Ao levar web aonde teles não atuam, estatal diminuirá tarifa no atacado e beneficiará consumidor, diz presidente
Desde o anúncio do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), no início de 2010, a única certeza que se tinha sobre o plano -que pretende levar internet a 68% dos domicílios do país até 2014- era a de que caberia à Telebrás competir com as teles.
Houve críticas de que isso seria uma "reestatização" do setor, privatizado em 1998. Empossada, a presidente Dilma Rousseff escolheu a banda larga como um dos pilares de seu governo.
Rogério Santanna, um dos idealizadores do PNBL, foi mantido na presidência da Telebrás, que agora atuará no atacado, pressionando as teles a baixar preços aos provedores. Leia entrevista.
Folha - A Telebrás não vai atender clientes residenciais?
Rogério Santanna - Nosso foco será o mercado atacadista. A internet ao consumidor não é barata porque cinco empresas que vendem no atacado para os provedores têm 95% do mercado de transporte [rede de dados]. O problema é que elas também vendem no varejo.
A filosofia da Telebrás não é arrancar o sangue do provedor, como as operadoras, que cobram preço absurdo para tirá-lo do mercado. Nosso objetivo é fazê-lo crescer, prestando bom serviço.
Vamos oferecer infraestrutura com preços menores que os do mercado. Em Manaus (AM), um link de 1 Mbps (Megabit por segundo) custa no atacado R$ 9.500. Por esse preço, não dá para o provedor vender no varejo a R$ 35.
Qual rede será usada?
Temos fibras ópticas próprias na rede das elétricas do sistema Eletrobras. São as fibras da falida Eletronet, as quais o governo retomou. Essa rede hoje tem 21 mil quilômetros e chegará a 31 mil quilômetros em 2014.
Com ela, cobriremos 4.283 municípios, 1.163 já em 2011. Também negociamos o uso da rede da Petrobras.
Uma das críticas à Telebrás é o fato de cobrir cidades como Campinas, que tem renda per capita elevada. Que cidades serão atendidas?
Há bolsões de apagão de internet em cidades ricas. Em São Paulo, a penetração de internet é de 35%. Em Campinas, 16%. Bairros pobres não têm acesso. A escolha das cidades tem a ver com esse problema e com a distribuição geográfica da rede elétrica [a fibra óptica corre com os cabos em que passa a energia].
Por que a massificação da web pelas teles não ocorreu?
No Japão, o serviço de voz responde por 30% da receita, o restante (70%) são dados [internet]. No Brasil, essa proporção é de 90% para voz e 10% para dados.
Como o mercado de voz é muito rentável, não existe incentivo para a operadora migrar para o mercado de dados, porque a margem de lucro é estreita e ela teria de vender muito mais.
O PNBL não muda isso?
As teles sabem que vão perder, mas tentam adiar ao máximo porque o crescimento do consumo de dados [internet] pode significar a canibalização do mercado de voz.
A abordagem delas é operar onde há mais renda e população. Nas classes A e B, o consumidor não tende a cortar o telefone ao passar a usar a internet. Na classe C, possivelmente haverá corte ou queda do consumo.
Nesse cenário, qual será o papel da Telebrás?
À medida que entregarmos infraestrutura aos provedores, das duas, uma: ou o mercado de internet fora dos bolsões de riqueza não ficará com as teles, e passará a ser atendido pelos pequenos provedores, ou elas se darão conta de que não é assim.
Há interessados?
Até o momento, 285 provedores [de um total de 2.076] se cadastraram como parceiros da Telebrás. A associação dos provedores já me garantiu que não há lugar do país onde eles não possam estar.
E se não aderirem?
Haverá franquias da Telebrás, algo que poderia valer para LAN houses ou pequenos provedores.
Eles poderão comprar alguns de nossos equipamentos, receber treinamento, e providenciaremos a conexão até o enlace (torre) mais próximo para que virem operadores.
Com qual compromisso de qualidade?
Nenhum provedor poderá colocar mais do que dez pessoas dividindo uma conexão de 10 Mbps. É como tentar evitar o overbooking da internet. Nossa rede medirá esses índices no provedor e até no usuário. Quem não cumprir a regra poderá não ter acesso a preço diferenciado. Nas teles, nem 10% da velocidade é entregue. Na Telebrás, não queremos que o mínimo seja o máximo.
As metas serão cumpridas?
Se os recursos forem aportados, como combinado.
A que custo?
Nada será subsidiado, tudo aqui vai se pagar.
Fonte: Folha de S. Paulo
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