Tiago Pariz
Publicação: 20/02/2011 08:55 Atualização:
Depois de sentir o gosto de aprovar um projeto polêmico na Câmara dos Deputados com o apoio da ampla maioria, o governo corre para pautar o Congresso com outros temas que causam divergências. A ideia é aproveitar os efeitos da pressão feita pelo Planalto nos integrantes da base aliada durante as negociações em torno do reajuste do salário mínimo e evitar uma nova ofensiva palaciana de cobranças e ameaças a parlamentares e partidos. Os governistas acreditam que, se temas controversos entrarem na pauta nas próximas semanas, será possível se beneficiar do clima de fidelidade ao Executivo conquistado durante a última votação.
A estratégia do governo já causa reações dos dissidentes e da oposição. “Essa tática que eles vão usar chama-se ‘aproveitamento do êxito’. É uma tática militar que a presidente Dilma conhece e sabe que funciona. Nesse bolo, a gente já sente até o cheiro da recriação da CPMF passando com tranquilidade”, afirma Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Apesar do temor em torno das propostas que podem ser pautadas nos próximos dias, o governo afirma que o primeiro item da lista de matérias que vão pegar carona na maré a favor dos interesses do governo é a Medida Provisória que institui a Autoridade Pública Olímpica (APO). A proposta é criticada pela estrutura de cargos — quase 500 de confiança — e de gastos que vai criar. Mas o maior obstáculo à aprovação é a briga de bastidores entre legendas pelo comando do órgão que gerenciará as obras das Olimpíadas de 2016.
O embate tem como principais protagonistas o PMDB e o PCdoB. “Tem muita divergência em torno dessa matéria. Mesmo assim, estamos conversando para ver se conseguimos votá-la já na próxima quarta-feira. Eu diria que não é muito fácil para o governo, mas o momento é de conforto para esse tipo de votação”, diz o líder governista Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Na agenda do Planalto está também o reajuste da tabela de Imposto de Renda. O governo quer propor correção de 4,5% na tabela do IR, mas a oposição e os partidos da própria base, como o PDT, brigam por um percentual de 6%. A ideia é acelerar a discussão da proposta para aproveitar o enquadramento feito ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que é indicado dos pedetistas.
O governo espera manter o clima interno de constrangimentos dentro da legenda e minimizar os efeitos da campanha por um percentual maior de correção da tabela. “Nossa intenção é acelerar essas discussões e votar a correção assim que o Senado analisar a proposta do novo valor do salário mínimo aprovado na Câmara na última quarta-feira. Por isso, estamos pedindo pressa aos senadores da nossa base para a discussão da matéria. Queremos resolver a correção rapidamente”, conta Luiz Sérgio, ministro de Relações Institucionais.
Despesa
Outro projeto que sairá da gaveta é o que limita o crescimento do gasto com pessoal por ano. O percentual-limite, estabelecido em projeto de lei que tramita no Senado, é a inflação do ano mais 2,5%. A presidente Dilma Rousseff quer reduzir o percentual para 2%. “Essa proposta nos interessa, mas não é uma coisa difícil porque o limite de 2% é razoável, não gera muita polêmica. Não vamos demorar a articular a votação desse projeto”, afirmou o líder do governo na Câmara.
O presidente da casa, Marco Maia (PT-RS), diz que também deve pautar rapidamente a votação do Código Florestal e acelerar a discussão em torno das reformas tributária e política. A mudança no sistema de imposto e tributo, que se arrasta desde 2008, é considerado como prioritário pela presidente Dilma Rousseff.
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