Nova presidente da entidade, Manuela Braga já lidera um dos principais movimentos nacionais em defesa da educação
Quinta-feira (8/12), terceiro dia de acampamento do movimento #OcupeBrasilia, e o sol continua forte em frente ao Congresso Nacional. Tubos de protetor solar são compartilhados entre todos, mas o calor seco não chega a ser problema para quem está fazendo história no gramado da Esplanada dos Ministérios. A disposição dos mais de 250 jovens, de 24 estados diferentes, permanece a mesma e se renova a cada momento com apoios de moradores, parlamentares e movimentos sociais.
Logo pela manhã, senadores, deputados e representantes do Ministério da Educação passaram pela ocupação e participaram da posse da nova diretoria da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Agora, quem assume a condução da entidade é uma mulher de 19 anos, Manuela Braga, estudante de Saneamento Ambiental do Instituto Federal de Pernambuco.
Manuela foi eleita no último domingo (4/12), durante o 39º Congresso da UBES, realizado em São Paulo há apenas quatro dias, mas já lidera um dos mais importantes movimentos de mobilização estudantil no Brasil dos últimos anos em defesa da educação. Foi após o 39º Conubes que boa parte das caravanas de estudantes rumaram sentido à capital federal. “Nosso acampamento teve início vitorioso. Logo no primeiro dia, foi aprovada, na Comissão de Educação do Senado, a destinação de 50% do Fundo Social do pré-sal para o setor. Isso foi uma grande vitória e me orgulho de estar aqui lutando pelo Brasil”, disse a nova presidente.
Manu, como é carinhosamente chamada por todos, terá ao seu lado Daniel Iliescu, também eleito recentemente o novo presidente da UNE, entidade irmã dos secundaristas. “A Manu já chega como uma liderança do acampamento e tenho a certeza de que juntos vamos dar continuidade à gestão do Yann, que foi vitoriosa para todos os jovens do Brasil. Quero dar as boas vindas a essa guerreira pernambucana e desejar boa sorte para as duas entidades nos próximos dois anos. Vamos à luta!”, brindou Iliescu, abrindo oficialmente a cerimônia de posse.
Quem se despede da UBES é Yann Evanovick, amazonense que nos últimos dois anos liderou os estudantes secundaristas e ganhou o respeito e admiração de figuras como a presidente do Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, e a deputada federal Fátima Bezerra (PT-RN), presidente da Comissão de Educação da Câmara.
“Vim aqui hoje desejar boa sorte para a Manuela, mas não posso esquecer do Yann, que foi sempre uma pessoa do diálogo e preocupada com a qualidade da educação no Brasil. Temos uma luta em torno do fim do vestibular e conto com a UBES para travarmos essa batalha”, pontuou Tuttman.
Já Fátima Bezerra, que havia na quarta-feira a noite feito uma visita ao acampamento, fez questão de retornar para prestigiar a posse da UBES. “Yann foi um guerreiro, um lutador”, disse, e lembrou a famosa música de Geraldo Vandré para convocar a estudantada a “não esperar acontecer” e fazer “a hora do PNE, a hora de de lutar por uma educação do tamanho do Brasil”.
Uma das falas mais aplaudida foi a do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), parlamentar mais jovem da Casa e ex-militante do movimento estudantil. Tendo participado da UNE e da UBES, ele homenageou Honestino Guimarães e lembrou a história de lutas das entidades contra ditaduras e nas mobilizações pelas “Diretas Já!” e no “Fora Collor”. Hoje, Randolfe encabeça uma das principais bandeiras dos jovens brasileiros, a aprovação do texto do Estatuto da Juventude, que contemple a meia entrada como direito dos estudantes. Ele é o relator da matéria no Senado.
