Ex-presidente da UNE faz uma reflexão sobre o aumento das passagens do transporte público
Há 134 anos eclodia, no Rio de Janeiro, a Revolta do Vintém questionando o imposto sobre o preço das passagens dos bondes puxados por burros no Rio de Janeiro. Esta revolta é avó da Revolta dos Bondes elétricos protagonizada pela UNE em 1956, bisavó das inúmeras passeatas pelo Passe-Livre das décadas 1990/2000 mobilizadas pela UBES e por grêmios de todo nosso país, e tataravó das manifestações de junho passado (e deste janeiro) que reacendeu milhões de jovens brasileiros.
Em 1880 a luta não partia dos 20 centavos, mas dos vinte réis (um vintém) e também não se esgotavam aí. As manifestações no Campo de São Cristóvão, no Largo do Paço, na rua Uruguaiana, na rua do Ouvidor e no Largo de São Francisco (em frente ao nosso querido IFCS) derrubaram a taxa de vinte réis e compuseram o contexto de decadência do Império no Brasil: a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República seriam conquistadas menos de dez anos depois.
Janeiro de 2014 terá novas passeatas: voltaremos às ruas contra o aumento das passagens de transporte público no Rio de Janeiro; pela publicidade das planilhas de custos das empresas e dos contratos de concessão do serviço; por avanços reais como o Passe Livre para todos os estudantes, em especial secundaristas da rede pública e universitários cotistas, prounistas e filhos da classe trabalhadora, inclusive nos finais de semana; por respeito aos trabalhadores do setor e pelo fim da dupla função; por qualidade e outra lógica estruturante para o transporte público de massas no estado e nas cidades do Rio de Janeiro que sobreponha o interesse popular aos enormes lucros privados; por uma CPI dos ônibus honesta na Câmara Municipal da capital; pelos nossos direitos fundamentais de ir e vir, à cidade e a uma vida melhor; pela superação da mediocridade política que infelizmente tem marcado nosso estado, pela afirmação do protagonismo do povo e da juventude como motor das mudanças necessárias rumo a uma sociedade mais justa.
Daniel Iliescu, ex-presidente da UNE
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