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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

LUGAR DE MULHER É… NO TEATRO!

Múltipla, a atriz e diretora Georgette Fadel transita entre palcos e bastidores com diferentes projetos há mais de 20 anos. Ao Site da UNE, ela falou sobre a peça “Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos” e os planos para o próximo ano
Quando, aos 17 anos, Georgette Fadel desembarcou em São Paulo para cursar bacharelado em Artes Cênicas na Escola de Comunicações e Artes da USP e o curso técnico da Escola de Artes Dramáticas, o teatro era coadjuvante em sua vida. “Tinha estudado apenas no ano anterior. Passei um período fazendo teatro de rua e aulas no conservatório Carlos Gomes, em Campinas”, diz.
A escolha impulsiva da menina do interior, no começo dos anos 1990, talvez estivesse cravada de alguma maneira no inconsciente, mas, antes, transbordava urgência. “Pensei no que poderia me garantir a liberdade”, conta. “Não sou filha de artistas. Ao mesmo tempo, sou. Meu pai é engenheiro eletricista, mas é um artesão da madeira, um artesão dos metais. Minha mãe é uma pessoa que me ensinou a cantar e a dançar.”
No teatro, encontrou não só a independência, como o protagonismo. Ao longo dos mais de 20 anos de carreira como atriz e diretora, consolidada sobretudo nas cenas artísticas paulistana e carioca, desdobrou-se em diversos papéis e projetos simultâneos. Com colegas da universidade, fundou a Companhia São Jorge de Variedades, pela qual dirigiu alguns espetáculos. Como atriz, foi vencedora do Prêmio Shell, um dos mais tradicionais do teatro brasileiro, com a peça “Gota D’água”, de Chico Buarque.
Seu último trabalho — ainda em cartaz nos dias 12, 13 e 14 de fevereiro, no Sesc Belenzinho, em São Paulo –, é a direção do espetáculo“Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos”, um resgate da trajetória de doze guerrilheiras que lutaram e morreram na Guerrilha do Araguaia, um dos maiores massacres da ditadura militar brasileira. A peça, idealizada pela colega Gabriela Carneiro da Cunha, esgotou a bilheteria para o mês de apresentações em São Paulo.
“Para mim foi muito importante dirigir ‘Guerrilheiras’. É um assunto escondido, velado, ainda não trazido à tona completamente, tanto que os corpos estão desaparecidos. É um tema de uma violência brutal sobre pessoas que estavam lutando por ideais humanos”, diz. “A minha relação com a ditadura é a que todo brasileiro deveria ter, aquela complexidade grande diante da opressão, diante da violência de um ser humano sobre outro. É a sensação de uma comunista, uma pessoa que tem um coração comunista, no sentido de querer o bem e a gestão comum, justa, humana, fraternal dos bens e de tudo que existe.”
De olho no momento político do Brasil, ela acredita que uma era de extremos — “tão difícil, tão dura, tão bélica, tão de lados opostos” — possa ser proveitosa para os movimentos sociais.  “Eu acho positivo que o positivo se diferencie do negativo, que as mulheres se diferenciem dos homens, que os negros se diferenciem dos brancos, que as coisas se acirrem para que cada minoria possa saber de si, possa reconquistar sua dignidade, suas características próprias, suas vontades, seus desejos e a luta possa acontecer com lealdade e transparência. Quando a direita se traveste de outra coisa, é muito difícil suportar. Então que venham. Que venham os gritos de guerra de todos os lados, porque pelo menos a coisa está visível.”
Em meio ao caos do mundo, Georgette busca suas verdades. Um de seus projetos para os próximos meses é um espetáculo de rua sobre ética e conflito com um grupo carioca. Nos palcos, ela estreia “A tragédia latino-americana” e “A comédia latino-americana”, dobradinha ousada de Felipe Hirsch, e, nas telas, participa de um longa de Daniela Thomas.  Entre um e outro compromisso, cava a consolidação de vontades pessoais, como um trabalho sobre a filósofa Simone Weil e a montagem do texto japonês “Hagoromo”.
Apesar de não saber escolher com clareza a preferência por atuar ou dirigir, nos últimos tempos Georgette tem se dedicado menos ao palco do que ao comando dos atores. “Como no ano passado eu dirigi quatro espetáculos, estou com mais vontade de estar em cena”, confessa. “Gosto muito de ter meu corpo envolvido, como um estado dionisíaco, mas gosto muito também do distanciamento do olhar da direção, que se aproxima muito de um olhar divino ou de um espectador.” No fim, para ela, só uma coisa importa: “Prefiro estar entre gente criativa, gente boa, gente amorosa.”
Fonte: UNE

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