UNE e os estudantes de todo Brasil contra a proposta de redução da maioridade penal
Uma
das principais discussões do 54º Congresso da UNE girou em torno do
tema da redução da maioridade penal. Os milhares de estudantes presentes
se mostraram veementemente contrários à proposta. Um ato de repúdio
ocorreu durante a plenária final, quando o bandeirão “Redução é roubada”
circulou em todo o ginásio Goiânia Arena.
Entre
os dias 3 e 7 de junho, o congresso realizou mais de 50 debates na UFG,
na PUC-GO e na Praça Universitária, atos públicos, atividades culturais
e uma passeata pelas ruas da capital de Goiás. Tema da mesa de abertura
do evento universitário que reuniu mais de 10 mil estudantes, a PEC
171/93, que tramita no Congresso Nacional, movimentou discussões em toda
programação.
O site da UNE
entrevistou o professor de história da rede pública de São Paulo,
Douglas Belchior, que se tornou um expoente da luta contra a redução da
maioridade penal. Autor do blog Negro Belchior, da CartaCapital, ele
compôs a mesa de abertura do 54o Congresso da UNE sobre a idade penal. Confira a opinião do professor sobre o momento desse debate na sociedade e no Congresso.
“Precisamos qualificar o debate público sobre a redução”
COMO AVALIA A POSSIBILIDADE DE O CONGRESSO APROVAR A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL PARA CRIMES HEDIONDOS?
É um absurdo. É a PEC da redução,
que está em discussão na Comissão Especial, versus aqueles que defendem
mais tempo de internação para os crimes hediondos. As duas propostas, na
prática, significam uma perda e uma derrota enorme para os direitos
humanos no Brasil.
A nossa missão
enquanto movimento social organizado é não se render a nenhuma das duas
propostas. É fazer força social, organizar as comunidades, e fazer essa
pressão chegar ao Parlamento. Devemos demonstrar que não é verdade que
exista uma opinião pública massivamente a favor da redução da maioridade
penal ou da punição aos adolescentes. Na verdade existe uma
desinformação muito grande e uma opinião não qualificada. Na medida em
que a gente qualifica a opinião, essa opinião pode mudar. Eu acredito
nessa conscientização popular. Não podemos deixar nenhuma das propostas
passar.
POR QUE OS PARLAMENTARES ESTÃO DISCUTINDO ESSE ACORDO?
Eu já ouvi coisas nos bastidores,
mas me recuso a fazer esse diálogo. Há quem diga que é melhor perder os
anéis a manter os dedos. O aumento do tempo de internação é radical, tem
efeitos muito parecidos com a redução. Ele é uma grande perda para o
movimento de direitos humanos e dos direitos da criança e do
adolescente.
QUAIS SERIAM AS ORIGENS DA DESINFORMAÇÃO SOBRE O ASSUNTO?
A população brasileira tem uma
informação que chega pelos meios de comunicação tradicionais, que têm
uma posição política a favor da redução da maioridade penal, que
significa, em outras palavras, a criminalização da pobreza, a
radicalização do racismo, o encarceramento da juventude pobre e negra.
Há
uma opinião coletiva não apenas em relação a esse tema, mas em relação a
vários temas da sociedade, que são formadas e controladas a partir das
grandes mídias. Não há nenhuma grande organização séria neste país, como
ONGs, igrejas, partidos, que seja a favor da redução da maioridade
penal. Existe uma massa inteligente, que não é pequena, que quer
qualificar o debate. Se for o caso, vamos aceitar esse desafio, vamos
qualificar o debate na sociedade. Agora, tem que debater outros assuntos
com a sociedade, como a taxação das grandes fortunas e o papel do
Congresso Nacional.
Da UNE.
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