Um grande
encontro de jovens estudantes, negros e negras, dispondo de muita energia e força
para lutar contra o racismo na sociedade e na universidade. Foi assim o 2º
ENUEESP, que levou centenas de pessoas para Araras, no interior de SP., nesse
último final de semana, entre os dias 18 e 20 de maio. Somado a isso, o local
escolhido para sediá-lo traduz a resistência a que se propôs o evento.O Sítio
Quilombo Anastácia foi constituído como um assentamento rural na cidade desde
os anos 70. No local também co- existe o terreiro Ilê Axé Yansã.
O debate que abriu oficialmente o Encontro, trouxe à tona o tema "O Negro e Negra no Projeto Nacional", com a participação na mesa de Rafael Pinto, ogan Pejigan do local , coordenador Estadual do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira-Cenarab/Conen e Danilo Morais, sociólogo e professor da UniAraras.
Consenso no debate, ser um negro e universitário é revolucionário e a universidade como centro do projeto nacional deve valorizar a história, autores e intelectuais negros.
"O projeto nacional deve levar em conta a maioria da população e os negros são a maioria. Não é o que acontece, nem nunca aconteceu. A questão racial é central no país e tem relação direta com a luta de classes. Para pôr fim a esse processo desigual no país, é preciso se organizar coletivamente. Ascensão individual não funciona para transformar. E encontros como esse são como universidades na produção de conhecimento", disse Rafael.
Para Danilo a saída para colocar o negro em destaque nas políticas sociais e econômicas requerem teoria. "Não há prática revolucionária, sem teoria revolucionária. Mas não vai surgir um teórico e apontar as saídas! Essas ideais vêm da base e responder à questão de como construir uma movimento de resistência e emancipação dos negros", avaliou o sociólogo.
GRUPOS DEBATES E DE TRABALHO
Pela tarde, diversas painéis simultâneos de debates rolaram no local. Cultura, desafios e permanência e racismo religioso organizaram uma linha de ação dentro dos temas, e os debates sobre segurança pública, mulheres negras,lgbts, saúde e trabalho trouxeram grandes contribuições para a atual conjuntura.
O painel sobre racismo religioso trouxe o fotógrafo Roger Cipó, que falou sobre a intolerância às religiões de matrizes africanas. " Não se trata de um preconceito contra uma ideia, um conceito religioso, é uma aversão, uma violência a tudo que vem de uma gênese negra. O candomblé é marginalizado e invisibilizado, porque nasce do protagonismo de negros e negras. É necessário fomentar esse debate em locais de produção de conhecimento, como a universidade, para também recriar as narrativas, avaliou Roger.
No debate sobre mulheres, que lotou o espaço, Priscila Santos, especialista em políticas públicas em gênero e raça, falou sobre a luta das negras é muito anterior ao nome " feminismo"."Nas organizações de resistência, os quilombos, as mulheres já rompiam desigualdades de gênero e o patriarcado".
Para Maria das Neves, coordenadora da UBM, é preciso assegurar que o projeto antipopular do atual governo não continue no poder. " Nós somos resistência. Mulheres, não tenham medo de serem negras e devemos derrotar essas estruturas que colocam a mulher em um segundo plano."
Marcos Paulo Silva, diretor de combate ao Racismo da UEE-SP, avaliou que o encontro da entidade trouxe as experiências de cada um na universidade e diálogo com as experiências históricas de resistências. "Conseguimos ressignificar muitos dos nossos símbolos históricos, e entendemos quais os nossos desafios para o próximo período e, assim, organizar uma rede de estudantes, coletivos e iniciativas negras para fortalecer nossa intervenção política e nos manter forte para acabar com o racismo e a exclusão da população negra".
No final do segundo dia foi lido um documento que sintetiza os diversos debates e apontamentos realizados durante o encontro foi lido. Esse documento traz diversas reivindicações e ações que devem nortear a luta dos estudantes no próximo período.
A deputada estadual Leci Brandão acompanhou a leitura do documento. "Esse é o momento da juventude negra colocar em prática o que foi discutido no evento.Que seja feito algo para acabar com esse racismo na sociedade, que mata e exclui os negros. Estou cansada do que foi feito lá atrás", avaliou a deputada.
A UEE-SP divulgará o documento na íntegra aprovado nos próximos dias nas redes e no site, e detalhes sobre as rodas simultâneas.
Programação Cultural
Durante os dias o Encontro contou com apresentações culturais. No sábado, dia 19.05, o Samba do Pé Vermêio botou todo mundo para dançar em uma apresentação contagiante.
Fechando o evento a cantora Bia Ferreira, trouxe toda sua resistência em voz e violão e a slammer Kimani fez sua poesia emocionar e levantar a galera.
Para acrescentar, Leci cantou em uma roda de samba no improviso, que surpreendeu a todos.
No sábado também aconteceu o lançamento do livro "Frantz Fanon - um revolucionário particularmente negro", do escrito Deivison Faustino.
O autor, que é professor de UNIFESP e doutor em sociologia, fez uma verdadeira aula sobre o psiquiatra e filósofo, com uma didática diferente, que prendeu a atenção de todos os participantes.
Em entrevista à UEE-SP, Deivison, ele explica que a obra traz a biografia do autor e comenta seus textos, livros e reflexões. " Até hoje não existe no Brasil um livro sobre suas contribuições. Os processos revolucionários precisam de um entendimento de que mundo estamos, para pensar em rupturas possíveis. O que acontece que muitas teorias ignoram o racismo e a contribuição de intelectuais e pensadores negros e impactam a leitura da realidade. Fanon faz essa provocação de que não há como entender o capitalismo, sem olhar para o racismo".
Fonte: UNE
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