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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

‘Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?’

Atos do Grito dos Excluídos que levaram mais de 10 mil pessoas às ruas só em São Paulo
Movimentos sociais promoveram no feriado da independência (7) a 21ª edição do Grito dos Excluídos. Na capital paulista, a caminhada partiu da Avenida Paulista, às 9h, seguiu pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio e encerrou, às 12h, no Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera. Entre os manifestantes ativistas pelos direitos das mulheres, pela igualdade racial, pelos direitos da juventude, pelo direito a moradia, entre muitos outros. Segundo a direção do Grito, mesmo sob chuva, um público de 10 mil pessoas esteve na manifestação da Avenida Paulista.
Para Raimundo Bonfim, coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), o local escolhido para o ato foi simbólico. “É como se a senzala gritasse contra a Casa Grande, na Avenida Paulista, do pessoal do poder econômico, do poder político. Nós da periferia vamos todo ano fazer esse grito, demonstrar que nós não vamos aceitar a retirada de direitos dos trabalhadores”, declarou.
Raimundo destacou os objetivos do protesto. “Esses movimentos populares se organizam todo ano, mas neste ano tem dois pontos principais. Um é a luta por democracia e o segundo é pela não retirada de direitos sociais, que esse ajuste fiscal não recaia sobre os trabalhadores, sobre as políticas sociais.”
Manoel Del Rio, advogado e assessor jurídico da Frente de Luta por Moradia (FLM), explica que a manifestação pede também justiça, moradia e igualdade social. “Nós vivemos um momento importante em que os movimentos sociais vão ter que lutar contra os privilégios, porque as pessoas que têm privilégios dominam o Judiciário, o Congresso, dominam a maioria da máquina pública. Eles estão pressionando o governo para se apropriar dos nossos benefícios.”
Durante a marcha foram proferidas palavras de ordem contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Os manifestantes cobraram, ainda, reforma política no país por meio de uma Constituinte exclusiva.
Para a secretária de Políticas Sociais da CUT São Paulo, Kelly Domingos, o Grito dos Excluídos representa a indignação da população contra figuras que emergem como personagens do retrocesso no país. “Nesse cenário de ajuste fiscal, ainda temos o Cunha, que impõe uma agenda de retirada de direitos com diversas manobras que prejudicam a classe trabalhadora”, aponta.

ATO NA SÉ

Outro grupo do Grito dos Excluídos protestou na Praça da Sé. O ato lembrou as mortes ocorridas nas escadarias da catedral na última sexta-feira (4). Os participantes deram um abraço simbólico na igreja, onde ocorreu o fato, que teve como desfecho a morte de duas pessoas. Uma delas era o pedreiro Francisco Erasmo de Lima, de 61 anos, que tentou desarmar um homem que mantinha uma mulher refém. O ato seguiria para a região da Luz, conhecida como “cracolândia”, mas, devido a chuva, a manifestação foi encerrada, por volta das 12h30, no mesmo local da concentração.
Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo e integrante da coordenação estadual do Grito dos Excluídos, lembrou que o ato já estava marcado para a Praça da Sé, mas ganhou um simbolismo especial com o fato da última sexta-feira. “O rapaz morava aqui na praça, era um morador de rua, e acabou dando a vida para salvar alguém que nem conhecia. Um excluído que dá uma lição dessa para a sociedade”, disse.
Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua, chamou a atenção para a exploração midiática do fato. “É a espetacularização da tragédia humana. O que se viu foi transformar isso em um espetáculo com a busca pela audiência”, avaliou. O papel da mídia faz parte do tema do Grito dos Excluídos deste ano.

21ª EDIÇÃO

Com manifestações previstas em todas as capitais e em várias cidades do interior do país, o Grito dos Excluídos acontece desde 1995. A mobilização nacional deste ano teve como lema “Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”, questionando a violência presente no modo de organização social, que marginaliza as pessoas, e a atuação da grande mídia, que manipula os meios de comunicação sob o seu poder conforme os seus interesses políticos, sociais e econômicos.
Os assuntos trazidos como tema do Grito são discutidos durante todo o ano para culminar em manifestações populares pelo Brasil no Dia da Independência. O papel da mídia é uma novidade entre os temas comumente escolhidos. A defesa de uma reforma política democrática também. “Escolhemos o 7 de setembro por ser um dia em que devemos lembrar que ainda não conquistamos nossa independência desse sistema político que distorce a democracia”, diz Raimundo Bonfim, em referência ao financiamento empresarial de campanhas eleitorais.
No Rio de Janeiro, após o desfile militar do 7 de Setembro, movimentos sociais saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas, no centro. A concentração começou às 9h na Rua Uruguaiana e a caminhada até a estátua de Zumbi dos Palmares partiu, por volta das 11h, com a participação de movimentos feministas, negros, indígena, de juventude, por moradia, educação, comunicação popular, sindicalistas, classistas e partidos de esquerda. Com a chuva, a passeata reuniu menos pessoas do que o costume, de acordo com os manifestantes.
Em Brasília, movimentos sociais com diferentes reivindicações se concentraram na Catedral e desceram a Esplanada dos Ministérios após o encerramento do desfile de 7 de Setembro. “Não falamos contra ou a favor do governo. Temos um leque amplo de reivindicações, defendemos a democracia e somos contra a intervenção militar. Somos cerca de 40 organizações que reúnem aqueles que precisam ser ouvidos”, disse o coordenador do protesto, Fábio Miranda.

ORIGEM DO GRITO

A proposta do Grito surgiu no Brasil, em 1994, a partir da iniciativa da Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e movimentos sociais e o 1º Grito dos Excluídos foi realizado em setembro de 1995, levando às ruas o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano: “A Fraternidade e os Excluídos”. No ano seguinte, a Assembleia Geral dos Bispos, discutiu e aprovou a inserção do Grito dos Excluídos no projeto Rumo ao Novo Milênio. Em 1999, o Grito rompeu fronteiras e estendeu-se para as Américas.
Fonte: UNE

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