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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO [In:] ''TABLETS''? Quando não sabemos sequer escrever nosso idioma !

Tablets vão à sala de aula

A era dos tablets
Autor(es): » MANOELA ALCÂNTARA
Correio Braziliense - 06/02/2012

Alunos de três colégios de Brasília começaram o ano letivo com os aparelhos como material didático obrigatório. Pais, professores e especialistas, no entanto, ainda têm dúvidas quanto à eficácia pedagógica da ferramenta.

Pelo menos três escolas particulares do DF inauguram o uso dos equipamentos na sala de aula. Educadores, pais e especialistas revelam preocupação quanto ao aprendizadoNotíciaGráfico


No lugar de lápis, papel e livros, computadores sensíveis ao toque. Após conquistar os jovens do mundo todo com as inúmeras possibilidades de aplicativos, jogos e interatividade, os tablets começam a invadir as salas de aula das escolas particulares do Distrito Federal. A ferramenta possibilita aos alunos buscarem informações em diversas fontes, ter acesso ao conteúdo explicativo por meio de vídeos e músicas, além de levar a modernidade do conteúdo virtual. Porém, a introdução do instrumento no processo de aprendizado de crianças e adolescentes na capital ainda é tratado com cautela por pais e educadores. As dúvidas referem-se a segurança, eficácia do sistema e dispersão que as ferramentas como a internet podem provocar dentro das instituições de ensino (veja arte).

Uma semana após o início das aulas nas unidades privadas de ensino, pelo menos três colégios apresentaram alternativas para inserir a nova tecnologia na realidade de estudantes do 1º ano do ensino médio. Sigma, Marista e Leonardo da Vinci usam maneiras diversas para que a inovação integre o ensino. Com um investimento alto em criação de aplicativos, instalação de redes sem fio e a capacitação de professores, um ponto é indiscutível: os estudantes se mostraram empolgados com a novidade.

O Correio acompanhou a primeira aula com tablet no Sigma. No local, os livros impressos das 16 matérias foram substituídos por material digital, criado especificamente para o aparelho. Em mesas de tamanho diferenciado, o tablet e o caderno compunham todo o cenário de ensino para a disciplina de espanhol. Olhos atentos à professora e ao novo equipamento. Os adolescentes ouviam o que a educadora falava e logo perguntavam: "Em que página?", "Como acho esse vídeo?"

Em 50 minutos, os estudantes tiveram contato com a língua estrangeira, conheceram músicas no idioma e ainda tiveram a oportunidade de interagir com outra cultura. Enquanto ouviam melodias, pesquisavam sobre os países que têm a língua como idioma oficial. Com mais alguns cliques, entenderam um pouco mais sobre a história e a geografia de nações que falam espanhol. Tudo isso por meio de um aplicativo desenvolvido pela professora da instituição. O livro virtual contém links, com informações adicionais em determinados pontos do texto.
Na parte de gramática, por exemplo, é possível clicar no local indicado e ter acesso a questões usadas no Programa de Avaliação Seriada (PAS), no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou no vestibular. "Começamos a primeira etapa do processo em 2010, quando observamos experiências de outros países com o equipamento. Decidimos, então, fazer um projeto pedagógico próprio, voltado para a necessidade de vestibular da região. Cada professor produziu o material interativo para as matérias, contratamos uma empresa de informática e ela topou o desafio", explicou o coordenador da área de física do Sigma, André Frattezi.

No início do ano, os pais levaram um susto ao perceber que o tablet e o conjunto de aplicativos faziam parte da lista de material escolar. O aparelho custa entre R$ 1 mil e R$ 2 mil, e os livros virtuais para estudo ao longo do ano, R$ 1,1 mil. O desafio começou com 1,2 mil alunos do 1º ano e aumentará paulatinamente, com expansão no ano que vem para os do 2º período. Os links informativos são parte integrante do sistema e muitos não precisam de internet para revelar as informações adicionais. Porém, a escola dispõe de rede sem fio, o que não impede os alunos de entrarem na rede.

