Um ano é tempo demasiadamente longo em meio à crise política-institucional para supor inalteradas as variáveis do quadro político brasileiro; até porque muitas delas são ingovernáveis, como as da crescente judicialização da política (que, aliás, poderá conhecer um grau inédito de intervenção do STF e TSE na campanha.)
As eleições de 2018 já são parte cada vez mais central da conjuntura, mas as pesquisas precisam ser lidas apenas como sinalizações, porque há macro indefinições e não está cristalizada a evolução das incertezas e indefinições.
Nomes de candidatos não faltam: Lula ganha força e reduz rejeição; mesmo sangrado há tempos. No mesmo campo, Manuela d´Ávila estreia na contenda e Ciro mantém seus índices. Nos extremos, Boulos ensaia seus passos mais à esquerda e, à direita, Bolsonaro se mantém num campo definido e forte. Só Lula e Bolsonaro têm dois dígitos em pesquisas.
Alckmin não ultrapassa seus baixos índices, tem ainda muitas pedras pelo caminho de unir forças e o PSDB está dividido e desmoralizado perante parte importante de sua base social. O bloco Temer-Maia-Centrão, desmoralizados na sociedade e alvos da Lava Jato, são fortes com a máquina de poder (Executivo, Legislativo e parte do Judiciário) e não entregaria de bandeja o protagonismo aos tucanos: podem lançar Maia ou Meirelles ou impor uma aliança sem os tucanos na cabeça. Há ainda, nesse mesmo campo, Álvaro Dias, Paulo Rabello, João Amoêdo… e até mesmo Luciano Huck e João Dória podem ressuscitar, depois de terem atravessado totalmente o samba. O resto corre atrás: Marina Silva está de volta, Joaquim Barbosa tenta se insinuar. Aldo Rebelo não está definido.
Outra chave de definições vem da sociedade. Entre os brasileiros convivem o cansaço com a confusão política em busca de segurança para melhorar de pronto a vida e o cansaço com a corrupção, dos que querem a redenção da política, alimentada pela Lava Jato. Como indicaram pesquisas recentes, “no País, 84% não sabem hoje quem poderia tirá-los da crise” (Renato Meirelles). O insuspeito IBOPE diz que “o otimismo dos brasileiros em relação ao desempenho da economia teve uma queda significativa e chegou em novembro ao patamar mais baixo dos últimos oito anos, segundo série histórica de pesquisas Ibope”. Apenas 21% preveem mais prosperidade no próximo ano – metade do porcentual obtido no levantamento anterior, feito no final de 2016. O IBOPE crava: 76% dos brasileiros apostam que 2018 será de maior dificuldade econômica ou permanecerá igual. Quanto à situação geral do país, 56% consideram que 2018 será pior ou igual a este ano: só 12% conseguiram guardar dinheiro em 2017 e 96% consideram que Temer é corrupto e não está levando o país no rumo certo.
Articulistas e calculistas entoam que o problema que está no centro da conjuntura será formar a coalizão das forças governistas junto com PSDB para permitir uma pregação reformista liberal na disputa política eleitoral. É uma perspectiva francamente a partir das forças que estão no governo. Dizem necessário ressignificar o centro político para combater os extremos, mas na verdade é porque suas forças estão divididas – e isso as fragiliza – e têm pavor do rechaço popular à tal agenda “reformista” que não vem dando respostas aos problemas do povo. A coisa até agora parece algo como “pensar com os desejos”.
Essas forças atuam com vistas a 2018 com unidade e luta. Unidade para levar adiante a obra atual que, na verdade, é ultraliberal e não “centrista”, e para barrar a candidatura de Lula. Mas são crescentes as tensões que dificultam a convergência dessas forças em torno de uma única candidatura. A luta é pelo protagonismo principal, o poder da caneta presidencial. O PSDB não tem mais primazia garantida, nem se dispõe a mudar de conduta, como por exemplo, apoiar aliados ao governo de Sâo Paulo, por que não? Curiosidade: o Estadão acusa que a Previdência não está sendo votada para não fortalecer Temer!
Pelo lado democrático, o mais cauteloso é considerar que os principais elos para a disputa presidencial ainda não se deslindaram e poderão ser disruptivos. A chave regente, com maior probabilidade, é dada pela disjuntiva de que, unidas ou não, as forças governistas têm que barrar a candidatura de Lula. Com Lula no jogo, com chances nada desprezíveis de que as forças governistas sejam derrotadas, estará ameaçada a própria realização da eleição presidencial em 2018, tendo como plano B manobras casuísticas para castrar o presidencialismo brasileiro – e com isso, desmontar de vez a ordem instaurada pela Constituição de 1988 e a Nova República.
Nesse vazio e impasse, o melhor que podem fazer as forças progressistas é unir a resistência às perspectivas de saída para a crise sem austeridade, sem autoritarismo e sem maior grau de dependência do país. É certo que a resistência necessária à agenda neoliberal – a Previdência em fase aguda – precisa se manter ampla face às ameaças ao ordenamento democrático de direito, para assegurar as eleições e os direitos de Lula não ser condenado sem provas, barrar casuísmos como o esvaziamento do sentido nacional-popular do presidencialismo, barrar o arbítrio da Lava Jato e a judicialização da política – todas exigindo grande amplitude tendo por base, ainda uma vez, a Constituição de 1988.
Mas dar novo alento à resistência é, em essência, abrir perspectivas de saídas para a crise do país, para voltar a mobilizar o povo em torno de esperança de futuro. Resistência e Perspectivas precisam se estabelecer numa dialética única, combinada nas ruas, na luta de ideias e na disputa eleitoral. Não basta entrincheirar-se ou refugiar-se em montanhas escarpadas, é preciso ir à disputa nas vastas planícies, junto à maioria do povo. São necessárias propostas convincentes e exequíveis, não só no plano da economia, mas voltadas a melhorar de fato a vida da população em temas como segurança e serviços públicos em geral, valorização do trabalho etc.
Na Nova República a esquerda brasileira se pautou por uma guerra de posição. Era a agenda da negação: “Xô, Sarney”, “Fora, Collor”, “Fora FHC” e “Fora Temer”. É importante a demarcação de campos quando o país vive uma encruzilhada histórica entre dois rumos antípodas. Lula venceu, enfim, em 2002 pregando a Carta aos Brasileiros junto ao mercado. Hoje, é preciso outros compromissos e outra estratégia para as eleições presidenciais, sem perder o sentido de campo popular, com uma agenda afirmativa de que o Brasil pode e deve trilhar outros rumos.
O Brasil precisa de uma estratégia política verdadeiramente frentista unindo a esquerda e amplas forças progressistas e democráticas, políticas, dos movimentos sociais e da sociedade civil. No núcleo dessa frente está a unidade popular. O que precisa avançar é a clareza e compromisso em elaborar uma agenda em comum para as candidaturas progressistas de esquerda e centro-esquerda, atrair forças ainda mais amplas em torno dela, propor-se à unidade na resistência e no primeiro ou segundo turno eleitoral de 2018. A trajetória dos comunistas, nesse sentido, sempre assegurou a necessidade de frentes amplas vocacionadas a ser frente estratégica para vencer e governar o país. Manuela D´Ávila representa esse anseio e vai crescer.
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