Confira
os memes e o manifesto da diretoria de Mulheres da UNE em homenagem ao dia da
Mulher Negra Latino Americana e Caribenha
“Negra sempre foi o meu
nome!”
(Elza Soares – Lata
D’água)
Em 25 de julho de 1992, guerreiras de diversos países
finalizavam o emblemático 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do
Caribe, demarcando esta data como um dia de reflexão sobre o papel da mulher
negra no desenvolvimento, emancipação e descolonização destas nações. Em junho
de 2015, elegemos mais uma mulher à presidência da UNE e uma mulher negra e
nordestina à vice-presidência: duas mulheres feministas, que constroem uma UNE
cada vez mais com a nossa cara.
A cara revolucionária da
direção da maior entidade estudantil da América Latina é a expressão de como
vem mudando o perfil do ensino superior brasileiro e, por consequência, do
movimento estudantil como um todo. A cada dia, mais mulheres tem se apropriado
dos espaços de auto-organização nas universidades brasileiras, seja nos tradicionais
centros acadêmicos ou diretórios centrais, seja nos mais diversos coletivos,
grupos e frentes.
A nossa presença enquanto sujeitos políticos vêm modificando a
cara do movimento estudantil brasileiro. É notório que este movimento
infelizmente ainda lida com os limites do machismo e racismo que buscam nos
vetar em determinados espaços tradicionais de poder, porém nosso empoderamento
reflete nossa capacidade de reinventar as ferramentas de luta e apontar novos
caminhos para a transformação da educação e de toda a sociedade.
É inconstestável o crescente no número de frentes feministas,
coletivos de meninas negras, rede de blogueiras, grupos de crespas, grupos de
poesia, grupos de estudo extra-curriculares, e uma infinidade de articulações
que, hoje em dia, coexistem com as disputas já institucionalizadas tanto na
academia quanto no movimento estudantil.
Nós, mulheres negras e latinas, temos mostrado que é possível
construir conhecimento, sem descaracterizar nossa história, que é possível
disputar um outro modelo de universidade através da cultura, e que conseguimos
pautar a assistência estudantil com um nítido recorte de identidade, que pensar
e debater orçamento participativo é estar conectada com o debate de combate ao
racismo institucional, e que lutar para a revisão curricular é combater o
sexismo, a lgbtfobia, o racismo e todas as formas de opressões que também
recaem sobre as mulheres.
“Seu corre é todo dia, sua luta é mais que grito… Armada
de ousadia!
Porque Lugar de Mulher é
onde ela quiser!”
(Marina Peralta – Ela
Encanta)
Esta explosão de experiências, saberes e resistências tem gerado
um impacto sobre os coletivos do movimento estudantil e sobre as entidades. A
União Nacional das e dos Estudantes está atenta às transformações
revolucionárias provocadas pela intervenção das mulheres negras e latinas e tem
se articulado para dar cada vez mais respostas às demandas que ainda
transbordam entre nós.
Estamos nos fortalecendo para ir de encontro à violência
institucionalizada, que, no modelo conservador de universidade vai desde o
despreparo do corpo docente e administrativo das instituições de ensino até os
casos de machismo e racismo mais escancarados, como vem sido denunciado todos
os dias nas redes sociais. A internet, inclusive, parece muitas vezes ser o único
meio de desabafo público e acaba sendo usado como um importante instrumento de
mobilização, pressão e constrangimento social sobre os casos de violência
recorrentes contra mulheres e, sobretudo, mulheres negras nas universidades,
pois internamente não há muitos mecanismos de denuncia e coerção para estes
casos. A rede, entretanto, é uma “faca de dois gumes”, pois também é ambiente
livre para manifestações de racismo, machismo, lesbofobia e todo tipo de
“piada” fascista que tem sido muito comum também no que chamamos de onda
reacionária dos últimos períodos.
Em tempos de crise somos nós mulheres e, principalmente, negras
e latinas que somos mais afetadas pelas dificuldades econômicas que vêm
impactando os investimentos na Educação e nos programas sociais, somos quem
sofremos com o encarceramento do povo negro e por isso, tambén protagonistas da
voz que grita NÃO para a redução da maioridade penal. Somos nós as mais
interessadas em luta contínua por um ensino superior cada vez mais acessível e
que nos garanta a conclusão de nossa formação, com segurança e direitos.
Somos aguerridas e não desistimos, encaramos as várias jornadas
de luta e vida por compreendermos a necessidade da auto-organização e por
reconhecermos que nossa vitória, além de não ser por acidente, será tomada por
nossas próprias mãos. Por isso, somos mulheres que diariamente construímos a
disputa social nas nossas salas de aula, em nossas bolsas acadêmicas, em nossos
estágios, em nossos lares, em nossas famílias e rotinas, nas ruas e na UNE.
Construímos um grandioso VI Encontro de Mulheres Estudantes, o
maior Encontro de Negras e Negros e o I Encontro LGBT da UNE em 2015, de modo
que na luta reunimos diversos militantes de todo o país para se articularem em
torno destas pautas e ocuparem cada vez mais os espaços protagonistas do
movimento estudantil e da política. Reinventar o calendário da UNE, priorizando
a construção destes espaços de autoorganização foi fundamental para a incrível
diversidade, força e capacidade de aglutinação explícitas no 54º Congresso da
UNE.
Nossa luta é contínua, não temos medo das dificuldades e
seguimos dia a dia com a parceria de nossas companheiras, acadêmicas,
professoras, as mulheres de nossa família que são nossas primeiras referências
e todas as trabalhadoras que fazem este país um lugar onde a esperança em um
mundo melhor ainda faz muito sentido.
Porque hoje é dia 25,
amanhã será também, embora outro dia, mas o Lugar da Mulher Preta e Latina é
onde ELA quiser!
“Deixa ela, deixa! Ser livre, seguir sem se importar
Se quiser ir pra
qualquer lugar, que vá. Não tem asas, mas pode voar!”
(Karol Conka – Sandália)
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