Criada através de um projeto de lei, aprovado por unanimidade no Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA, representava um avanço e um marco dentro de um continente que caminhava para o fortalecimento da integração entre os países da região. E não a toa foi instalada em uma cidade com forte característica de integração, a cidade brasileira de Foz de Iguaçu, que faz fronteira com a Argentina e o Paraguai.
Atualmente a UNILA conta com 29 cursos de graduação e 11 cursos de pós-graduação, frequentados por estudantes de 19 países da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela).
Como decorrência do processo que o país, e o continente, atravessam de forte ataque conservador e neoliberal, o projeto de integração passa também a ser alvo da direita latino-americana. Esse avanço sobre a soberania do continente, neste caso simbolizada pelo ataque à UNILA, vem em forma de uma emenda aditiva à MP 785/17 proposta pelo Deputado Federal Sérgio Souza (PMDB/PR), parlamentar que teve seu nome envolvido no escândalo investigado pela operação “Carne Fraca”.
A proposta seria a criação da UFOPR (Universidade Federal do Oeste do Paraná) e, por consequência, a extinção da Universidade Federal da Integração Latinoamericana. Na opinião da uruguaia Besna Yacovenco, que atualmente cursa o mestrado na UNILA, a emenda que “fere a educação, além de desconstruir direitos conquistados pelos estudantes, fere a autonomia de duas universidades, a própria UNILA, e a Federal do Paraná”. Besna explica que no caso da Federal a emenda propõe a retirada de dois campus para a criação da nova universidade “e para a criação dessa nova universidade seria necessário também extinguir a UNILA, evidentemente a gente tem aqui um ataque por parte de um setor da sociedade, dos empresários, à UNILA, porque estão propondo destruir um projeto de Estado que foi aprovado no Congresso Nacional por unanimidade”.
O ataque à UNILA não acontece de forma isolada, estamos assistindo a um verdadeiro pacote de ações que atentam contra a educação superior do país, tivemos recentemente o fim da destinação de 50% dos recursos do Fundo Social e de 75% dos royalties do petróleo para a educação, o fim do programa Ciências Sem Fronteira, a retirada de 25% do orçamento federal da educação através do retorno da DRU – Desvinculação de Receitas da União e a própria MP 785/17, que prevê o desmonte do FIES.
Ainda de acordo com Besna, a proposta é que no lugar da UNILA, “seja criada uma nova Universidade, que atenda exclusivamente os interesses do capital privado, o interesse dos empresários do agronegócio do Oeste do Paraná”, e continua, “evidentemente a visão que esse senhor tem de Universidade é restrita porque a Universidade tem que criar conhecimento e tecnologias para o conjunto da sociedade, não só para um setor privilegiado da sociedade”. Para Talita Monção, também estudante da Universidade, “a UNILA é única no que concerne ao cerne de sua proposta, visto que é a produção do conhecimento científico latino-americano a partir do ponto de vista dos próprios latino-americanos e não mais do colonizador, isso a coloca numa dimensão emancipatória gigante. A UNILA é um sonho com capacidade de realizar vários outros sonhos, inclusive o de transformar a América Latina”.
Em declaração exclusiva para o site da UJS, o Reitor da UNILA, professor Gustavo Vieira, declarou que “em primeiro lugar o processo civilizatório marcha em direção da integração e está em cheque o papel que o Brasil quer desempenhar na integração latino-americana, que não se faz só com documentos assinados em papel, ou comércio internacional, também se faz com saberes, também se faz com integração de povos. A UNILA é um exemplo e uma inovação universitária nesse sentido. Não está apenas em cheque o interesse em uma perspectiva latino-americana e solidária, que evidentemente é o grande núcleo desse projeto, mas o próprio papel do Brasil e da região, então o entendimento que uma Universidade Federal sem esse caráter, desempenharia um melhor papel para o desenvolvimento regional nos parece claramente equivocado”. E para finalizar o Reitor apontou que para o desmonte da UNILA ser evitado seria necessário a “sociedade se manifestar e é isso que nós estamos tentando fazer com a petição pública que está no site da UNILA (aqui), nós já passamos de 12 mil assinaturas e todo apoio é bem vindo”.
Por Thiago Cassis
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