Receio

A Associação de Pais de Alunos das Instituições de Ensino do DF, que representa 2 mil pais em Brasília, considera a iniciativa interessante, mas preocupa-se com a dispersão dos estudantes, que têm entre 14 e 16 anos. "A internet na sala de aula é algo que nos deixa apreensivos. É uma responsabilidade a mais para esses adolescentes justamente em uma época decisiva da vida deles, em que não estão maduros ainda. O sucesso dependerá da capacidade da escola e dos responsáveis para controlar isso", disse o presidente da instituição, Luis Claudio Megiorin. "É uma tecnologia nova e isso sempre nos trás dúvidas, mas acreditamos que o conteúdo interativo, planejado de forma correta, pode melhorar o aprendizado."

Keille Vacerman, 38 anos, tem um filho de 14. O garoto começará a utilizar a nova tecnologia. Ela acha a ideia interessante, mas confessa que, se o colégio não tivesse exigido na lista de materiais, a compra do tablet para o adolescente não seria feita tão cedo. "Não estava nos meus planos. A meninada adora, mas a gente não deixa de se preocupar. Será que esse conteúdo vai funcionar? Eles vão aprender? E a segurança, como fica? Tenho muitas dúvidas."

Outro ponto levantado pela mãe é quanto à fiscalização no acesso de sites fora do conteúdo da sala de aula. O medo é que os estudantes entrem em redes sociais e outros portais e não prestem a atenção no conteúdo. "Conversei com a escola e eles disseram que vão aumentar a fiscalização. Também educo em casa e acredito que os professores estarão atentos", disse.

O especialista na área de tecnologias da educação na UnB Gilberto Lacerda acredita que a ferramenta é inerente à evolução, um encontro marcado entre as escolas e a tecnologia, mas o risco de dispersão existe. "A pertinência das aulas será o diferencial para reter a atenção do aluno. A conscientização e o acompanhamento dos pais também é importante nesse e em todos os outros processos", disse. Para ele, se houver capacitação dos professores, aliada a boa infraestrutura, os resultados surgirão com rapidez.
Rafael Assis, Mikhaela Hanae, ambos de 14 anos, e Pedro Henrique Lima Cardoso, 15, admitem a possibilidade de dispersão, mas garantem que o voto de confiança dado a eles não será desperdiçado. "Acho, sim, que vai ter gente na internet, sempre tem uma exceção. A responsabilidade de garantir um futuro promissor agora é nossa. Achei o aplicativo claro, vai ficar mais fácil e interessante aprender", afirmou Mikhaela.

Pedro Henrique também comemora a mochila mais leve. "Na minha antiga escola, tinha que carregar oito livros e o caderno de 12 matérias. Agora, está bem melhor." Empolgado com a novidade, o rapaz acredita que o professor fará a diferença na hora de prender a atenção dos alunos. "O educador é o maestro. É ele que vai dizer o ritmo da orquestra. Com aulas interessantes, com certeza ficaremos concentrados."
Segurança
Se o ambiente virtual abre discussões, a segurança é uma preocupação constante para os pais. Eles temem que os filhos sejam visados por bandidos por terem na mochila um equipamento caro. A dúvida é plausível, segundo o tenente-coronel Eduardo Leite Sousa, comandante do Batalhão Escolar. Ele acredita que, em um primeiro momento, o material pode chamar a atenção. "Podemos comparar com a época em que os celulares começaram a fazer sucesso. Quem tinha o aparelho era mais visado, mas em um ou dois anos, a preocupação diminuirá."

Para evitar imprevistos, quem tem o tablet não deve ostentar o material fora da escola. O indicado é sair da sala, colocá-lo na mochila e não tirar até chegar em casa. "Temos hoje 500 policiais para fiscalizar 1.080 escolas, não podemos estar em todas. Por isso, os alunos devem andar por locais claros, só mexer nos aparelhos dentro das salas ou em casa, andar em grupos e não reagir a assaltos", orientou. Uma outra dica para que não haja prejuízo é fazer um seguro do aparelho. As próprias escolas e as empresas que vendem o tablet oferecem propostas atrativas, que custam em média R$ 150 reais.
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