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quarta-feira, 8 de junho de 2011

SOCIAL: A LUTA DA TERRA DA DESIGUALDADE CONTRA A MISÉRIA

Thaís Paranhos
Daniel Ferreira/CB/D.A Press - Eu, Estudante - correio Braziliense.

A dona de casa Lucidalva Silva Veras mora na Estrutural e recebe R$ 130 por mês para sustentar a família

GDF lança plano de erradicação da pobreza extrema na capital, região com o maior índice de diferenças na distribuição de renda. Especialistas alertam para a pouca eficácia desses programas

No Distrito Federal, há 46.588 pessoas em situação de extrema pobreza. O número representa 1,4% da população e está abaixo da média nacional, que chega a 4,7%. A capital do país também se mantém na frente quando o assunto é renda per capita domiciliar. Um brasiliense recebe, em média, o dobro do que um trabalhador no restante do país. Apesar da situação favorável, a região se destaca por apresentar o maior índice de desigualdade na distribuição de renda. Além disso, o governo local não consegue erradicar a miséria na região. Para tentar diminuir a diferença, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), lançou, na manhã de ontem, o Plano DF Sem Miséria.

A iniciativa do Executivo local seguiu o lançamento nacional do programa Brasil Sem Miséria, na última quinta-feira. Uma das medidas anunciadas por Agnelo é a ampliação do Bolsa Família na capital federal. “Em primeiro lugar, precisamos organizar o cadastro e evitar que pessoas que não tenham a necessidade de receber o auxílio estejam na lista”, explicou. A implantação de um cadastro único se faz necessária porque, segundo a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, o cadastro do DF é um dos piores do país, por conta da falta de controle. “Vamos identificar a população e reorganizar isso”, disse.

A secretária de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, Arlete Sampaio, anunciou que o governo local também quer ampliar o acesso da população em situação de extrema pobreza aos serviços públicos, como educação, saúde e habitação. Para isso, o trabalho envolve mais de 13 secretarias. Outra meta do plano lançado é promover a inclusão produtiva dessas pessoas, gerar renda e emprego (leia quadro). “O governo federal conseguiu construir um país com redução das desigualdades. O governador tem muita audácia e coragem para lançar o plano no DF”, disse.

Especialistas ouvidos pelo Correio destacam a importância desses programas, mas alertam para falhas. Para o professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), Marcel Bursztyn, não se pode descartar a política de redução da pobreza extrema e a melhoria da qualidade de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Mas não podemos deixar de considerar que, quando o governo federal lançou o Bolsa Família, já se falava em erradicação da pobreza extrema. Passados oito anos, constatamos que o país ainda luta para cumprir a meta do milênio de erradicar a miséria”, afirmou.

“É preciso haver empregabilidade para que essas pessoas não dependam desse instrumento de transferência de renda. O mais importante é a oportunidade. Há um paradoxo, porque faltam profissionais na construção civil, por exemplo, e gente que precisa receber qualificação”, constatou. Segundo o professor, a dependência gera acomodação. Ele defende o investimento na educação para que os filhos dessas pessoas que vivem na extrema pobreza não acabem na mesma situação que os pais. “Nós não estamos fazendo o nosso dever de casa”, afirmou.

Dificuldades

No DF, 51 mil pessoas recebem o Bolsa Família. Outras 48 mil, um benefício do Governo do Distrito Federal (GDF). A dona de casa Lucidalva Silva Veras, 28 anos, moradora da Estrutural, é uma delas. Ela recebe R$ 130 por mês e, com esse dinheiro, sustenta a casa e os dois filhos, de 3 e 5 anos. O marido não tem emprego fixo. Ela trabalhava como catadora no lixão da cidade, mas, desde que engravidou do terceiro filho, encerrou a atividade por motivos de saúde. Há um ano, recebe o benefício. “É pouco, porque, se meu menino adoece e separo o dinheiro para comprar remédio, vai faltar para outra coisa”, lamentou. “Quero voltar logo ao trabalho, pois conseguia ganhar um pouquinho mais. Não posso deixar faltar comida para os meus filhos.”

Para a dona de casa, o novo plano do governo local pode melhorar a qualidade de vida de quem vive em situação de extrema pobreza, caso sejam cumpridos os compromissos assumidos no lançamento do programa. “Se a gente tiver acesso aos serviços públicos, como à educação, por exemplo, pode arrumar um emprego melhor”, sugeriu. “A saúde daqui também não funciona. A médica passa um remédio, mas a gente não encontra no posto e acaba pegando o dinheiro que seria usado para comprar um saco de arroz”, explicou Lucidalva.

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