Estudante transexual fala sobre seu processo de autoaceitação no movimento estudantil |
Sempre de batom escuro nos lábios e com um largo sorriso estampado no rosto, a estudante Dandada Pedrita, de apenas 17 anos, é mulher transexual, de São Luís, no Maranhão e participou pela primeira vez do Congresso da UBES na última edição do encontro, entre os dias 29 de novembro e dois de dezembro. Durante uma conversa com o site da entidade, a jovem de voz mansa e gestos delicados fez questão de falar sobre a importância do movimento estudantil em sua vida.
Foram mais de 40 horas de viagem dentro de um ônibus do Maranhão até Goiânia, em torno de 2.016 quilômetros. “É um trajeto bem cansativo, a gente mal come e dorme, mas vale muito a pena”, comenta.
Dandara é uma jovem muito enérgica, tanto que em todas as atividades realizadas durante o 42º Conubes era possível observar a estudante sempre à frente, andando de um lado para o outro, dialogando com as pessoas e auxiliando na organização dos delegados e observadores do seu estado.
Ao realizar seu credenciamento no evento, sentiu uma emoção muito forte. “Posso afirmar que o momento mais marcante nesse 42º congresso da UBES, foi quando peguei o crachá com o meu nome social, nossa, foi um sentimento inexplicável, me senti tão contemplada porque é por essa entidade para qual eu luto diariamente”, diz.
Militância
“Tenho um amor imenso pela militância”, diz com voz doce e olhar afetuoso. Por alguns segundos o silêncio se faz presente e em seguida um largo sorriso aparece em seu semblante, como se relembrasse bons momentos e completa: “Posso dizer que o movimento estudantil influenciou 100% na minha aceitação. Foi nesse espaço que passei a ter um conhecimento aprofundado sobre identidade de gênero e orientação sexual. Parei de me enxergar como um rapaz gay afeminado e entendi quem eu realmente era, uma mulher transexual”, explica.
A autoaceitação da jovem é refletida em sua imagem, Dandara é sempre muito firme em suas palavras, transmitindo uma confiança admirável. “Eu sinto que há um respeito muito bonito nos espaços de discussão da militância. Todos estamos unidos para lutar por algo muito maior, um país melhor e uma educação de qualidade, sem LGBTfobia, racismo e machismo para todos e todas”, conta.
Nome
Tão quão seu conhecimento e empoderamento, a escolha de seu nome social também foi influenciado pelo movimento estudantil. Quando ainda se identificava como um menino gay ‘’afeminado”, seus companheiros de luta já a enxergavam como uma mulher e em um gesto carinhoso passaram a chamá-la de Pedrita. “As pessoas já me viam como uma figura mais feminina, não me chamavam pelo meu nome de menino”.
No entanto, a secundarista percebeu a necessidade de escolher um nome que combinasse mais com sua personalidade e optou por Dandara. Uma homenagem a guerrilheira negra que lutou contra o sistema escravocrata no século XVII e auxiliou Zumbi na defesa do quilombo dos Palmares. “É um nome forte, assim como eu”, afirma.
Dandara à esquerda com amiga |
Escola
O Decreto nº 8.727, de 28 de Abril de 2016, garante oficialmente o direito de travestis e transexuais a serem identificados pelo ‘nome social’ em todos os órgãos da instituição. No entanto, com Dandara o processo inicial foi um pouco dificultoso. “Eu sofri bastante no começo porque eu não tenho uma coisa mais ‘oficializada’ e por isso alguns professores não respeitavam meu nome social. Até que eu tomei conhecimento da lei e passei a exigir o uso do meu nome social”.
Em seus documentos ainda permanece o nome de registro. Prestes a completar 18 anos, a estudante pretende fazer a alteração após a maioridade para minimizar o processo burocrático. “Tentei o recurso de emancipação só que teria que enfrentar mais burocracia por ser menor de idade, então como falta pouco para completar a maioridade, achei melhor esperar para resolver meus documentos”, explica.
Família
Com os olhos marejados e um ar de gratidão estampado em seu rosto a estudante diz ter um prazer imenso em falar sobre como sua família lidou com seu processo de autoaceitação. “Eles sempre estiveram ao meu lado, desde muito pequena minha mãe já me via como uma menina, acho, inclusive, depois que me aceitei como uma mulher transexual, minha mãe se sentiu muito aliviada em saber que finalmente eu poderia ser feliz”, relata.
Decorrente de um processo tortuoso de autoaceitação Dandara conta que tinha preconceito consigo mesma e sentia necessidade de se encaixar em algum padrão mais ‘aceitável’ pela sociedade. “Era muito mais fácil me enxergar como um menino gay afeminado, só que eu sofria muito com isso, mas não compreendia o por quê. Quem me ajudou muito nesse processo também foi minha mãe, Raimunda. Ela sempre dizia que eu deveria me aceitar como eu sou, que ela me amaria da mesma forma, assim como ela amaria qualquer outro filho”.
Vocabulário para entender e respeitar:
Identidade de Gênero: É a maneira como a pessoa se sente e se percebe, assim como a forma que esta deseja ser reconhecida pelas outras pessoas.
Orientação Sexual: Refere-se a qual gênero ou gêneros pelo que se sente atração sexual.
Transexual: É o indivíduo que se identifica com um gênero diferente daquele que lhe foi atribuído no nascimento.
Emancipação: É um termo usado para descrever vários esforços de obtenção de direitos políticos ou de igualdade.
Um Congresso que Respeita a Diversidade
Rebecca Gonçalves é mulher transexual, estudante da E. E. Marechal Mascarenhas de Moraes, localizada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ela é presidenta de grêmio estudantil na sua escola e também participou do 42º Congresso da UBES para mostrar que é possível sim construir uma educação libertadora e acolhedora. Confira abaixo a fala da secundarista:
Fonte: UBES
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