“Fui da situação e da oposição no movimento estudantil, mas nunca caí no canto da sereia daqueles que quiseram dividir as entidades. Por isso, se depender do meu mandato e pela minha vontade eu vou colocar em votação na semana que vem na Comissão de Constituição e Justiça o Estatuto da Juventude e o meu texto irá constar a meia entrada exclusiva parta os estudantes”, garantiu.
Outros dois representantes do Senado presentes à posse demostraram que a pressão do #OcupeBrasilia em defesa de mais investimentos para a educação já deram resultado. Inácio Arruda (PcdoB-CE) e Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) são, respectivamente, autor e relator do Projeto de Lei do Senado (PLS138/2011), que estabelece que 50% do fundo social do Pré-sal seja destinado para a educação. Na versão aprovada pela Comissão de Educação do Senado, desses 50%, no mínimo 70% terão de ser destinados à educação básica; 20% para a educação superior; e 10% para ciência e tecnologia.
Inácio lembrou da ultima mobilização da UNE e da UBES em Brasília, no dia 31 de agosto, contra o aumento dos juros em frente ao Banco Central. Na ocasião, o senador lavou a porta do BC ao lado dos estudantes. “O país está crescendo, mas é preciso crescer mais e colocar o dinheiro aqui. Os juros no Brasil são escandalosos e crimininosos”, protestou, defendendo ainda uma maior valorização dos professores e um escola em tempo integral. “A campanha pelo Pré-sal faz lembrar a campanha do Petróleo é Nosso, vamos em frente porque só a juventude pode conquistar essa vitória”, convocou.
Quem também falou sobre a importância da UBES se colocar à frente na luta por um ensino integral foi o deputado Brizola Neto (PDT-RJ), que destacou a unidade dos movimentos sociais como elemento pontual para a disputa da pauta nacional.
Os deputados Daniel Almeida (PcdoB-BA) e Ivan Valente (PSOL-SP) relembraram a resistência do movimento estudantil ao longo de todos esses anos e disseram que não existe nenhum momento da história brasileira em que os estudantes não estiveram lá presentes para defender o país. Ivan contou que foi companheiro de Honestino Guimarães quando ambos combateram a ditadura na clandestinidade. “Me encontrei com ele no Rio de Janeiro e quero aqui fazer uma grande homenagem ao grande líder que ele foi”, lembrou. Honestino foi morto pela ditadura militar e é desaparecido político até os dias de hoje.
Alice Portugal, deputada pelo PCdoB da Bahia, também relembrou momentos tristes de nossa história, quando o governo recebia os estudantes a botinadas e tropa de choque. “Esse acampamento é uma mostra de que nosso país avançou nos diálogos com os movimentos sociais. Hoje, é a mídia tenta fazer ataques ao movimento estudantil. Agora, mobilizados e fortes, não podemos arreear a bandeira dos 10% do PIB para a educação”, ressaltou.
Ivan Valente, que acompanhou a apresentação do texto substitutivo do Plano Nacional de Educação, feita na terça-feira na Câmara, disse que os estudantes não podem aceitar menos de 10% do PIB para a educação. “Isso não é um número cabalístico”, brincou. “Ainda são 60 milhões de analfabetos, a maioria das crianças do país não estão em creches, não chegamos a 50% de presença no ensino médio. Além disso, o salário dos professores é baixo e a qualidade do ensino também. Se não investirmos forte em educação, continuaremos a patinar com os piores indicadores educacionais do planeta”, criticou
Seu companheiro de legenda, Chico Alencar (PSOL-RJ), relatou para os acampados as viagens que fez para os país onde estão ocorrendo protestos como os da praça Tahrir, em Cairo, no Egito e da praça de Madri, em Barcelona, na Espanha. “Em todos esses lugares e muitos outros, quem está mobilizando e mudando os rumos do mundo são os jovens”, provocou, dizendo que o #OcupeBrasilia traz também muitos pontos em comum com esses outros movimento que pipocam pelo mundo. “Em todos eles e aqui também existe a negação do sistema em sua essência”, finalizou.
Rafael Minoro/UNE
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