Atividades incentivam a convivência em comunidade e o respeito ao debate de ideias.
DA GAZETA DO POVO
No contexto geral das escolas brasileiras, o ensino e a promoção de atividades ligadas à política ainda caminham de modo confuso. Os desdobramentos dessas falhas no ensino, e principalmente, suas causas são apontadas pelo professor Mário Sérgio Cortella, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), que vê problemas semelhantes na educação de uma geração anterior. “O erro começa quando se tenta impor esse assunto. O importante é aprender as noções de comunidade e isso tem início na prática”, afirma Cortella.
É justamente a ideia de comunidade que deve ter o lugar central no debate nas escolas, de acordo com o professor. Para ele, mais do que ensinar o funcionamento do estado e da administração pública, a necessidade é promover o convívio e o respeito recíproco como pontos comuns dentro dos componentes curriculares já existentes. “Esses elementos não devem vir como o que hoje está disseminado como conteúdos ‘extracurriculares’. Isso dá a ideia de um penduricalho, algo à parte da educação”, diz ele.
O professor ensaia algumas explicações para esta carência na educação brasileira. O fato de a democracia ainda ser muito recente no país, assim como o equívoco de reduzir o tema apenas à questão partidária seriam alguns dos frequentes tropeços dados pelo Brasil no tema. Como consequência, muitas vezes a escola acaba por afastar crianças e jovens do assunto – distância que em vários casos se mantém por boa parte da vida adulta.
Projeto constrói réplica de uma cidade
Segundo sua coordenadora, Sônia Sillas, a ideia é acompanhar o processo de aprendizagem, ao mesmo tempo em que se tenta despertar o interesse pela comunidade. “Os alunos conseguem viver essa metáfora, percebendo e pensando nos problemas das cidades e podendo trabalhar em cima deles”, conta.
Além de elegerem seus representantes, os estudantes sugerem projetos para serem debatidos. Como resultado, a professora aponta mudanças positivas na postura dos alunos, entre elas a melhoria no relacionamento com colegas, assim como uma primeira atenção a temas mais amplos relacionados à sociedade.
Na Câmara Federal, alunos acompanham o dia a dia dos deputados
No final de setembro, 78 estudantes de ensino médio, público e privado de todo o país se reuniram em Brasília para, durante cinco dias, simularem o dia a dia de um deputado federal. Chamado de Parlamento Jovem Brasileiro, o projeto é promovido anualmente pela Câmara desde 2004, e tem como objetivo introduzir o funcionamento do congresso para os jovens. Os pequenos deputados foram escolhidos pelas secretarias de educação de cada estado, depois de apresentarem um projeto de lei baseado em áreas como agricultura e meio ambiente, e saúde e segurança pública. Cinco estudantes paranaenses participaram do projeto este ano, três deles de Laranjeiras do Sul, um de Cianorte e outro de Toledo.
Entenda e veja a opinião de especialistas sobre os sistemas de avaliação do ensino criados nas duas últimas décadas.
DA AGÊNCIA BRASILHoje, no Brasil, há vários exames que medem a qualidade do ensino. Em 1990, foi criado o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que aplica provas de português e matemática, a cada dois anos, para alunos das redes pública e particular, do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e do último ano do ensino médio. Depois, foram criadas a Prova Brasil, que complementa o Saeb e avalia somente o 5º ano do ensino fundamental de escolas públicas, e a Provinha Brasil, para avaliar a alfabetização do 2º ano das escolas públicas.
Em 1998, o governo federal criou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para avaliar o desempenho dos alunos ao final do ensino médio, cujo resultado tem servido como nota para o vestibular em algumas universidades. Outro indicador da educação brasileira, também objeto de debate entre os especialistas que estiveram no programa, foi o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Educadores como César Callegari, que integra o Conselho Nacional de Educação e o Movimento Todos pela Educação, e a professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), divergiram sobre a forma como têm sido usados os indicadores dos sistemas que avaliam a qualidade do ensino no país.
Para o educador Cesar Callegari, os indicadores são importantes instrumentos de avaliação e servem principalmente para que a população possa cobrar maior qualidade das escolas. “Eu acho que um dos grandes fenômenos a que nós vamos assistir no país, nos próximos anos, é uma demanda popular em relação à qualidade da educação. Mesmo aquelas famílias que não tiveram acesso à educação estão hoje cada vez mais preocupadas em não só ter o filho na escola, mas que a escola seja boa.”
Já Lisete Arelaro considerou que a utilização dos índices deve ser feita com cautela. Para ela, a busca exclusivamente por bons resultados nos sistemas de avaliação pode levar as escolas a se tornar “cursinhos” para as avaliações do governo. “O que está acontecendo no Brasil é uma preparação dos alunos para fazerem os testes. Nas escolas públicas e nas privadas. Isso é temerário. Em qualquer escola pública, você apaga as questões do ano passado e faz o aluno repetir porque você vem vinculando salário de professor ao resultado do desempenho dos alunos nestas provas”, ressaltou.
Callegari concorda com o risco de uso dos índices para fazer ranking de escolas e não para a busca por qualidade, apesar de considerar os sistemas como importantes meios de avaliação. “Os índices são utilizados para ranqueamento de escolas, para escolas particulares falarem: vem para mim, porque eu só ótima. Comprem minha apostila, eu vendi para tal cidade, ela está com nota 6 no Ideb. Essas coisas são muito ruins, é um aproveitamento muito nocivo daquilo que é a finalidade específica desse indicadores”, admitiu.
O risco, segundo Lisete Arelaro, é a busca por bons resultados nos índices levar os municípios a abdicarem de desenvolver seus próprios sistemas de educação baseados em sua realidade e passarem a comprar, de empresas privadas, os programas de educação.
> DICA!
A EDUCAÇÃO foi tema do Brasilianas.org da última segunda-feira (3). O programa é exibido na TV Brasil sempre às segundas-feiras, às 22h, e reprisado na madrugada de terça para quarta-feira, às 3h30.
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