Diretoria da UBES explica quais causas movem a entidade 69 anos depois da sua fundação.
Neste mês, a organização dos estudantes secundaristas faz aniversário. Desde 25 de julho de 1948, quando a UBES foi oficialmente fundada, foram muitas histórias, lutas e conquistas. (Veja mais) Passados 69 anos, ainda há muito por fazer. A diretoria da UBES explica quais os ideais, bandeiras e posicionamentos que movem a entidade em 2017.
Quem quiser fazer parte destas batalhas, lembre-se: em setembro as lideranças estudantis de todo o brasil reúnem-se no Coneg. As diretrizes são construídas democraticamente em espaços como estes, encontros de grêmios, conselhos e congressos. Monte seu grêmio, participe!
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1) POR ELEIÇÕES DIRETAS
Em reunião da executiva, a UBES definiu dedicação total à luta pelas diretas. A presidenta Camila Lanes explica que fica cada vez mais claro que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi um golpe que resultou em medidas ruins para a população, como cortes de direitos e em recursos para educação. “Temos um presidente da república investigados, nós temos provas, a única saída democrática é promover novas eleições e estaremos cada vez mais ocupando as ruas para isso”, explica ela.
“A luta por democracia faz parte da história dos secundaristas. Queremos eleições diretas porque continuamos do lado certo da história.”
Camila Lanes, presidenta
2) PELO VOTO AOS 16
“É importante que o jovem esteja cada vez mais inserido na política para que possa transformar a realidade”, diz Jan Victor, vice-presidente da UBES. A participação política desde os 16 anos já é uma conquista dos estudantes dos anos 1980, na mesma época em que a juventude lutou por eleições diretas pela primeira vez.
De tempos em tempos, a UBES recupera a campanha para que os jovens aproveitem este direito, façam o título de eleitor e participem da democracia antes dos 18 anos. Mais uma vez, a campanha “Se Liga, 16”, volta à ativa.
“Além de um exercício de cidadania, o voto aos 16 anos aproxima a juventude da política como espaço para mudar a realidade.”
Jan Victor, vice-presidente
3) CONTRA AS REFORMAS TRABALHISTA E DA PREVIDÊNCIA
A UBES tem convicção que as reformas interessam aos empresários, rentistas e banqueiros, não à população, que irá demorar mais tempo a se aposentar, com a reforma da Previdência, e ficará vulnerável à insegurança, com a trabalhista. Para a diretora de Movimentos Sociais Jéssica Lawane, a juventude é quem mais seria prejudicada pelas mudanças.
“Além de reivindicar pela educação, precisamos entender o que acontece em Brasília. As medidas têm impacto direto na juventude.”
Jéssica Lawane, diretora de Movimentos Sociais
4) PELO GRÊMIO LIVRE
Desde 1985, uma lei dá o direito aos estudantes de se organizar em grêmios, para melhorar a vida dos estudantes no ambiente de ensino. O diretor de Grêmios Danilo Ramos explica que, ao ouvir os colegas e reivindicar com a direção, os jovens acabam aprendendo também a fazer política. O papel da UBES é incentivar e auxiliar na criação dos grupos em cada vez mais escolas.
“O grêmio pode melhorar tanto a escola quanto a comunidade no entorno. E é onde começa a vida política do estudante.”
Danilo Ramos, diretor de Grêmios
5) POR EDUCAÇÃO HUMANA E DEMOCRÁTICA
Diretor de Políticas Educacionais, Guilherme Barbosa tem uma cadeira no Fórum Brasileiro de Educação. Mas a UBES decidiu este mês esvaziar o fórum, depois do MEC golpista ter excluído do grupo diversos grupos críticos ao governo. Agora, constrói o Fórum Nacional Popular de Educação. O objetivo? Pensar propostas para uma educação pública que forme de maneira integral.
Guilherme explica: “Não queremos uma educação enxugada, só para demandas do mercado, em que o ensino técnico tome lugar de matérias como sociologia e filosofia”. Por isso, ele se preocupa com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) que o governo precisa apresentar para o Ensino Médio. E discorda do projeto de reforma do Ensino Médio, já aprovado, em que o estudante terá que escolher o ensino profissional ou outras disciplinas. “Muitos podem escolher ensino profissionalizante por necessidades materiais e vão ter que abrir mão de uma formação mais humana, é o contrário do que desejamos.”
“Não queremos uma educação minimizante, que forma o jovem apenas para o mercado. Lutamos por uma educação integral.”
Guilherme Barbosa, diretor de Políticas Educacionais
6) EM DEFESA DOS INSTITUTOS FEDERAIS
Se a reforma do Ensino Médio oferecerá um curso técnico isolado de uma formação social e humana, os Institutos Federais são defendidos como uma proposta mais completa. Mas é grave a ameaça que sofrem com cortes no orçamento do Ministério da Educação, o que só vai piorar com o congelamento da verba, alerta Gloria Silva, diretora de Escolas Técnicas: “A gente sabe o quanto os IFs já colaboraram para incluir a juventude na educação e no mercado de trabalho, mas vê também como estão precarizados”.
