Peemedebistas do ministério de Dilma definem como legítima a chantagem por cargos no segundo escalão com ênfase na sucessão da Casa. Petistas buscam "antídotos" para garantir a recondução de Marco Maia
Denise Rothenburg
Tiago Pariz
Ivan Iunes
Publicação: 07/01/2011 08:00 Atualização: Correio Braziliense
O PMDB deixou claro ontem que a disputa pela Presidência da Câmara será moeda de troca importante na briga pelo preenchimento de cargos no segundo escalão do governo de Dilma Rousseff. “Há um problema político-parlamentar. E você não resolve problema político com pressões na área econômica. Resolve-se com pressões na área política. É legítimo que se coloque a eleição para a Câmara, e não o salário mínimo, que é questão econômica”. Com essa frase, dita ontem ao Correio pelo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Wellington Moreira Franco, o PMDB jogou de vez a candidatura de Marco Maia (PT-RS) no centro da crise entre os dois partidos por espaço no governo federal e na mesa de negociações dos postos em litígio.
O objetivo central do discurso de Moreira é tentar separar a economia da política e não deixar que se criem problemas num ano que requer cuidados nessa área, até para que o PMDB não seja depois acusado de apostar contra o governo que ajudou a eleger.
Na teoria, a lógica parece correta, mas, na prática, os peemedebistas do Congresso trabalham em uma frente distinta, tentando, entre outras ações, forçar a briga pela aprovação de um salário mínimo maior que os R$ 540 sugeridos pelo governo no Orçamento da União. Tudo com o objetivo de ampliar o poder de barganha por cargos. (leia mais na página 3).
A tese, contudo, encontra respaldo em parte do Executivo. Há quem entenda que, entre a economia e Marco Maia, o melhor é preservar a economia. “O Executivo não se envolverá na eleição da Câmara. Quando eu era deputado, não ligava para o governo para votar e não é agora que vou dar palpites”, diz o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, filiado ao PT.
Por enquanto, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), pré-candidato a presidente da Câmara daqui a dois anos, conforme pré-acordo assinado com o PT, evita misturar abertamente as duas estações para não dar ao PT a chance de romper a “promissória”. Mas há no PMDB quem não acredite que o PT vá cumprir esse acordo e que defenda desde já o lançamento de um peemedebista contra Maia.
Remédio
Diante das incertezas, a ala política do Planalto escalou cinco personagens para esfriar a insatisfação do partido aliado e, ao mesmo tempo, garantir a eleição de Marco Maia (PT-RS) na Câmara. O próprio Maia foi aconselhado a consolidar a candidatura nos demais partidos da base aliada, mas sem colocar na mesa de negociações propostas que provoquem impacto orçamentário, leia-se emendas ao Orçamento e projetos de lei que representem acréscimo de despesa ao caixa da União.Há dois dias, o deputado gaúcho foi a São Paulo conversar com o PDT e o presidente do PR, o deputado federal Valdemar da Costa Neto (SP). Ouviu das legendas que o apoio à proporcionalidade na eleição estava garantido, desde que respeitadas as reivindicações. A primeira delas é um reajuste maior para o salário mínimo. PDT e PR querem também mais espaço na composição da Mesa Diretora e Comissões, principalmente nas comissões especiais.
Desistência
Outro personagem acionado foi o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. O ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, pediu ao colega de governo, presidente do PR, que procure o deputado Sandro Mabel (PR-GO) e o convença a desistir de concorrer à Presidência da Casa. Mabel é o único que se apresentou formalmente aos colegas. Aldo Rebelo (PCdoB-SP) continua atuando nos bastidores. No fim do mês, terá um café da manhã com a bancada do PMDB mineiro, que se movimenta em busca de cargos. O PMDB deseja permanecer no comando da Fundação Nacional de Saúde e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Enquanto isso, da parte do Poder Executivo, a presidente Dilma Rousseff participou de almoço com Luiz Sérgio e também com os ministros da Casa Civil, Antônio Palocci; das Comunicações, Paulo Bernardo, além do presidente do PT, José Eduardo Dutra. Ali, ordenou que atuem no sentido de pacificar PMDB e PT (veja quadro).
Rede de intrigas
Há cerca de um mês, PT e PMDB fecharam um acordo no qual os peemedebistas apoiariam agora o candidato petista à Presidência da Câmara e, daqui a dois anos, o PT apoiaria o nome do PMDB, no caso Henrique Eduardo Alves. Ocorre que os peemedebistas hoje não acreditam que o PT vá cumprir esse acerto e, por isso, um grupo do partido deseja que o PMDB busque um candidato alternativo já.
Temer e os panos quentes
» Vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) voltou ontem a bater na tecla da governabilidade e das boas relações com os petistas. Nesse tom, reforçou que o acordo de partilha da Presidência da Câmara, com o PT elegendo Marco Maia agora e o PMDB ocupando a função daqui a dois anos, continua valendo. “Vale o documento, o compromisso firmado”, resumiu. Sobre o impasse em torno do mínimo, afirmou não haver amarras. “Não há desgaste algum, posso dizer tranquilamente que não há desgaste.”
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