Com o objetivo de dar mais um passo na luta pela verdade e justiça no Brasil, a Comissão da Anistia, através da Caravana da Anistia, fará no próximo dia 20 de setembro, na Universidade de Brasília (UNB), mais uma Caravana da Anistia.
Para a União Nacional dos Estudantes (UNE), esse, particularmente, será um evento especial e bastante importante: no decorrer das atividades do dia será julgado o processo do ex-aluno e ex-presidente da entidade, Honestino Monteiro Guimarães.
Como é sabido, jovens de muitas gerações deixaram sua contribuição revolucionária e transformadora para o Brasil, seja pelo vanguardismo e protagonismo que cultivaram dentro do movimento estudantil ou pelo simples fato de serem brasileiros e permanecerem ativos na busca de seus ideais.
Honestino, no entanto, foi um dos mais simbólicos e valorosos líderes que passou pela história do movimento estudantil. Ele não foi somente um jovem franzino, de cabelos claros e olhos verdes. Não foi somente um estudante de Geologia, presidente da UNE, e tampouco um aluno com coragem e amor incondicional à justiça. Honestino não é apenas um nome na lista dos 125 desaparecidos do regime militar.
Para a entidade, Honestino se transformou em algo maior. Ele é uma ideia continua de liberdade e democracia. É o passado, presente e futuro na luta pela aniquilação de qualquer desigualdade social.
Os que conviveram com o jovem guerrilheiro relatam seu esforço descomunal para manter a UNE respirando em seu estágio terminal. Relatam a sua astúcia, inteligência e abnegação para garantir ao movimento estudantil brasileiro o mínimo de vida, ainda que isso tenha lhe custado a sua própria.
Diante desse acontecimento da Comissão da Verdade, a entidade fez um breve apanhado da história de Honestino, presente hoje e sempre.
O INICIO DE TUDO
Honestino Monteiro Guimarães nasceu em Goiás, na pequena cidade de Itaberaí, em 28 de março de 1947. Em 1960, mudou-se com a sua família para os arredores de Brasília, uma capital ainda em construção.
Honestino era mais um jovem estudante secundarista que vivia uma época de grande agitação política. Pichava os muros com os amigos, tinha um lado humanitário aflorado graças ao seu pai e gostava de escrever poesia.
Cursou o 1º ano no Centro de Ensino Médio “Elefante Branco”, escola pública de Brasília que era chamada ironicamente de “Elefante Vermelho”, devido intensa participação política de seus estudantes e professores. Nesse período, o movimento estudantil secundarista no Distrito Federal conduzia grandes mobilizações em defesa da escola pública, contra o aumento das passagens do transporte público, e por democracia nas escolas e no país.
No ano de 1964, o ano do golpe militar, Honestino cursava o 3º ano científico no CIEM (Colégio Integrado de Ensino Médio, anexo à UnB). Foi lá que iniciou sua militância, com o desejo de participar da construção de um mundo melhor, justo e sem exploração. Como qualquer outro jovem.
Honestino entrou na Universidade de Brasília (UnB) em 1965, no curso de Geologia. Foi a partir daí que começou a de destacar dos outros estudantes ao seu redor. Em menos de dois meses, já era um grande quadro, atuando como dirigente estudantil. A sua militância diária, honesta, e a confiança recíproca que tinha com a massa estudantil passou a chamar a atenção da repressão militar. Vale ressaltar aqui que a UnB foi a universidade mais perseguida pela ditadura. Foi Invadida pelo Exército cinco vezes: em 1964, 65, 68, 77 e 84.
A CONSTRUÇÃO DE UM HERÓI
Com a ditadura militar e o Ato Constitucional nº5 (AI-5), aos estudantes, não cabia outra alternativa a não ser continuar se organizando clandestinamente, protestando, denunciando a morte e tortura de colegas, enfrentando todos os tipos de censuras, violências e perseguições. Eram tempos em que ser jovem era condição de risco, de perigo constante, de tomar ou não uma posição no mundo. Eram tempos difíceis, mas também tempos para o surgimento de grandes heróis.
Entre 1967 e 1968, Honestino foi preso por três vezes e condenado a 25 anos pela participação nas lutas estudantis. Após sua última prisão, ele deixou a cidade, a universidade e tornou-se clandestino em Goiânia. Sua nova residência foi invadida inúmeras vezes por agentes da repressão.
Foi em 1971 que o jovem militante se tornou presidente da UNE, assumindo a entidade após a prisão de Jean Marc Von der Wei. O congresso que elegeu Honestino foi clandestino e feito às pressas.
No final de 1972, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi jurado de morte e preso pelo órgão repressivo conhecido como Cenimar, o Centro de Informações da Marinha. Ao saber da prisão, sua mãe, Dona Maria Monteiro, iniciou uma incansável busca pelo paradeiro do filho.
Em dezembro daquele ano, teve ainda a garantia de que poderia visitar Honestino durante o Natal no temido PIC (Pelotão de Investigações Criminais do Exército) de Brasília. Mas, chegando ao local, foi informada de que o filho não estava lá. Após um ano, em 1973, o caso do desaparecimento de Honestino ganhou notoriedade e virou símbolo de luta e resistência.
UNE NA LUTA SOBRE PELA VERDADE SOBRE HONESTINO
A Comissão da Verdade da UNE, instalada no início desse ano, durante o 14º Conselho Nacional de Entidades de Base, o Coneb, está ajudando a reescrever a história de Honestino. Ao longo do ano, tem realizado encontros e se debruçado em textos, relatos, notícias e jornais que possam esclarecer fatos da vida do líder estudantil goiano até o seu desaparecimento.
A equipe de trabalho da Comissão tem como conselheiro Paulo Vanucchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e integrante da Comissão Nacional da Verdade. Além disso, colaboram pesquisadores, estudantes e historiadores que tratam sobre o período e o movimento estudantil
Patricia Blumberg - UNE
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