Leia artigo da presidenta da UEE-SP sobre trotes nas universidades
Ser aprovado na universidade é o sonho da maioria dos jovens. São anos de esforço e estudo. Quando se trata de alunos do ensino público de São Paulo as dificuldades são ainda maiores, quem estudou ou estuda nos colégios estaduais bem sabe. Mas enfim, após anos de batalha lá está o jovem, finalmente no ensino superior.
O momento da entrada na universidade, o verdadeiro rito de passagem para a vida adulta, é algo cercado de simbolismo e será lembrado pelo resto da vida não só do novo universitário, ou “bixo” como chamamos em São Paulo, mas também por toda sua família que sonhou, e também lutou, por aquele momento.
Mas o que deveria ser algo especial tem se tornado muitas vezes um pesadelo na vida de estudantes por causa de verdadeiros abusos cometidos nos “trotes” por todo o Brasil. Abusos de toda ordem acontecem, desde veteranos que obrigam os calouros a ingerirem bebidas alcoólicas, que apelidam os alunos com piadas de mau gosto, até atos de violência física como pintar os estudantes com substâncias químicas que já levaram a queimaduras.
Nessas horas, é preciso lembrar, se reproduzem uma série de violações aos direitos humanos e aí recorrentemente presenciamos atos de racismo, machismo, homofobia e xenofobia. Quem não se lembra dos estudantes negros amarrados na UFMG, emulando a forma como eram tratados os escravos, e cercado por outros estudantes que usavam bigodes postiços lembrando o ditador nazista Adolf Hitler? Ou então dos estupros revelados recentemente por alunas da USP?
Iniciativas importantes começam a aparecer. Em São Paulo, o deputado Adriano Diogo (PT) e da deputada Sara Munhoz (PCdoB), instituíram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa que investiga as violações dos direitos humanos nas faculdades paulistas. Uma campanha da Ordem dos Advogados do Brasil contra o trote violento foi lançada com slogan “Entrar na faculdade tem que ser motivo de alegria”. A União Estadual dos Estudantes, em conjunto com DCEs e com a UNE, lançou a campanha “Trote é integração. Sem violência e opressão”. O Centro Acadêmico Osvaldo Cruz, em conjunto com a Faculdade de Medicina na USP, organizou uma ação essa semana levando calouros e veteranos para promover atendimentos médicos no Anhangabaú.
Defendemos que todos os envolvidos nos atos de violações sejam punidos, constantemente que essas associações denunciadas sejam fiscalizadas para evitar abusos.
Punição para os agressores previstas em lei e até expulsão das instituições de ensino são necessárias, mas proibir o trote não acaba com a cultura de violência e opressão, só retira das dependências das universidades e o leva para fora. Fora dos muros da universidade a violação dos direitos humanos será ainda maior.
As entidades estudantis, os Centros Acadêmicos e Diretórios Central de Estudantes, tem papel fundamental nessa mudança de cultura e na representação dos discentes dentro das Universidades, e nessa hora elas são um “braço” fundamental para compor comissões de fiscalização dos trotes, coletivos de opressões, professores, reitorias e o poder público para inibir o trote violento e discutir permanentemente com a comunidade acadêmica uma cultura de paz nas universidades.
O caminho é criar políticas concretas de prevenção e conscientização contra o trote violento como cartilhas e campanhas. Mas também ir além promovendo ativamente ações culturais e políticas capazes de criar uma nova cultura de trote nas universidades, que promova o acolhimento dos estudantes recém ingressos com integração entre bixos e veteranos.
Uma universidade acolhedora é possível, enfrentando a violência e mudando a cultura.
* Carina Vitral é estudante de Ciências Econômicas da PUC-SP e presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário