.
Como mulher que faz política, você acha que as mulheres sofrem discriminação nesse ambiente?
Infelizmente, sim. O ambiente político reflete as mesmas contradições da sociedade, que ainda é profundamente machista. Basta ver como são poucas as mulheres que ocupam espaços de poder. A eleição de Dilma representa um marco na luta das mulheres brasileiras, mas ainda temos muito para avançar rumo a uma sociedade sem opressão de gênero, ou melhor, sem opressão alguma.
Você tem alguma pessoa que inspire a sua luta política?
Tenho um amigo que milita na vida política há muitos anos: Luciano Siqueira. Ele é um exemplo de sensibilidade, disciplina e dedicação à luta por uma sociedade sem opressões, além de ser muito culto e um grande adorador de poesia. Tem toda a sua vida marcada pela mobilização em torno das causas populares, desde a juventude. Hoje é deputado estadual em Pernambuco. Aprendo muito com ele todos os dias.
E na vida pessoal, quais são os seus maiores exemplos, e por quê?
Além de Luciano Siqueira, meu irmão Vinícius também inspira muito minhas escolhas. Ele faleceu no ano passado, aos 26 anos, mas viveu intensamente cada dia de sua vida. Era um grande estudioso de filosofia, literatura, música e um jovem bastante aventureiro. Além de prestar serviços à Aeronáutica, chegou a viajar de carro toda a América do Sul, veja só! Na época em que faleceu, trabalhava como médico no serviço público da zona rural da Chapada Diamantina, na Bahia.
Você acha que os jovens são desinteressados por política?
Não dá para fazer uma avaliação tão simplista. O fato é que a sociedade não estimula que busquemos saídas coletivas para os problemas do mundo. É sempre “Faça a sua parte”, “Faça o seu que eu faço o meu”. Acho que esse espírito individualista nunca foi tão forte. Então, num contexto assim, não somente a juventude, mas o conjunto da população minimiza o papel da política nas mudanças da sociedade. Não compreendem que, se a solução para os problemas do Brasil não está na política, tão pouco estará fora dela.
O que fazer para mudar essa realidade?
Acho que o movimento estudantil é uma das maneiras de contribuir para a mudança dessa realidade entre a juventude, talvez a principal. Instiga as pessoas a desde muito cedo lutarem pelos seus direitos e por uma sociedade mais justa. O fundamental para mim é buscarmos saídas coletivas para os problemas. Precisamos ter cada vez mais gente mobilizada na construção de uma nova sociedade, instigando a reflexão crítica sobre as contradições que o mundo apresenta.
Que livros você considera de leitura obrigatória para os jovens?
Um livro que li há alguns anos e achei bastante inspirador foi “ABC de Castro Alves”, de Jorge Amado. Conta a breve vida do poeta baiano e toda a bravura e poesia de sua juventude. Normalmente não gosto de biografias, mas Jorge Amado consegue contar a história com muita sensibilidade.
Está lendo algum, aliás?
“China – Infra-estruturas e crescimento econômico”, do geógrafo comunista Elias Jabbour. É um livro denso em informações técnicas sobre a economia chinesa, mas também com excelentes análises políticas. Sou muito curiosa em relação à experiência chinesa, é fascinante! Tô aprendendo bastante.
Quais são os seus maiores sonhos?
Como sou muito envolvida com a militância política, é natural que meus sonhos pessoais se confundam com o que acredito ser melhor para a sociedade. Então sonho com uma sociedade sem opressões, com desenvolvimento econômico e justiça social, onde todos tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente. Pode parecer piegas, mas realmente acredito que esta nova sociedade seja possível. No mais, “uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro".
Da Redação
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