Estudante de agronomia é observada por outros calouros e veteranos enquanto se lambuza em poço de lama: brincadeira foi parar na internet. Integrante do CA têm discutido mudança.
Naira TrindadeThalita Lins
Publicação: 29/01/2011 08:42 Atualização: Extráido do Correio Braziliense.
Após repudiar os excessos cometidos no trote de agronomia, ocorrido no último dia 11, o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa Junior, prometeu abrir uma sindicância na próxima segunda-feira para identificar e punir os envolvidos na brincadeira. “Participo do entendimento da Secretaria (de Políticas para as Mulheres da Presidência da República) no sentido de que os fatos traduzem atos de violência e discriminação contra a mulher. E, tal como venho afirmando, ainda que consentidas, elas traduzem redução da dignidade da pessoa, violando a ética da convivência comunitária”, afirmou o reitor.
Na reunião marcada para segunda-feira, José Geraldo pretende discutir normas para políticas estudantis e de convivência universitária. Uma comissão de professores, diretores e integrantes da reitoria deverá ser criada para debater sobre as condutas comunitárias. “O processo vai orientar condutas na linha de trotes ecológicos, solidários”, disse.
José Geraldo afirmou ainda que, em até 30 dias, os envolvidos no trote podem ser advertidos caso sejam considerados culpados por violar a ética e reduzir a dignidade dos novos colegas. Apesar das intenção punitivas, o reitor diz que a instituição pouco pode fazer para evitar tais ações. “A universidade não pode impedir que trotes aconteçam porque não há uma norma legal que proíba essa prática. Mas ela pode tentar inibir essas situações”, avaliou.
No trote universitário do último dia 11, mulheres foram fotografadas ajoelhadas lambendo uma linguiça lambuzada de leite condensado. O objeto era segurado na altura do quadril pelo diretor do Centro Acadêmico de Agronomia, o aluno do 6º semestre Caio Batista, 21 anos. Ao redor das novatas, veteranos se divertiam com o episódio. As cenas caíram na internet e foram divulgadas nos principais sites de relacionamento. No câmpus, o tema virou assunto das rodinhas.
Caloura de agronomia, Lisanne Santos, 17 anos, optou por não participar do trote universitário. Após terminar uma prova, em 11 de janeiro, ela pegou os materiais escolares e seguiu para casa. Outros 39 estudantes repetiram a postura de Lisanne. Dos 80 calouros, 41 toparam encarar as brincadeiras. Além da linguiça, os alunos mergulharam numa piscina de sabão, se lambuzaram na lama e pediram dinheiro a motoristas no semáforo. Antes, foram obrigados a fazer um juramento no qual se humilhavam (veja ao lado). A jovem diz ter se arrependido por não participar e estuda integrar a equipe no próximo semestre. “Não há exageros uma vez que você escolhe de qual brincadeira participar.”
A aluna do 2º semestre de agronomia Felícia Viana, 23, não se sentiu humilhada com a diversão. “O trote é um rito de entrada e as participações são voluntárias, não obrigatórias.” Porém, a polêmica sobre o assunto tende a modificar as boas vindas do próximo semestre. “A repercussão negativa vai fazer com que façamos uma reforma. E teremos que modificar as brincadeiras”, afirmou Nobuyuki Kahi, 24 anos, aluno do 11º semestre. “A brincadeira não tinha cunho sexual, mas vai acabar por causa dessa repercussão”, garantiu Nobuyuki.
A polêmica sobre o exagero incomodou também o corpo docente. Na quarta-feira, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República pediu esclarecimentos à universidade sobre o fato.
A subsecretária da Secretaria de Políticas para Mulheres e professora do Departamento de Sociologia da UnB, Lourdes Bandeira, lamentou que mulheres sejam vítimas de brincadeiras envolvendo sexualidade. “O mais grave e lamentável é que os nossos jovens universitários ainda enxergam as mulheres como objeto sexual”, afirmou. “O fato de ser opcional não pode de maneira nenhuma violar o código de convivência da universidade”, opinou Tânia Montoro, professora de Comunicação e Gênero da UnB.
Juramento
Os novos alunos de agronomia são obrigados a fazer o juramento:
“Eu, calouro burro, muito burro mesmo, mais burro que o Juliano, prometo respeitar, obedecer e amar os meus veteranos. Não dar em cima de nenhuma caloura. Não vencer os campeonatos de futebol. Assinar a chamada para meus veteranos. Fornecer as minhas colegas de semestre (irmã, prima, amiga) para meus veteranos. Para as calouras: não diminuir o p. dos veteranos. Não brigar nos eventos. Não ficar barriguda e careca”
Discussão sobre o Cespe vai continuar
» O Conselho Universitário (Consuni) da UnB se reuniu ontem à tarde com o reitor da instituição acadêmica, José Geraldo de Sousa Júnior, para discutir sobre a reestruturação do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), responsável por um quinto do orçamento da universidade. No final do evento, José Geraldo decidiu levar adiante a discussão sobre qual será o futuro do centro para a próxima sexta-feira, com a presença dos corpos docente e técnico da UnB. Até o fim de fevereiro, José Geraldo espera ter a decisão sobre o assunto. O assunto ganhou relevância após o Tribunal de Contas da União (TCU) questionar sobre a forma de remuneração que o Cespe - cujo faturamento apenas para esse ano deve chegar a R$ 260 milhões - utilizava para pagar os cerca de 500 trabalhadores contratados para os serviços do centro. O Ministério da Educação (MEC), por sua vez, pretende transformar o Cespe em uma instituição do governo.
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