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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Da luta pelo passe-livre à vice-presidência da UNE: conheça Jessy Dayane

Sergipana estudante de Direito é a segunda das três mulheres à frente da entidade pelos próximos dois anos
por Cristiane Tada.Foi na luta contra o aumento da tarifa de ônibus em Aracaju (SE) há uns 10 anos quando ainda era aluna da Colégio de Aplicação que a vice-presidenta da UNE, Jessy Dayane, eleita no 55º Conune foi descobrir o que era o movimento estudantil. “Como o Colégio ficava dentro do Universidade Federal de Sergipe (UFS) a gente tinha muita relação com o movimento estudantil universitário, desde sempre tínhamos contato com as mobilizações”.
A porta de entrada no movimento estudantil se deu concretamente por questões econômicas. “A minha conquista foi pela barriga”, brinca. Foi quando ela entendeu que se tivesse passe-livre, não precisaria “gazear” aula e sobraria mais dinheiro para o lanche.
Dali para presidenta do DCE da UFS, quando cursava Serviço Social na única universidade federal do Estado parece que o tempo correu. Um cargo de muita responsabilidade, uma vez que a política estudantil do Estado foi forjada de acordo com o movimento da UFS.
Em 2014 como presidenta do DCE da UFS
Era o ano 2014, uma agenda de lutas intensas, um ano que para ela foi muito representativo. “Foi aquele ano ímpar, pós 2013 das manifestações de Junho e o ano eleitoral que foi bem polarizado, além do Plebiscito pela Constituinte. Tivemos que lidar com o que as ruas apresentaram e também lidar com a direita surgindo dentro da universidade”, relembra.
Jessy hoje é mãe de Gabriel de 6 anos, mora em São Paulo e estuda de Direito da FMU
A vice-presidenta da UNE marcou a plenária no último dia do Conune com um discurso forte de unidade entre as forças do movimento estudantil. Com o microfone na mão ela também cantou desinibidamente para mais de dez mil estudantes presentes no Mineirinho, em Belo Horizonte.
“Tento sempre usar na fala ou música ou poesia, outra forma de linguagem que tente lidar com outras percepções. Eu acho que a política tradicional se apropria pouco dessas outras formas, se prende a fala”.
A desenvoltura vem da trajetória artística de quem já foi do circo, da dança e do samba.

AGROECOLOGIA

Na universidade ela também conheceu a agroecologia por meio de um grupo de extensão interdisciplinar, onde se debatia um outro modelo de produção agrícola e produção da vida, uma relação humana no campo, contra agrotóxicos, mais saudável. A proximidade com a agroecologia trouxe a aproximação com o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
“Essa relação marcou o resto da minha militância, minha atuação no movimento estudantil nunca foi desvinculada da luta da classe trabalhadora, dos movimentos do campo, urbano e sindical, em especial a CUT, nunca foi exclusivamente estudantil. Essa relação com a classe trabalhadora para além dos estudantes é tão importante quanto a dentro da universidade”
Para ela essa é uma das marcas na formação que diferencia sua atuação política.
“Diferencia no entendimento do quanto a luta é importante na escola mesmo que eu não esteja mais na escola, quanto no campo mesmo que eu nunca tenha morado no campo, como a luta dos sem teto mesmo que eu tenha casa”.

AS MULHERES NO PODER: UMA GESTÃO DE 3 NORDESTINAS

Para Jessy, se hoje temos um avanço das mulheres dentro do movimento estudantil 2014 foi fundamental, o momento desse debate, quando os movimentos organizados reivindicaram a popularização e democratização com mais juventude, negros, mulheres e LGBTs na política.
Ela destaca o Plebiscito pela Constituinte – consulta popular para eleger representantes legais exclusivamente para modificar regras da nossa política, Congresso e Judiciário pela força popular – como central para refletir na esquerda toda a participação das mulheres na política.
“O nosso envolvimento para chegar até a mesa diretora da UNE tem mais responsáveis como a democratização e a entrada de mais mulheres na universidade, a ampliação do número de vagas que possibilitou mais mulheres no ME. Ainda que isso não signifique diretamente mais mulheres nos postos de direção”.
E completou: “A gente passar a assumir a direção dos espaços foi a partir de 2014 que além da Constituinte talvez também tenha relação com uma presidenta mulher no país que refletiu para dentro das organizações, nos partidos de esquerda, nos movimentos, nas entidades e chegamos a esse momento de ter 3 mulheres, duas negras na direção da UNE, que já se repetiu do fim da gestão passada.”
Para a sergipana as regiões do país tem características na formação e influenciam na atuação política. “Acho que sempre tivemos a característica da resistência, é a cara do Nordeste e das mulheres que historicamente tiveram que lutar muito para conquistar algum espaço, acho que temos aquela coisa de assumir ao máximo o compromisso para que se corresponda as expectativas que os estudantes tem, essa marca de resistência e esforço, porque essa é a marca da nossa vida. Temos que levar isso para a gestão”.
Jessy destaca que a política para o povo brasileiro sempre foi muito distante e sempre foi delegada. “Eu queria que as pessoas me olhassem e sentissem um estímulo a organização coletiva. Esse era o esforço que eu queria que nessa gestão a gente pudesse marcar os estudantes”.
Com o filho Gabriel, de 6 anos
UNE

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