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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

As idas e vindas de um ventrículo político – Por Richard Santos*

Todos os relacionamentos forçados, casamentos arranjados, em sua maioria, têm uma fórmula e/ou momentos comuns: começa bem, há promessas de amor eterno e troca de cuidados mútuos. Aos poucos surge o ciúme, a posse, as agressões psicológicas e físicas – inclusive o estupro conjugal – o arrependimento, uma nova lua de mel e, um dia, a morte, sempre de forma violenta. O ciclo de violência doméstica contra a mulher é igual em todo o planeta. Apesar disso, nem todas percebem a armadilha da qual são vítimas ou quando percebe já é tarde, deixa órfãos filhos incrédulos e vizinhos raivosos e alijados do relacionamento saudável que até então tinham, pelo novo parceiro (a) do violentador (ora).
Olhe bem o Brasil atual, governado pelo ilegítimo Michel Temer, pense nas nossas relações exteriores com José Serra, nos retrocessos dos direitos conquistados pelos movimentos sociais, a insegurança da educação, a precarização das relações trabalhistas, o fim dos ministérios fundamentais para o diálogo entre maiorias minorizadas e governo, e me diga se não tem relação com um casamento que começa arranjado?
Sim, não estou aqui para jogar flores ao governo deposto, creio sim que os arranjos feitos no governo Dilma para a manutenção do poder e pretensa governabilidade, que é dos tempos de Lula e sua tentativa de conciliação de classes, nos levaram a essa situação atual. Colocaram a mocinha na mão do lobo e não acreditaram quando o lobo dispensou a vovozinha para comer a mocinha e afanar seus pertences. Essa é síntese do golpe jurídico/midiático acontecido no Brasil, o qual boa parte da massa não se deu conta de que está sendo violentada diariamente. Porém, simples seria condenar o golpista e achar que de repente ele mudou sua postura política, não sejamos inocentes úteis, vamos a alguns dados sobre sua folha corrida.
Observar o passado de uma pessoa faz com que se compreenda minimamente o seu comportamento presente, ações e atitudes associadas a seu imaginário e mentalidade. Tentar entender Temer no governo é buscar em seu passado as causas de sua ascensão política, apadrinhamentos e submissões. Sua insegurança em tomar decisões, a insistente discrição arrombada pelo vazamento da carta enviada a presidenta legítima Dilma Rousseff. O olhar apurado, nada mais revela do que um político a serviço de poderosos grupos de interesses supranacionais que não pode ou abriu mão de uma legitimidade do ato político independente, em favor de uma subserviência da ação. Temer que cresceu politicamente durante o governo Franco Montoro em São Paulo ouviu seu primeiro “Fora Temer” em 1985 durante as assembleias grevistas da Polícia Civil de SP (ver reportagem do jornal Folha de São Paulo)**, como secretário de segurança do estado, assim como na presidência, mudou de posições diversas vezes, ao gosto do freguês.
Imagine que durante sua gestão no governo Fleury, como secretário da segurança pública propôs o fim da polícia militar e a unificação das polícias, conforme edição do jornal Folha de SP citado acima, em outro momento acusou o crescimento da indústria pornográfica na capital paulista como o principal motivador do aumento da criminalidade, em suas palavras: “A divulgação do chamado sexo explícito, tanto no cinema quanto em meios escritos, atua como elemento de incentivo ao crime, já que essas mensagens atingem, sobretudo, as pessoas carentes, econômica e emocionalmente” (TEMER- Folha de SP, 09.05.2016).
Enfim, as tentativas vistas ultimamente de dar uma nova imagem ao trapalhão e seus asseclas, não logrará êxito se não for associada a uma revisão do passado e uma reestruturação mental. Isso, certamente não acontecerá e continuaremos vendo “patetices” gigantescamente prejudiciais para a maioria da população em beneficio de uns poucos. Veremos também o papel do macho na condução do governo com mão de ferro e os acordos com os governos estaduais para o endurecimento da ação da polícia nas ruas, principalmente quando for na repressão às manifestações legitimas contra o seu “desgoverno”. É preciso estarmos atentos, nossa vida não vale nada para eles. Estão programados para nos eliminar.
** http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1769180-vice-investiu-na-seguranca-em-sp-e-defendeu-temas-conservadores.shtml (última visualização em 10/10/2016).
Fonte: UJS

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