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terça-feira, 19 de março de 2013

UM RESGATE AO DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE


Famílias de Alexandre Vannucchi Leme e Vladimir Herzog recebem reconhecimento do Estado 40 anos depois
Comissão da Verdade da UNE participou nesta sexta-feira (15/3) do primeiro ato público reunindo a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Comissão Nacional da VerdadeComissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, e Secretaria Especial de Direitos Humanos. A ocasião foi uma homenagem ao estudante Alexandre Vannucchi Leme realizada na Universidade de São Paulo (USP) na capital. A ocasião também reuniu a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça para duas cerimônias: a entrega de uma nova certidão de óbito para a família de Vladimir Herzog, jornalista morto durante a ditadura e o reconhecimento do estudante Alexandre Vannucchi Leme, também morto pela repressão, como anistiado político.
O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, destacou o ineditismo do encontro das Comissões e disse que relembrar dois casos emblemáticos como de Vannucchi Leme e de Ronaldo Mouth Queiróz (estudante também reverenciado no evento), em um lugar da juventude como a USP, era de uma simbologia muito forte que destacava o papel da juventude.
Durante o evento no Instituto de Ciências Geopolíticas da USP, foi inaugurada uma placa em homenagem a Vannucchi Leme.
A Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, também destacou a profunda responsabilidade desta geração no reconhecimento da história. “Reconhecemos as mortes, a tortura, vil e cruel promovida pelo Estado. Estas mentiras hoje tem um ponto final na trajetória de Vladimir e de Alexandre”, disse sobre os documentos falsificados sobre a morte dos perseguidos.
Estavam presentes no evento também o ex-ministro Paulo Vannuchi, “conselheiro de honra” da UNE nos trabalhos da sua Comissão da Verdade e o ex-ministro da Justiça José Gregório entre muitos outros representantes de instituições de Direitos Humanos.

40 ANOS DEPOIS ALEXANDRE VIVE!
A 68ª edição da Caravana da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça promoveu um julgamento simbólico do caso do estudante, que o reconheceu como anistiado político, assumindo a responsabilidade do Estado brasileiro por sua perseguição, tortura e morte. A comissão fez também um pedido oficial de desculpas do Estado brasileiro à família.
Natural de Sorocaba e estudante de geologia da USP, Vannucchi Leme militava na Ação Libertadora Nacional (ALN) e tinha 22 anos. Ele foi preso em 16 de março de 1973 por agentes do Doi-Codi-SP e barbaramente torturado. A ditadura militar divulgou duas versões falsas para a morte do estudante, uma de suicídio e outra de atropelamento. O corpo de Vannucchi Leme foi enterrado como indigente no cemitério de Perus em São Paulo.“Todos nós podemos sair daqui certos que não será em vão a caminhada sofrida em direção à justiça. Hoje estamos muito mais próximos delas do que há 40 anos atrás”, ressaltou o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro.

ALEXANDRE VANNUCCHI LEME PRESENTE
O deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, em sua fala lembrou que muitas das condições que levaram à morte de Alexandre permanecem intactas até hoje. “Infelizmente”, destacou.
Foi também o tom das falas dos líderes estudantis que discursaram no evento. O presidente da UNE, Daniel Iliescu, destacou que a luta que matou Alexandre não era só a luta por democracia, mas uma luta por uma sociedade melhor, por melhores condições de vida para as pessoas. “Essa luta está sendo continuada e nós que ontem morremos, nós que ontem tivemos a nossa morte anunciada nos jornais pelo governo como um atropelamento de terrorista, nós que depois de dez anos apenas pudemos ser enterrados, e nós que depois de quarenta anos vencemos hoje mais uma batalha, não estamos satisfeitos e venceremos outras batalhas rumo à verdade, à justiça e à memória”, disse.
Iliescu e Adrian Fuentes, presidente do DCE da USP, que recebe o nome de Vannuchi Leme, também ressaltaram os resquícios da ditadura que ainda assombram o país e lamentaram a repressão ao movimento estudantil da USP. Os dois lembraram sobre 72 alunos da instituição estão sendo processados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por formação de quadrilha em virtude da greve de estudantes de 2012. Iliescu disse que a luta dos estudantes tem que ser vencida dentro das universidades todos os dias e citou o código disciplinar que enquadrou os estudantes da USP. “Estão tratando esses estudantes como trataram Alexandre Vanuchi Leme. Claro, cada ato dentro das suas proporções. Mas, tantos anos depois a nossa geração está disposta a levar essa vitória adiante”, declarou sobre o caso.
Ele ainda saudou a família de Alexandre e disse que a atual geração de estudantes brasileiros, a atual geração da UNE, dos DCEs e dos centros acadêmicos do Brasil estão construindo também as suas comissões da verdade pra dialogar e influenciar construtivamente os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade.
“Isso quer dizer que Alexandre Vanuchi Leme somos nós hoje e nós buscamos honrar suas lutas por democracia e pelos sonhos mais bonitos de transformação social profunda que ele nutria e nutre na história de cada um de nós hoje”, afirmou.

NOVA CERTIDÃO DE ÓBITO A VLADEMIR HERZOG
Após as homenagens à Vannucchi Leme, a família Herzog recebeu da Comissão Nacional da Verdade um novo atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura em 1975. No novo documento consta como causa da morte “lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)”, o que substitui formalmente a versão de “asfixia mecânica”, divulgada pela ditadura.

MISSA
Após a cerimônia na USP, foi realizada uma missa em homenagem a Vannuchi Leme na Catedral da Sé, às 18h, exatamente como há 40 anos. Em 30 de março de 1973 foi celebrada uma missa em sua intenção que virou um verdadeiro protesto político na Catedral da Sé, e reuniu cerca de cinco mil pessoas apesar da forte repressão da polícia. Nesta sexta-feira a missa celebrada pelo bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino teve a presença do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, da Ministra Maria do Rosário, do deputado federal José Genoíno, e da psicanalista e integrante da Comissão da Verdade, Maria Rita Kehl.
Da Redação com informações  da  Assessoria de Comunicação da Comissão Nacional da Verdade

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