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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mulheres estudantes exigem mais segurança no transporte público

Estudante que sofreu assédio em ônibus de SP descreve sua realidade e de tantas outras no Brasil

No Brasil inteiro, mulheres sofrem com assédio, machismo e violência no transporte público. Para as que são estudantes e dependem fortemente desse deslocamento para ir e voltar da faculdade, a realidade é de medo e apreensão. A falta de qualidade faz com que milhares delas precisem se apertar em ônibus, metrôs e trens lotados para chegar à faculdade e para voltar para casa. Somente na cidade de São Paulo, em 2016 foram registrados quatro casos de assédio sexual por semana no transporte público.
Letícia V. tem 24 anos e é estudante de Ciências Sociais no período noturno, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e conta que ela e as amigas já passaram por várias situações constrangedoras no transporte. “Muitas amigas minhas às vezes saem mais cedo da aula, para não ir embora tão tarde, porque sentem medo de voltar sozinhas e moram longe”, conta.
O assédio mais traumático sofrido por Letícia aconteceu no dia 2 de março deste ano. Na ocasião, a estudante voltava na faculdade por volta das 20h30. Ela conta que o ônibus não estava completamente cheio e que só percebeu o assédio, quando sentiu o pênis do homem próximo ao seu braço.
O homem que a assediou é Diego Ferreira de Novais, o mesmo que protagonizou os assédios na Avenida Paulista recentemente, que ganharam repercussão nacional. Desde o incidente, Letícia mudou sua postura: “eu agora me recuso a sentar ao lado de qualquer homem em ônibus e metrô. Passo o tempo todo em estado de alerta e com medo de que aconteça de novo”, desabafa.

MEDO TAMBÉM PASSA PELO UBER E TAXI

Assim como Letícia, as milhões de universitárias brasileiras estão em alerta e buscando formas de se proteger da violência na sua locomoção diária. Muitas preferem avisar as suas amigas, por mensagens, para dizer onde estão e para onde estão indo, para que possam buscar se proteger umas às outras. A escolha por outros meios de transporte como o taxi e o Uber também não é garantia de segurança.
Recentemente, a escritora Clara Averbuck sofreu estupro em uma viagem do Uber e, após a violência, lançou nas redes a campanha #meumotoristaabusador, incentivando as passageiras a denunciarem casos semelhantes. A jovem Gabriela Balbino, moradora de São Paulo também denunciou um motorista do aplicativo 99 em sua rede social, registrando que teve, inclusive, de abandonar o veículo em fuga durante a corrida. O caso viralizou e motivou outras jovens a ampliarem as denúncias.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Para a diretora de mulheres da UNE, Ana Franco, a situação de violência e assédio só poderá ser revertida por um conjunto contínuo de políticas públicas. Não apenas, por exemplo a separação de mulheres e homens em espaços diferentes como o recém implantado “vagão cor de rosa” do metrô. “Isso dá margem para culpabilizar as mulheres. Como se o fato de ela não estar no vagão destinado a ela permitisse algum abuso”, reflete.
A mudança precisaria vir de um conjunto de ações em todas as esferas, voltadas à proteção da mulher e do combate ao machismo. “Queremos políticas que eduquem e, ao mesmo tempo, tragam mais segurança nesses espaços”, defende a diretora. O tema deverá estar no foco do próximo Encontro de Mulheres Estudantes (EME) da UNE, com previsão para o início de 2018.
Fonte: UNE

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