Tradicionais palavras mágicas 'por favor' e 'obrigado', que muitas pessoas aprendem quando crianças, parecem estar desaparecendo
Escute as conversas ao seu redor — colegas no escritório, clientes na fila da cafeteria, aqueles que te servem, aqueles a quem você serve, as pessoas que você conhece a cada dia. “Dê-me um café com leite.” “Passe-me aquele martelo.” Notou alguma coisa faltando? As tradicionais palavras mágicas “por favor” e “obrigado” que muitas pessoas aprendem quando crianças parecem estar desaparecendo.
Lisa Gache, co-fundadora do Beverly Hills Manners em Los Angeles, notou o gradual desaparecimento da linguagem cortês. Ela culpa o problema no coloquial. “A lenta erosão das ‘palavras mágicas’ no nosso dia-a-dia vernacular”, diz Gache, que treina pessoas para serem mais civilizadas, “tem a ver com a predileção a todas as coisas casuais na nossa sociedade hoje. Conversas descontraídas, vestuário casual e comportamento casual sequestraram praticamente todas as áreas da vida, e eu acho que isso não está ajudando ninguém”.
Outras frases educadas também parecem estar caindo no esquecimento. “Seja bem-vindo”, por exemplo. Dizer “obrigada” a alguém e ao invés de ouvir “de nada”, é mais provável que você ouça: “claro”, “sem problema”, “pode apostar”, ou uma longa lista de respostas que substituem o tradicional “de nada”.
Ao invés de dizer “obrigado”, as pessoas dizem “valeu”, ou mais frequentemente não dizem nada. E no lugar de dizerem “não, obrigado”, reações como “tô bem” são cada vez mais comuns. “Respostas como ‘tô bem’ e ‘pode apostar’ não carregam o mesmo sentimento ou transmitem a mesma convicção de quando estamos sinceramente expressando nossa gratidão”, diz Gache. “Elas parecem menos francas, quase como se fossem dolorosas para serem proferidas.”
Então, estamos apenas encontrando novas formas de dizer velhas frases educadas? As boas maneiras estão apenas mudando? Ou elas estão simplesmente sumindo?
Se tornando mais rude
“Coisas simples que dávamos como certas quando crianças não parecem mais fazer alguma diferença”, diz Gregory Smith, psiquiatra e blogueiro em Augusta, na Geórgia. Ele diz ter notado uma mudança tectônica durante seus 25 anos na medicina. “Dizer por favor e obrigado, perdir permissão, oferecer ajuda, e acompanhar soluções de problemas não têm mais tanta importância”.
Ele também observou uma mudança drástica em transações do dia-a-dia. “Passe por qualquer drive-through em uma lanchonete fast-food nos Estados Unidos. Passe por qualquer fila de caixa em uma mercearia. Entre na fila em uma loja de conveniência. Se você tiver sorte, o funcionário que te atender fará contato visual. Talvez falem. Porém mais provavelmente eles irão te entregar sua bebida e sacola enquanto olham sobre os ombros, sem sequer notar seu status de pessoa e não somente de consumidor”.
“Como aconteceu comigo em um aeroporto nos últimos dias, um atendente de quiosque pode colocar suas compras na sacola, passar o seu cartão de crédito, te entregar o recibo, tudo isso enquanto conversa no celular”. “Incrível e revoltante”, diz Smith. Um levantamento recente confirma as observações de Smith. Em 2011, 76% dos entrevistados de uma pesquisa do Rasmussen Reports disseram que os norte americanos estão se tornando mais rudes e menos educados.
Margareth Lacey, por outro lado, acha que muitas pessoas têm muito boas maneiras na sua vida cotidiana. No segundo ano na Universidade de Charleston — na cidade da Carolina do Sul, citada como uma das mais cordiais do país — Lacey nota que as pessoas podem ser bem educadas sem pisar sobre as gentilezas tradicionais.
Ela descreve uma situação rotineira: “Eu tomo café toda manhã na mercearia que tem ali na rua”, diz Lacey. “Essa manhã eu entrei e eles disseram, ‘Bom dia, vai querer o de sempre?’ Eu sorri e respondi, ‘sim, por favor’. Eles perguntaram como tinha sido a minha manhã enquanto faziam o meu café. Na saída eles disseram, ‘Aproveite. Até amanhã’”. Ela não espera que pessoas digam sempre a mesma coisa.
Princípios atemporais, boas maneiras em transformação
Nem a especialista em etiqueta Cindy Post Senning, diretora do Emily Post Institute em Burligton. O instituto, dedicado a promover a etiqueta e a civilidade, foi fundado há mais de 60 anos por Emily Post, que escreveu o livro de referência em boa maneiras, “Etiquette”, em 1922.
Para Senning — que é bisneta de Emily Post — etiqueta e cortesia abrangem dois componentes essenciais e interrelacionados: princípios e boas maneiras. “Os princípios de respeito, consideração e honestidade são universais e atemporais”, ela diz. Mas “boa maneiras mudam com o tempo e de cultura para cultura”.
Para fortalecer relacionamentos, ela diz, “precisamos articular esses princípios em todas as nossas interações. É respeitoso fazer pedidos ao invés de dar ordens, mostrar gratitude e apreciação, saudar os outros, dar nossa completa atenção, reconhecer apreciação mostrada e mostrar respeito por idade, posição e importância”.
No entanto, quando se trata da articulação em si, ela diz, “as palavras que usamos realmente mudam”. Por exemplo, Senning diz, é importante mostrar respeito por outras pessoas saudando-as quando as vê pela primeira vez — no corredor, em uma reunião, na rua. A forma de saudação, porém, se alterou com o tempo.
“Como vai você?” se tornou “Oi, tudo bem?”, que eventualmente mudou para “Oi, e aí?”. Como resultado da metamorfose, Senning diz, “hoje soaria um pouco afetado e talvez até desrespeitoso se em tom sarcástico, dizer ‘Como vai você?’”.
E outras substituições populares, como “sem problema” para “de nada”? Senning diz que prefere o segundo, “mas se a apreciação é expressada de forma genuína, eu não vejo o uso com uma perda de cortesia”.
Fonte: Opinião e Notícias
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