“Os cortes nos institutos federais mostram a falta de compromisso deste governo com a educação. Alguns podem até fechar as portas.”
Glória Silva, diretora de Escolas Técnicas
7) CONTRA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Para Juliene Silva, encarcerar jovens com menos de 18 anos não será útil para resolver os problemas de violência no País, e sim para aumentá-los. “Vivemos numa realidade muito desigual. Quando a gente fala de jovem no crime, estamos falando de um jovem que não teve uma série de oportunidades, que foi marginalizado, normalmente negro, exposto a um ambiente opressor e que provavelmente não encontrou outra saída. Não será jogado na cadeia, com presos reincidentes, que encontrará”, explica a secretária geral da UBES.
“Reduzir a maioridade penal não ajuda a quebrar o ciclo de violência e sim o perpetua. Não faz sentido jogar a juventude em presídios.”
Juliene da Silva, secretária geral
8) PELA DESMILITARIZAÇÃO
Metade dos brasileiros tem medo de sofrer violência por parte da polícia, segundo pesquisa Datafolha divulgada este mês. É por estas e por outras que a UBES defende o fim desta herança da Ditadura Militar. Mas não, não é o fim da polícia. “Há um debate raso sobre isso. Não queremos o fim da polícia ou que ela não tenha armas, mas sim que seja uma instituição mais humana e mais questionadora, que também possa se organizar em sindicatos, organizar assembleias, e que dialogue mais com a população”, explica o 1º secretário da UBES Rafael Araújo.
“Desmilitarizar não é tirar armas, é dar caráter mais humano e questionador. Hoje não temos isso nem na polícia, nem na escola.”
Rafael Araújo, 1º secretário
9) COMBATE AO MACHISMO
“O machismo está sendo confrontado todos os dias.” Quem diz é Brisa Bracchi, diretora de Mulheres da UBES. Ela diz que muitas escolas já têm coletivos organizados e aconselha que se organize mais, unindo colegas e interessadas que queiram discutir as questões de dentro e de fora da escola: “O principal é isso. Saber que a gente não está sozinha. Porque combater o machismo sozinha é muito cruel. É muito mais fácil quando estamos organizadas”.
Segundo Brisa, o ambiente escolar reflete a sociedade e, por isso, o machismo é reproduzido muitas vezes pelos estudantes e pelos próprios professores, que fazem piadas e às vezes esperam que as garotas sejam menos inteligentes.
“O primeiro passo para combater o machismo é a gente se organizar. Nas escolas, limitamos práticas machistas todos os dias.”
Brisa Bracchi, diretora de Mulheres
10) COMBATE À HOMOFOBIA
Recentemente, diretrizes para a educação que falam em “identidade de gênero” ou “orientação sexual” foram excluídas de planos e relatórios, como no caso da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Fundamental. Para Fabíola Loguercio, diretora da UBES, não faz sentido que o Ministério da Educação ceda a pressões para excluir o assunto das salas de aulas: “A gente precisa fazer com que se fale na escola, cada vez mais, dos problemas que a gente vive no dia a dia. E a gente enfrenta problemas de machismo e homofobia todos os dias”.
“A escola precisa ser espaço para falar sobre homofobia e machismo. Só reconhecendo problemas podemos transformar a sociedade.”
Fabíola Loguercio, diretora de Comunicação
11) COMBATE AO RACISMO
A UBES acredita que colocar a história e a cultura africana em pé de igualdade com a de outras partes do mundo significa empoderar estudantes negros sobre sua identidade e combater preconceitos da sociedade. Apesar de uma lei já estabelecer isto, o ensino ainda não é realidade nas escolas. Será necessário atenção a isto na nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC)
“Precisamos trazer a cultura africana, uma riqueza do Brasil, para a sala de aula e para o cotidiano.”
Fabrícia Barbosa, diretora de Escolas Públicas
12) PELA UNIÃO DA AMÉRICA LATINA
Não é só do Brasil a crise política, econômica e institucional. Jairo Marques analisa que, depois de uma fase de governos democráticos e soberanos, muitos países latinos enfrentam dificuldades parecidas: “O imperialismo americano atua na América Latina para que voltemos a ser dependentes, em vez de criar outras alternativas”.
Jairo é diretor de Relações Internacionais na UBES e participa da OCLAE, Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes, espaço de articulação de estudantes latinos. O segundo encontro latino de estudantes vai acontecer em outubro, na Colômbia (saiba mais).
“A América Latina tem lutas distintas em cada país, mas com o mesmo ideal: uma educação pública que emancipe nosso povo”
Jairo Marques, diretor de Relações Internacionais
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