DENISE ROTHENBURG-DF
A troca de bastão na Esplanada e nos estados serviu para que o PT, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Eduardo Campos e Cid Gomes tentassem se posicionar para atuar forte rumo a 2014
Político só pensa mesmo em eleição. Por isso, nenhum dos personagens com grandes projetos futuros deixou escapar a oportunidade de delimitar espaços e mover peças nesse período de passagem de reorganização de governos, tanto federal quanto estaduais. A presidente eleita, Dilma Rousseff — leia-se, Lula — os governadores Geraldo Alckmin, de São Paulo, Antonio Anastasia, em Minas Gerais, Eduardo Campos, em Pernambuco, e Cid Gomes, no Ceará, todos agiram de olho no movimento para largar bem rumo a 2014. Ou, pelo menos, tentaram.
Vejamos Dilma Rousseff. O recado subliminar da transição percebido por vários atores da política foi colocar o PMDB e o PSB no lugar que o PT espera que essas agremiações continuem ocupando no futuro — o de coadjuvantes de um projeto onde a estrela permaneça no papel principal. Já na primeira semana saíram das mãos do PMDB os Ministérios de Comunicações e o da Integração Nacional. Os peemedebistas não gostaram, fizeram muxoxo, mas, sinceramente, iam fazer o quê nessa altura do campeonato, ou do filme? Nada. Deixa a Dilma brilhar e, lá na frente, a gente vê como fica a bilheteria desse enredo.
Com o PSB não foi diferente. O partido comandado por Eduardo Campos saiu das urnas como um recordista eleitoral. Eduardo foi logo para as páginas amarelas da revista Veja. Ali, falou da necessidade de ter um bom relacionamento com a oposição, em especial o PSDB. Enquanto negociava o espaço do partido no governo Dilma, jantou com o senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves — alguém que até as emas do Palácio da Alvorada sabem que o PT vê como o nome mais forte dos tucanos para tentar quebrar o sonho petista de 20 anos de poder.
O menu político daquele jantar não fez bem ao PSB. Dia depois, lá estava Eduardo às voltas com um convite que Dilma fez a Ciro Gomes para que participasse da equipe de governo e dentro do espaço reservado ao PSB — um lugar que o próprio Ciro dissera ao presidente do PSB que não queria, abrindo espaço para a indicação de Fernando Bezerra Coelho, de Pernambuco — um dos primeiros nomes apresentados para o futuro governo e que, diante do convite a Ciro, só foi confirmado no fim, depois que o irmão de Cid Gomes recusou a oferta.
Muitos atores da política têm hoje tem certeza de que o fato de Dilma chamar Ciro para a Integração foi apenas para tentar dividir os socialistas. Pernambuco terminou na Integração, Ceará levou o ministério de Portos, mas a bancada na Câmara ficou sem nada. E, para muitos, ficou o aviso: se o presidente do PSB pode confraternizar com Aécio, longe do PT, os petistas podem colocar mais cenas de explosões no filme, sufocando quem deseja se sobressair mais que o PT.
O roteiro de Aécio
Geralmente, os governadores convidam deputados estaduais para compor o secretariado e, assim, com vários suplentes nomeados, facilitar a vida na Assembleia estadual. O mandato, nesse caso, passa ser, assim, uma espécie de… cargo de confiança. O suplente que vota contra o governador sempre pode sair para dar lugar ao titular.
Em Minas, foi diferente. Se você, leitor, olhar com atenção verá na escolha de deputados federais para o secretariado de Antonio Anastasia um movimento em prol de Aécio Neves. O senador passa a ter uma bancada fechada com ele na Câmara dos Deputados em Brasília. Os suplentes que assumem por obra e graça de Aécio e de Anastasia chegam orientados para enfrentar os paulistas. Embora ninguém vá dizer publicamente que fará essa disputa, ela virá, pode anotar.
O enredo paulista
Geraldo Alckmin, o governador eleito de São Paulo, também não deixou passar em branco a chance de se posicionar. Ao montar o secretariado, isolou os aliados de José Serra e deu ao partido a senha de que deseja papel de destaque no cenário nacional e a volta à lista de presidenciáveis — indicações de que São Paulo continuará como cenário de guerrilha política por um bom tempo.
Enquanto São Paulo se engalfinha, Aécio se movimenta e o PT segura seus aliados na base do "se sair do cercado eu te detono", Lula, que também tem raiz política paulista, continuará solto, nas ruas. Começou com catadores de papel. E não se iludam, ele é um forte nome para daqui a quatro anos. Mas aí é outra história.
Coluna Entrelinhas publicada na edição de hoje do Correio Braziliense
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