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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Quando a morte ensina a vida

A utilização de cadáveres para o estudo da anatomia humana é uma prática muito antiga. Os registros conhecidos direcionam à região da Mesopotâmia e ao Egito antigo há mais de 4.000 anos. O próprio vocábulo anatomia, que vem do grego anatome, significa o ato de seccionar ou dissecar e foi usado por Teofrasto, que era discípulo de Aristóteles, ainda no século III A.C.
Na ciência, Anatomia é o campo da biologia que estuda a estrutura física dos seres vivos, mas ganha especial atenção quando trata do ser humano, justamente por necessitar fazer uso de cadáveres. Não obstante seja uma atividade tão antiga, a Anatomia Humana sempre enfrentou, e ainda enfrenta, dificuldades na obtenção do seu objeto de estudo. Por questões de ordem filosófica ou religiosa, ou mesmo por desconhecimento do assunto, pessoas relutam em autorizar a doação do próprio corpo após a morte para estudos científicos.

Alunos do curso de Medicina da UFRN em aula de anatomia humana. Foto: Anastácia Vaz
Com o desenvolvimento das novas tecnologias, ferramentas como scanners cadavéricos ou manequins humanos em material sintético facilitam a aprendizagem, porém, como assegura Christina Camillo, professora do Departamento de Morfologia da UFRN, “o estudo da Anatomia Humana através de um cadáver proporciona uma maior aproximação com a realidade, e embora os modelos sintéticos estejam muito avançados, o cadáver é bem mais próximo do ser humano vivo”.
A disciplina de Anatomia Humana é estudada em diversos cursos, desde as graduações na área da saúde até em cursos como Dança e Engenharia Biomédica. Em residências médicas, o uso de cadáveres continua sendo necessário, principalmente na aprendizagem de técnicas cirúrgicas.
A arte imita a vida
O estudo da anatomia humana não se restringe somente às questões científicas. A cultura da Grécia Antiga era obcecada pela estética física, o que é facilmente comprovado pelas primorosas esculturas feitas àquela época. Para que isso fosse possível, os gregos se dedicaram aos estudos anatômicos.
Fauno de Barberini.
Na Roma Antiga, o arquiteto Marcus Vitruvius Pollio realizou um estudo sobre as proporções tidas como ideais para o corpo humano. Muitos séculos depois, Leonardo da Vinci, inspirado em Vitruvius, desenhou o “homem vitruviano”, e notabilizou-se como um dos artistas mais bem sucedidos na reprodução da biologia humana nas telas.
Homem vitruviano, Leonardo da Vinci. Reprodução.
Os holandeses Rembrandt e Mierevelt eternizaram a união entre a Arte e a Anatomia com telas que retratam aulas desta disciplina.
Lição de Anatomia do Dr. Tulp. Quadro de Rembrandt, 1632. Reprodução.
Lição de Anatomia do Dr Van der Meer. Quadro de van Mierevelt, 1617. Reprodução.
– Como é o corpo?
– Por dentro, é uma coisa maravilhosa e assustadora. Eu vi o coração, tem duas câmaras, com uma parede que separa as duas… mestre, nada é como está nos livros…
O diálogo entre os personagens Ibn Sina (o mestre) e Rob Cole (o aluno) no filme O Médico (The Physician, 2013) retrata a dificuldade e o fascínio de quem estudava a Anatomia Humana na Idade Média.
Como doar o próprio corpo
A Lei 8501/1992 dispõe sobre o encaminhamento, para fins de estudos ou pesquisas científicas, do cadáver que não for reclamado dentro do prazo de 30 dias, desde que não tenha sido vítima de morte violenta ou por ação criminosa.
O Departamento de Morfologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte criou um programa que incentiva a doação voluntária de corpos para estudos anatômicos. A doação não implica em nenhum gasto para a família do doador, sendo necessária apenas a manifestação da vontade de doar o corpo através do preenchimento dos formulários que garantirão a doação.
ADURN

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