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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

" A NELSON MANDELA " - POR ISMAEL CARDOSO

Em fevereiro de 2010 escrevi este artigo sobre o filme Invictus, que retrata de maneira memorável a figura unificadora de Neslon Mandela. Adeus Mandiba!
Título original do artigo:
INVICTUS, O ESPORTE E A UNIÃO NACIONAL DA ÁFRICA
“…sou dono e senhor de meu destino; sou o comandante de minha alma”.
Assisti uma bela história: Invictus, poema e título do filme que homenageia Nelson Mandela – ou Mandiba, como é chamado pelo povo africano, que em 2010 completa 20 anos em liberdade.
A história começa com sua libertação depois de 27 anos obrigado a trabalhos forçados na cadeia. Pasmem: ele optou por viver em regime fechado. Seus inimigos ofereceram uma prisão em regime semi-aberto caso deixasse de lado a luta revolucionária pela libertação de seu povo, mas se recusou a aceitar tal proposta e enviou uma carta a seus companheiros dizendo: “Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheidl”.
O filme aborda um aspecto interessantíssimo do governo Mandela e sua luta para unificar o país, com negros e brancos. Em 1995, a África do Sul sediaria a copa do mundo de Rúgbi e o time sul-africano, que era a paixão da “África branca”, tinha apenas um negro e não tinha a menor chance de ser campeão.
Mandela assume o poder com o país à beira de uma guerra civil, sob a desconfiança do mundo e a expectativa de utilizar sua vitória para revidar toda a humilhação que seu povo sofreu com o Aparthied.
Foi instigado pelas massas e seu partido a revidar, mas, aparentemente contrariando sua história de guerrilehiro e líder incoteste anti-apartheid, utiliza um dos maiores símbolos dos brancos – o rúgbi – para unificar seu país. Sua primeira atitude é impedir a mudança das cores do time que representam a África divida e a mudança do hino nacional que, obviamente, era um canto da “superioridade branca”. Dizia que mudar as cores do time e o hino nacional era fazer com os brancos o que eles fizeram com o negros – ou seja, tirar-lhes aquilo que gostavam.
Ele governaria para todos – acho que já ouvi essa frase por aqui -, mas, não seria fácil. Além de toda a desconfiança e sabotagem das elites, havia até um urubólogo do tipo Mirian Leitão que fazia piada com a vontade do líder de fazer do time de rúgbi campeão daquela copa do mundo – o time era muito ruim! Mas sabia que, quando o time jogasse com todo o país, jogasse com o coração de uma nova nação, democrática, de direitos para todos, a história poderia ser diferente. Em síntese, Mandela buscou utilizar o esporte para universalizar o sentimento de uma nova nação!
Ficou fácil agora entender por que o filme se chama invictus? Claro, o time foi campeão sem perder nehuma partida e, quando o urubólogo provoca o capitão do time dizendo que foi até facil ganhar com 63 mil pessoas torcendo a favor, o capitão, branco, filho de um anti-mandela, responde prontamente: “não fomos campeões com 63 mil, fomos campeões com 43 milhões de africanos”.
Por último, o título do filme, como disse, é de um poema e não tem relação apenas com a invencibilidade do time de rúgbi, mas é o poema preferido de Mandela. Dizia ele que nos 27 anos que passou naquela pequena cela, toda vez que se sentia enfraquecido, triste, abatido, ele lia aquele poema, que o revigorava a continuar de cabeça erguida pelo fim de todas humilhações impostas pelo imperialismo ao seu povo e que, mesmo assim, foi capaz de perdoar e governar para todo o povo africano, brancos e negros.
Invictus (William E Henley)
Do fundo desta noite que persiste

A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,

Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,

Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,

Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

Fonte: UNE

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