Sobressaltados, alertas para barrar a redução da maioridade penal, para barrar a reforma previdenciária, para barrar todos os retrocessos e essa política de austeridade que beneficia as grandes empresas e empresários.
Este é nosso momento histórico, um Novembro em que entra em vigor a reforma trabalhista, que flexibiliza as relações de trabalho deixando os trabalhadores e trabalhadoras mais vulneráveis à exploração, impactando diretamente na qualidade de vida de muitas famílias da classe trabalhadora desse país. Classe essa que é majoritariamente negra.
Um governo golpista que através de portarias muda o conceito de escravidão colocando a necessidade de impedimento do direito de ir e vir para a caracterização do crime, tornando, assim, irrelevantes as condições de trabalho às quais uma pessoa está submetida.
Ou seja, vivemos tempos temerosos de investida na maior exploração dos corpos negros e periféricos, escravizados ainda hoje em vários cantos do país.
Quero deixar nítido aqui que as investidas dos golpistas foram para atingir a carne negra que representa 90% dos usuários do SUS e que num cenário como o atual aumenta sua necessidade de políticas efetivas de permanência estudantil, mas que com o congelamento das verbas para a saúde e educação teremos que enfrentar o sucateamento da saúde e educação pública.
Apesar de tudo isso, vejo a organização dos negros e negras em diversos coletivos, que organizam cada vez mais espaços de debate, mais cultura e possibilitam a troca de conhecimento entre os nossos.
Só com organização seremos capazes de resistir ao extermínio e pensar políticas de fortalecimento do nosso povo.
Nesse aniversário de Zumbi, nesse Novembro negro, em que concursos de beleza e algumas aulas de dança não nos bastam.
Precisamos falar sobre nossos autores e autoras, pensadores e pensadoras, heróis e heroínas, aprender nossa história e compartilhar o conhecimento para que em todo o país consigamos aprimorar nossas formas de luta.
A compreensão de UBUNTU se faz necessária colocando para nós que estamos e permanecemos na universidade, por exemplo, a necessidade de organização e formas de enfrentamento às fraudes nas cotas garantindo o direito de entrada na universidade dos que estão fora, e para que enfrentemos a evasão estudantil pautando a democratização do debate de orçamento nas universidades e pensando em formas de manutenção do direcionamento das verbas para a permanência e assistência estudantil.
Nós, negros e negras, somos os maiores alvos da política de austeridade do governo golpista, mas também somos aqueles que quando organizados tremem a base da pirâmide que é o sistema capitalista.
Nossa luta mexe com as estruturas da sociedade brasileira, a qual ainda está presa aos valores racistas, misóginos e elitistas da época de nossa escravização. O golpe se deu por uma inconformação de alguns setores da sociedade em ver uma classe trabalhadora com poder aquisitivo, negros e negras na universidade, produzindo conhecimento e gerando constrangimento para os espaços brancos.
Negros e negras, comemoremos o Dia da Consciência Negra como um momento de recarregar energia, um Novembro negro de estar com os seus e trocar com eles e elas. Que a força de Zumbi e Dandara nos inspire, pois não estamos nunca sós e nossa vitória não é por acaso.
UBUNTU!
Dara Sant’Anna é diretora de combate ao racismo da União Nacional dos Estudantes - UNE
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